O reino celestial e o reino terreno
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janeiro 10, 2025A entrada ao reino
Nota do editor: Este é o sexto de 14 capítulos da série da revista Tabletalk: Instruções para viver no reino: o Sermão do Monte.
Grande parte do Sermão do Monte é o ensinamento de Jesus sobre a vida no reino. Isto inclui ensinamentos éticos explícitos e específicos. O ensino ético específico termina mais ou menos com a Regra de Ouro em Mateus 7:12. Desse ponto até o final do sermão (Mt 7:13-27), Jesus faz quatro memoráveis comentários em nível de parágrafo. Cada um dos quatro impõe ao leitor a necessidade de considerar seriamente se ele de fato acredita no Rei do reino de Deus.
Esses quatro comentários apresentam uma grande escolha: ou se está no reino ou não. Sim, existem muitas situações na vida em que a realidade é um espectro de diferentes tonalidades de cinza. Porém neste caso, não há nuances nem uma terceira opção. Só existe viver para o Deus triúno ou não.
O primeiro comentário memorável contrasta os caminhos apertados e espaçosos (Mt 7:13-14). O crente genuíno entra no reino pela porta estreita e continua até seu lar definitivo pelo caminho apertado. A largura reduzida do portão e do caminho dificulta a viagem. No nível da metáfora, viajar com uma quantidade importante de pertences e bagagens no caminho apertado implica esbarrar em paredes e cercas vivas. Ao nível da realidade, Jesus observa que o caminho do reino de Deus tem dificuldades. Por exemplo, como Jesus havia dito antes, aqueles que estão no caminho apertado podem ser injuriados e perseguidos por acreditar em Jesus (Mt 5:11). Em geral, não haverá multidões aglomerando-se no caminho apertado. “Porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela” (Mt 7:14).
Por outro lado, no nível da metáfora, o portão e o caminho espaçosos facilitam a viagem. Alguém pode levar muita bagagem e não há problema. Na verdade, embora haja muitos nesse caminho, ele é tão largo que não haverá congestionamento ou esbarrões nas bagagens dos outros. No nível da realidade, Jesus está observando que há aqueles que não depositam verdadeiramente a sua fé nEle. No curto prazo, esta é a escolha fácil que muitos fazem, só que no fim, resulta em consequências terríveis. “Larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela” ( Mt 7:13).
Segundo, Jesus revela uma dificuldade para os que estão no reino (Mt 7:15-20). Serão atacados por falsos profetas. Na verdade, esses falsos profetas parecerão ser membros do reino. Porém, de fato, serão lobos disfarçados em ovelhas. Jesus considera que seus “frutos” de maus ensinos e ações egoístas acabarão por exibir quem realmente são. Ele usa metáforas agrícolas para defender seu ponto de vista. As uvas não se colhem dos espinheiros e os figos não se colhem dos abrolhos. Os bons frutos vêm de árvores saudáveis, não de árvores doentes. Frutos maus vêm de árvores doentes, não de árvores saudáveis. No final, “toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo” (Mt 7:19).
Embora o assunto trate de falsos profetas, Jesus também insiste sutilmente que todos os verdadeiros membros do reino produzirão bons “frutos” (ver Lc 6:43-45). Eles acreditarão e agirão de maneira adequada. A característica de um falso profeta e a característica de um falso membro do reino é a mesma. Sim, os verdadeiros crentes pecam, no entanto, em geral, as suas vidas devem ser caracterizadas por uma fé autêntica e pelas boas obras. Assim como a característica de um falso profeta e a característica de um falso membro é igual, também o seu destino final é o mesmo: “Cortad[o] e lançad[o] ao fogo”. Não confiar em Jesus tem consequências importantes.
Em terceiro lugar, em Mateus 7:21–23, Jesus fala daqueles que não acreditam de fato nEle. No juízo, podem dizer: “Senhor, Senhor!”, e indicar as obras que supostamente fizeram para Deus. Infelizmente, ouvirão as impactantes palavras: “nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade” (Mt 7:23). No juízo, haverá apenas dois grupos: aqueles que estão com o Senhor e aqueles que se afastaram dEle.
Jesus está ciente de que aqueles que o ouvem na situação histórica e depois leem este texto são um grupo misto. A maioria se considera crentes genuínos. Porém, na verdade muitos não o são. Jesus formulou Seu comentário para fazer com que cada um reflexione se de verdade acredita nEle e se sua vida reflete essa realidade. Quem entrará no reino dos céus? “Aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7:21).
Alguns não levarão a sério o argumento de Jesus: frequentam a igreja ou são “espirituais”, e isso é suficiente para eles. Outros darão importância a este comentário. Alguns, após se reavaliarem, pela primeira vez acreditarão de verdade. Para quem já é crente, é sempre apropriado se examinar para confirmar seu chamado e eleição (2 Pe 1:10).
O quarto e último comentário de Jesus é muito conhecido (Mt 7:24-27). Tenho boas lembranças disso dos meus dias de escola dominical e escola bíblica de férias na infância. João Calvino também ficou impressionado com isso. Ele o destacou ao descrevê-lo, de forma um tanto modesta, como “uma analogia interessante”.
Jesus começa declarando que uma pessoa do reino é aquela “que ouve estas minhas palavras e as pratica” (Mt 7:24). Esta é uma pessoa prudente. Uma pessoa tola pode ouvir as palavras de Jesus, mas não acreditar ou obedecer verdadeiramente a elas. No entanto, o que é memorável é a metáfora de Jesus para comparar os dois. O sábio edifica a sua casa sobre a rocha. Chuva, inundações e vento vêm contra ela. “Não caiu, porque fora edificada sobre a rocha” (Mt 7:25). O homem insensato edifica sua casa na areia. A mesma chuva, inundações e vento vêm contra ela, só que neste caso, a casa caiu, e grande foi “a sua ruína” (Mt 7:27). Outra vez, duas opções. Edificar sobre a rocha ou na areia: isto é, confiar em Jesus ou não. Observe que Jesus termina o Sermão do Monte com a casa edificada na areia, e ainda enfatiza a ruína desta escolha: grande foi “a sua ruína”.
De forma intrigante e maravilhosa para aqueles que têm ouvidos para ouvir, Jesus refere-se a Si mesmo em todos os quatro comentários. Ele é o caminho apertado nos vv. 13-14. “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida” (Jo 14:6).
Em Mt 7:15-20, Jesus alerta contra os falsos profetas, e Ele faz isso como o verdadeiro Profeta. Isso fica evidente um pouco mais adiante na metáfora da rocha/areia. Se a vida de uma pessoa está edificada sobre a rocha ou sobre a areia, depende se ela ouve “[Suas] palavras e as pratica” (Mt 7:24). Além do mais, Jesus não é um lobo, mas o verdadeiro pastor que se preocupa com as ovelhas: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (Jo 10:27).
Jesus refere-se a Si mesmo como “Senhor” e Juiz em Mt 7:21-23. Além disso, Ele chama Deus de “meu Pai”, o que implica que Ele é o Filho unigênito. Mais tarde, Jesus afirma sobre Si mesmo e o juízo: “Quando vier o Filho do Homem na sua majestade […] e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas” (Mt 25:31-32).
Por último, em Mateus 7:24-27, além de ser o Profeta como mencionado acima, Jesus é a Pedra fundacional: “E a pedra [é] Cristo” (1 Co 10:4). “Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Co 3:11). Observe que Jesus termina com Ele mesmo como o fundamento. É preciso acreditar neste fundamento. Todas as nossas obras que são evidências de estarmos no reino são, em última análise, apenas por causa da graça do fundamento, a Pedra, o Senhor Jesus Cristo.
Sim, num certo sentido, existem muitas opções religiosas, não apenas duas. Porém, num sentido mais verdadeiro, existem apenas duas opções: escolher seguir a Cristo e escolher não segui-lo. A escolha de não seguir a Cristo tem muitos subconjuntos, mas todos acabam se resumindo a uma opção que é oposta a Cristo. Jesus declara que só existe o caminho apertado ou o caminho espaçoso; só existe uma árvore boa com bons frutos ou uma árvore má com frutos maus; há apenas aqueles que estarão com Ele ou aqueles que se afastaram de Sua presença; por fim, só há quem edifica na rocha ou na areia. Duas opções: seguir a Cristo ou não.
Este artigo foi publicado originalmente na TableTalk Magazine.