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4 implicações da teologia de Martinho Lutero

Nota do Editor: Este é o quinto de 16 capítulos da série da revista Tabletalk: Artigos selecionados Ligonier.

O que a soberania de Deus, salvação pela graça, justificação pela fé e a vida nova em união à Cristo significa para a vida cristã? Para Martinho Lutero, isso tem quatro implicações:

1. O cristão é justificado e ainda assim é um pecador

A primeira implicação é o conhecimento de que o crente é simul iustus et peccator, ao mesmo tempo justificado e ao mesmo tempo pecador. Este princípio, o qual Lutero pode ter sido estimulado pela Theologia Germanica de John Tauler, foi imensamente estabilizador: em mim e por mim mesmo tudo o que vejo é um pecador; mas quando me vejo em Cristo, vejo um homem contado como justo com a perfeita justiça de Cristo. Portanto, tal homem é capaz de estar diante de Deus tão justo quanto Jesus Cristo, porque ele é justo apenas na justiça que é de Cristo. Aqui estamos seguros.

2. Deus se tornou nosso Pai em Cristo

A segunda implicação dessa descoberta é que Deus se tornou nosso Pai em Cristo. Somos aceitos. Um dos relatos mais belos encontrados em Conversas à mesa de Lutero é, talvez significativamente, registrado pelo um tanto melancólico, contudo muito amado, John Schlaginhaufen:

Deus deve ser muito mais afável comigo e falar comigo de maneira mais amigável do que a minha Katy ao pequeno Martin. Nem a Katy nem eu poderíamos intencionalmente arrancar o olho ou cortar a cabeça de nosso filho. Nem Deus. Deus deve ter paciência conosco. Ele deu evidência disso e, portanto, enviou Seu Filho em carne para que o busquemos para o nosso bem.

3. Toda a vida cristã será uma cruz

Terceiro, Lutero enfatiza que a vida em Cristo é necessariamente uma vida debaixo da cruz. Se estivermos unidos a Cristo, nossas vidas serão modeladas a partir da vida dEle. O caminho tanto para a verdadeira igreja quanto para o verdadeiro cristão não é por meio da teologia da glória (theologia gloriae), mas por meio da teologia da cruz (theologia crucis). Isso nos impacta internamente a medida em que morremos para nós mesmos e externamente a medida em que compartilhamos os sofrimentos da igreja. A teologia medieval da glória deve ser superada pela teologia da cruz. De todas as suas diferenças em entender a natureza exata dos sacramentos, Lutero e Calvino concordam neste ponto. Se estamos unidos à Cristo em Sua morte e ressurreição e marcados assim pelo nosso batismo (como Paulo ensina em Rm 6:1-14), então toda a vida cristã será suportar a cruz:

A cruz de Cristo não representa um pedaço de madeira que Cristo carregou sobre Seus ombros e ao qual Ele foi pregado posteriormente, mas, em termos comuns, representa todas as aflições do fiel, cujos sofrimentos são os de Cristo, 2 Co 1:5: “Os sofrimentos de Cristo se manifestam em grande medida a nosso favor; novamente: “Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja” (Cl 1:24). Portanto, a cruz de Cristo representa todas as aflições que a igreja sofreu por Cristo.

A união do crente à Cristo em Sua morte e ressurreição e a expressão dessa obra na experiência diária se tornou então, para Lutero, nas lentes através do qual o cristão aprende a enxergar cada experiência na vida. Isso, a theologia crucis, é o que torna tudo mais nítido e nos permite entender os altos e baixos da vida cristã:

É útil para nós sabermos dessas coisas, para que não sejamos engolidos por tristeza ou caiamos em desespero quando vermos que nossos adversários nos perseguem, excomungam e matam cruelmente. Mas reflitamos, com o exemplo de Paulo, que devemos nos gloriar na cruz que carregamos, não pelos nossos pecados, mas por causa de Cristo. Se considerarmos apenas em nós mesmos os sofrimentos que suportamos, não são apenas graves, mas intoleráveis; mas quando podemos dizer: “Os sofrimentos de Cristo se manifestam em grande medida a nosso favor”; ou como é dito no Salmo 44: “Mas, por amor de ti, somos entregues à morte continuamente”, de modo que esses sofrimentos não são apenas suaves, mas também doces, de acordo com a seguinte afirmação: “O meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mt 11:30).

4. A vida cristã é marcada por segurança e alegria

Quarto, a vida cristã é marcada por segurança e alegria. Esta foi uma das marcas da Reforma e podemos entender o porquê. A redescoberta sobre a justificação pelos reformadores — que ao invés de trabalhar com esperança para alcançá-la a vida cristã realmente começa com ela — trouxe uma liberação esplêndida, que enche a mente, vontade e afeições com alegria. Isso significava que um indivíduo podia agora começar a viver a luz de um futuro já determinado em glória. Inevitavelmente, essa luz refletia de volta na vida presente, com alívio e libertação intensos.

Para Lutero, a vida cristã é uma vida fundada, edificada e engrandecida pelo evangelho, que revela a livre e soberana graça de Deus e é vivida em gratidão ao Salvador que morreu por nós, unidos a Ele em carregar a cruz até que a morte seja tragada pela vitória e a fé se torne visível.

Talvez, em 1522, sentados enquanto escutavam Lutero pregar em um domingo na igreja de Borna, alguns de sua congregação se perguntaram o que se encontrava na essência desse evangelho que havia animado tanto, para não dizer transformado, o irmão Martinho. Isso poderia ser para eles também? Lutero havia lido os seus pensamentos. Ele foi ao púlpito bem preparado para responder a pergunta deles.

O que é o evangelho? É o seguinte, que Deus enviou Seu Filho ao mundo para salvar pecadores, Jo 3:16, e para esmagar o inferno, vencer a morte, remover o pecado e satisfazer a lei. Mas o que você deve fazer? Nada a não ser aceitar isso, olhar para o seu Redentor e crer com firmeza que Ele fez tudo isso para o seu bem e dá tudo livremente como se fosse seu, de forma que nos terrores da morte, pecado e inferno, você pode afirmar com confiança, depender disso com coragem e dizer: Apesar de não cumprir a lei, apesar do pecado ainda estar presente e temer a morte e o inferno, ainda assim pelo evangelho sei que Cristo concedeu a mim todas as Suas obras. Estou seguro de que Ele não mentirá, a Sua promessa Ele certamente cumprirá. E como sinal disso recebi o batismo.

Sobre isso coloco minha confiança. Pois sei que meu Senhor Cristo venceu a morte, o pecado, o inferno e o diabo para o meu bem. Pois Ele era inocente, como Pedro declara: “o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca” 1 Pe 2:22. Portanto, o pecado e a morte não são capazes de matá-lo, o inferno não poderia segurá-lo, Ele se tornou Senhor deles e garantiu isso a todo aquele que aceita e crê nisso. Tudo isso é realizado não pelas minhas obras ou méritos, mas apenas por graça, bondade e misericórdia.

Lutero uma vez afirmou: “Se pudesse crer que Deus não está irado comigo, eu ficaria de ponta-cabeça de tanta alegria”. Talvez no mesmo dia em que alguns ouviram ele pregar responderam e experimentaram a “confiança” sobre a qual ele falou. Quem sabe se alguns dos ouvintes mais jovens escreveram depois cartas aos seus amigos e contaram a eles que haviam ido para casa e ficado de ponta-cabeça de tanta alegria?

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.

Sinclair B. Ferguson
Sinclair B. Ferguson
O Dr. Sinclair B. Ferguson é professor da Fraternidade de Ensino de Ligonier Ministries e professor Chanceler de Teologia Sistemática no Reformed Theological Seminary. Ele é autor de vários livros, incluindo Maturity.