A Reforma e os homens por detrás dela - Ministério Ligonier
O momento da verdade
dezembro 2, 2022
Uma fortaleza pela verdade: Martinho Lutero
dezembro 4, 2022
O momento da verdade
dezembro 2, 2022
Uma fortaleza pela verdade: Martinho Lutero
dezembro 4, 2022

A Reforma e os homens por detrás dela

A Reforma Protestante permanece como a demonstração da graça de Deus de maior alcance e transformação mundial desde o nascimento e a expansão inicial da igreja. Não foi um ato isolado, nem foi liderado por um homem. Esse movimento que mudou a história se desenrolou em diferentes palcos ao longo de muitas décadas. No entanto, seu impacto cumulativo foi enorme. Philip Schaff, um eminente historiador da igreja, escreve: 

A Reforma do século XVI é, depois da introdução do cristianismo, o maior evento da história. Marca o fim da Idade Média e o início dos tempos modernos. Com início a partir da religião, proporcionou — de maneira direta ou indireta — um poderoso impulso a todo movimento subsequente, fez do protestantismo a principal força propulsora da história da civilização moderna. A Reforma foi, em sua essência, uma recuperação do verdadeiro evangelho de Jesus Cristo e tal restauração teve uma influência sem paralelo nas igrejas, nações e no fluxo da civilização ocidental.  

Sob a mão orientadora de Deus, o cenário mundial para a Reforma foi preparada de forma única. A igreja precisava muito de uma reforma. A escuridão espiritual personificava a Igreja católica romana. A Bíblia era um livro fechado. A ignorância espiritual governava as mentes das pessoas. O evangelho foi pervertido. A tradição da igreja superava a verdade divina. A santidade pessoal foi abandonada. O fedor apodrecido das tradições criadas por homens cobria o papa e os padres. A corrupção da impiedade contaminou tanto o dogma quanto a prática.

Por outro lado, um novo dia nascia. Os estados feudais davam lugar aos estados-nação. A exploração marítima estava em expansão. Cristóvão Colombo descobriu o Novo Mundo em 1492. Novas rotas comerciais abriram. Uma classe média crescia. As oportunidades de aprendizado aumentaram. O conhecimento se multiplicava. A invenção da imprensa por Johannes Gutenberg (1454) melhorou muito a disseminação de ideias. Com todas essas influências, o Renascimento estava ao meio-dia. Além disso, uma nova alteração no cenário mundial logo seria introduzida pela Reforma Protestante do século XVI, que trouxe grandes mudanças, especialmente na igreja de Jesus Cristo.

À luz de uma reviravolta tão dramática, algumas perguntas devem ser feitas: Que fatores levaram à Reforma Protestante? Onde ela nasceu? Como surgiu esse poderoso movimento? Por onde se espalhou? Quem foram os principais líderes que alimentaram suas chamas? Quais verdades bíblicas foram desencadeadas no mundo naquele momento? Para começar a responder a essas perguntas, devemos nos concentrar nos gigantes da fé que lideraram a Reforma.

Os reformadores magisteriais

No início do século XVI, Deus começou a levantar uma série de personagens convictos conhecidos na história como reformadores. Houve reformadores anteriores na igreja, mas aqueles que ganharam destaque nesse período foram os líderes reformadores mais bem instruídos, mais piedosos e fiéis que a igreja já vira. Esses homens estavam imersos nas Escrituras e foram marcados por uma coragem audaciosa diante da oposição. Foram encorajados por profundas convicções quanto à verdade e por um amor pela igreja de Cristo que os levaram a tentar trazê-la de volta ao seu padrão atemporal. Em termos mais simples, desejavam ver o povo de Deus o adorando de acordo com as Escrituras. Esses homens foram luzes brilhantes em um dia escuro.

“Os reformadores não se viam como inventores, descobridores ou criadores”, segundo o historiador Stephen Nichols. 

Em vez disso, viram seus esforços como uma redescoberta. Eles não estavam criando algo do zero, mas estavam revivendo o que havia se tornado morto. Eles olharam para a Bíblia e para a era apostólica, bem como para os pais da igreja primitiva, como Agostinho (354-430), para o modelo pelo qual poderiam moldar a igreja e reformá-la. Os reformadores tinham um lema: Ecclesia reformata, semper reformanda, que significa “a igreja reformada, sempre se reformando”.   

Os reformadores magisteriais são chamados assim porque suas reformas foram apoiadas por pelo menos algumas autoridades governamentais — ou magistrados — e porque acreditavam que os magistrados civis deveriam impor a verdadeira fé. Esse termo é usado para distingui-los dos reformadores radicais (anabatistas), cujos esforços não tiveram apoio magisterial. Os reformadores também são chamados de “magisteriais” porque a palavra magister pode significar “mestre” e a Reforma Magisterial enfatizou fortemente a autoridade dos professores.

Somente as Escrituras

Com o tempo, a mensagem dos reformadores ficou encapsulada em cinco slogans conhecidos como os solas da Reforma: sola Scriptura (“somente a Escritura”), solus Christus (“somente Cristo”), sola gratia (“somente a graça”), sola fide (“somente a fé”) e soli Deo gloria (“a glória somente a Deus”). O primeiro deles, Sola Scriptura, foi o ponto de referência do movimento.

Existem apenas três formas possíveis de autoridade espiritual. Primeiro, há a autoridade do Senhor e Sua revelação escrita. Em segundo lugar, há a autoridade da igreja e seus líderes. Terceiro, há a autoridade da razão humana. Quando os reformadores bradaram “somente as Escrituras”, estavam expressando seu compromisso com a autoridade de Deus revelada por meio da Bíblia. James Montgomery Boice declara sobre essa crença central: “Somente a Bíblia é nossa autoridade máxima, não o papa, não a igreja, não as tradições da igreja ou seus concílios, ainda menos sugestões pessoais ou sentimentos subjetivos, mas somente as Escrituras.” A Reforma foi essencialmente uma crise sobre qual autoridade deveria ter primazia. Roma alegou que a autoridade da igreja estava nas Escrituras e na tradição, nas Escrituras e no papa, nas Escrituras e nos concílios da igreja. Mas os reformadores criam que a autoridade pertencia somente às Escrituras.

Schaff escreve:

Enquanto os humanistas voltaram aos clássicos antigos e reviveram o espírito do paganismo grego e romano, os reformadores voltaram às Sagradas Escrituras nas línguas originais e reviveram o espírito do cristianismo apostólico. Eles foram incendiados por um entusiasmo pelo evangelho, como nunca havia sido conhecido desde os dias de Paulo. Cristo ressuscitou do túmulo das tradições humanas e pregou novamente Suas palavras de vida e poder. A Bíblia, até então apenas um livro de sacerdotes, foi agora traduzida de novo e melhor do que nunca para as línguas vernáculas da Europa, tornando-se um livro do povo. Todo homem cristão poderia, dali em diante, ir à fonte da inspiração e sentar-se aos pés do divino Mestre, sem permissão e intervenção sacerdotal.  

A fonte da graça soberana

Este compromisso com a Escritura levou à redescoberta das doutrinas da graça. Qualquer retorno à Bíblia inevitavelmente leva à verdade da soberania de Deus na salvação pela graça. As outras quatro solas — solus Christus, sola gratia, sola fide e soli Deo gloria — fluem da sola Scriptura.

O primeiro reformador foi um monge agostiniano que pregou 95 teses contra a prática católica romana de vender indulgências na porta da igreja do Castelo em Wittenberg, Alemanha, em 31 de outubro de 1517. Seu nome era Martinho Lutero (1483–1546). Esse ato corajoso de um monge com um martelo lançou a Reforma. Outros reformadores foram Ulrico Zuínglio (1484–1531), Hugh Latimer (1487–1555), Martin Bucer (1491–1551), William Tyndale (c. 1494–1536), Filipe Melanchthon (1497–1560), John Rogers (1500–1555), Heinrich Bullinger (1504–1575) e João Calvino (1509–1564). Todos eles estavam firmemente comprometidos com as verdades das Escrituras e com a graça soberana.

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.

Steven Lawson
Steven Lawson
O Dr. Steven J. Lawson é presidente e fundador do OnePassion Ministries, é professor da Fraternidade de Ensino de Ligonier Ministries, e autor de vários livros, incluindo Fundamentos da Graça e The Moment of Truth.