
Como entender que Jesus é o caminho, e a verdade, e a vida?
dezembro 26, 2025Como entender que Jesus é a videira verdadeira?
Nota do Editor: Este artigo faz parte da coleção As declarações “Eu sou” de Jesus.
A sétima e última das declarações “Eu sou” de Jesus — “Eu sou a videira verdadeira” (Jo 15:1) — é sem dúvida a mais enigmática de todas (pelo menos para os leitores gentios). A tentação de muitos leitores (e pregadores) é ver essa linguagem apenas como uma metáfora de como devemos florescer e ser frutíferos individualmente como cristãos, mas não foi assim que isso teria sido percebido pelo público original de Jesus, todos judeus.Tudo nessa declaração teria feito com que as mentes dos ouvintes judeus voltassem às suas Bíblias hebraicas, onde a imagem da videira está presente na história da redenção nas relações de Deus com Israel. Então, à medida que o impacto das palavras de Jesus começava a ser sentido por eles, só podiam ficar surpresos com o que Ele ousava afirmar sobre Si mesmo em termos de seu cumprimento.
No livro dos Salmos, o salmista fala sobre como Israel surgiu como nação, dizendo:
Trouxeste [Deus] uma videira do Egito, expulsaste as nações e a plantaste” (Sl 80:8).
O profeta Isaías, ao alertar Israel sobre seu retrocesso espiritual, usa a linguagem de uma vinha plantada e cuidada por Deus, porém que havia se tornado brava e infrutífera (Is 5:1-6). Jeremias usa a mesma linguagem (Jr 2:21). Era uma representação bela, mas também de profunda emoção.
Toda a história de Israel como povo de Deus está repleta de evidências do amor e do cuidado de Deus por eles. Ele os escolheu desde a eternidade, os redimiu da escravidão, os guiou pelo deserto e lhes deu uma terra para possuírem. Ele lhes deu tudo o que precisavam não apenas para prosperar espiritualmente como nação, mas também para serem Seu instrumento de bênção para todas as nações do mundo (Gn 12:3). Contudo, desprezaram Seu dom e se afastaram do Deus a quem deviam sua existência.
Nada disso teria passado despercebido pelos discípulos de Jesus quando Ele falou da videira em relação a Si mesmo. Assim como a identidade coletiva das multidões do povo de Deus em Israel estava enraizada em Deus, seu libertador, e sua vitalidade e fecundidade espiritual estavam enraizadas em sua união e comunhão com Ele como Senhor e Salvador, agora, de uma forma ainda mais gloriosa, as promessas que Deus havia feito se cumpriram em Cristo.
A mentalidade de muitos cristãos hoje em dia é muito moldada pelo individualismo pós-Iluminismo, que foca principalmente em nós e considera nossa própria história como primordial. Entretanto, essa mentalidade é contrária ao ensino da Bíblia. A ênfase das Escrituras não está só no que somos, mas no que somos corporativa e coletivamente em nossa nova vida na salvação. Jesus usa a videira e seus ramos para retratar o relacionamento entre Ele e Seu povo. Seus discípulos sabiam bem o que Ele estava declarando, sobretudo em relação à fecundidade espiritual à qual a união com Ele inevitavelmente levaria.
É interessante notar que a primeira aplicação que Jesus faz da ilustração de que Ele é a videira verdadeira diz respeito àqueles que dão a aparência de serem Seus seguidores, mas não são: “Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele [Deus Pai] o corta” (Jo 15:2). Ele está falando daqueles que aparentam ser cristãos por meio do envolvimento externo na igreja, porém cuja profissão de fé não é genuína. Faltam-lhes evidências do que Paulo mais tarde chama de “fruto do Espírito” (Gl 5:22-23).
Jesus continua falando sobre os fundamentos pelos quais as pessoas são incorporadas a Ele como a videira verdadeira quando expressa: “Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado” (Jo 15:3). Sua Palavra, proferida no evangelho, é antes de tudo declarativa. Ela assegura aos que creem não apenas o perdão, mas também a purificação por meio de Sua graça justificadora. É a Sua declaração definitiva de uma nova condição diante de Deus.
Contudo, como é frequentemente apontado pelos teólogos, “É apenas a fé que justifica, mas a fé que justifica nunca está sozinha”. A fé está inseparavelmente unida à graça da santificação. A nova condição legal que temos diante de Deus por meio de Seu perdão e aceitação deve continuar a se manifestar na evidência de Sua graça transformadora em nossas vidas. Ele nos conforma progressivamente à imagem de Seu Filho, nosso Salvador Jesus.
Mas muitas vezes, como ecoa nos ensinamentos das Escrituras em outros lugares, esse crescimento e fecundidade de nossa nova vida têm um custo. O Pai “corta” os ramos para torná-los mais frutíferos (Jo 15:2). Por meio dos desafios da providência e das lutas da vida, Deus nos afasta da autoconfiança e nos ensina a “permanecer” cada vez mais plenamente em Seu Filho.
É impressionante que Jesus forneça a explicação para entender o que “permanecer” nEle significa na prática: devemos permanecer nEle e Suas palavras devem permanecer em nós (Jo 15:7). A evidência disso será vista em nossa vida de oração quando expressamos nossas necessidades diante de Deus e vemos Sua resposta às nossas orações.
O argumento principal é que nós, como discípulos de Cristo, devemos permanecer em Seu amor (Jo 15:9). Foi esse detalhe que ficou gravado na consciência de Paulo, capturado de forma impactante em sua declaração aos Gálatas: “Que me amou [Cristo] e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2:20). O amor de Cristo por ele foi o solo no qual o amor de Paulo por Cristo floresceu e cresceu. Que o mesmo aconteça com todos nós que estamos unidos a Cristo, a videira verdadeira.
Artigo publicado originalmente em Ligonier.org.

