O que é a sabedoria?

Nota do editor: Este artigo faz parte da coleção Virtudes e defeitos.

O princípio da sabedoria

Ao longo da história, os seres humanos usaram muitos métodos para buscar sabedoria. A filosofia se define como o “amor à sabedoria” ou “busca do conhecimento”, porém quando consideramos a grande variedade de filosofias, como existencialismo, hedonismo ou estoicismo, podemos ficar imaginando como elas podem divergir muito enquanto lutam por um objetivo. Embora possamos ser tentados a pensar na filosofia como moderna, a Bíblia apresenta vários exemplos práticos sobre as falhas da ética normativa e a negação da verdade (Sl 53:1; Rm 1:18-31). Então, qual é a visão bíblica da virtude da sabedoria? Em suma, sabedoria é a verdade aplicada em situações específicas para fins divinos.

Uma pesquisa da literatura sapiencial bíblica — como Provérbios, Eclesiastes e Jó — revela o uso de várias técnicas literárias tanto para instrução quanto para exceções às “regras”. ¹ A sabedoria é personificada como uma protetora e uma mulher que é uma “árvore de vida para os que a alcançam, e felizes são todos os que a retêm” (Pv 3:18; 2:11; 4:6). Na Bíblia, vemos muitos exemplos de sabedoria e interação — em vez de negação — das questões mais difíceis da vida. A virtude da sabedoria não é apenas um privilégio dos educados, experientes ou admirados. Em vez disso, a sabedoria é disponibilizada aos simples. O Senhor concede sabedoria com generosidade àqueles que a pedem (Tg 1:5-7). Para aqueles que estão cientes de quão enganoso o mundo pode ser, isso é de fato um grande conforto.

“O temor do Senhor é o princípio do saber” (Pv 1:7; 9:10; Sl 111:10). Ao invés de uma postura de retração ou vergonha, esse tipo de temor descreve uma postura de admiração. O temor reconhece Deus como o Criador, centro e fundamento firme de toda a verdade. Muitas experiências na vida podem ser difíceis, confusas e limitantes. Contudo, tudo o que é preciso para receber sabedoria é humildade (Pv 11:2).

Reconhecimento da loucura

Uma das expressões literárias que a Bíblia usa é o “tolo”. Em contraste com a sabedoria, os exemplos do tolo ilustram o impacto da sabedoria no cotidiano. Logo percebemos que a loucura não está apenas “lá fora”: pode ser encontrada quando nos olhamos no espelho. Até Shakespeare reconheceu esta verdade ao dizer: “O tolo pensa que é sábio, porém o sábio sabe que é um tolo”. ²

Enquanto “O temor do Senhor é o princípio do saber, mas os loucos [tolos] desprezam a sabedoria e o ensino” ( Pv 1:7 ). O que significa ser tolo? Agostinho expressou: “Eles amam a verdade quando ela os ilumina, eles a odeiam quando ela os acusa.” ³ Em vez de apenas não ter conhecimento, o refrão das Escrituras é que um tolo é “sábio aos [s]eus próprios olhos” (Jz 21:25; Pv 3:7; Is 5:21).

Na Bíblia, sabedoria e tolice são categorias morais. Os tolos negam a Deus e a Sua sabedoria (Pv 14:1). Os sábios se apegam a Deus e seguem a Sua sabedoria (Pv 3:5-7). O tolo é reconhecido por seu engano, que muitas vezes é autoengano (ver 1 Co 3:18; Tg 1:22-24). Os sábios se preocupam com a verdade. Embora o tolo possa manter as aparências ou realizar uma função, em última análise, ele é conhecido por seus frutos (Mt 7).

Como aplicar a sabedoria

A sabedoria centrada no homem é egoísta, mas “a sabedoria, porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento” (Tg 3:17). Em vez de estar aberta a qualquer razão, essa razão busca a Deus como Ele se revelou em Sua Palavra. Em contraste com o engano, a verdadeira sabedoria é orientada em torno da verdade. Isso a torna útil para os maiores conflitos da vida (ver Jó 28:12-28; Mt 10:16; At 7:9). Ninguém pode profetizar as providências que Deus trará; precisamos ter uma estrutura de vida para que possamos aplicar sabedoria em nosso momento de necessidade. Novamente, sabedoria é a verdade aplicada em situações específicas.

Entendimentos superficiais depositam confiança apenas em trajetos seguros (Pv 14:12). No entanto, a sabedoria é um exercício de confiança no Senhor (Sl 146:3-5). Nosso critério final não é a opinião pública, mas sim o homem sábio que edifica “a sua casa sobre a rocha” (Mt 7:24). A sabedoria não usa força ou coerção, mas apela à consciência com humildade e coragem. Ainda que o caminho para a humildade possa ser doloroso, “a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar” (2 Co 7:10). É por isso que empregar a sabedoria é um ato de confiança, capacidade de aprender, administração e sinceridade. Essa confiança não está no homem ou em nossas circunstâncias, mas na provisão de Deus, em Sua onisciência e em Sua bondade eterna.

Crescer em sabedoria

Recebemos a sabedoria do evangelho através da Palavra de Deus, pois o próprio Cristo é a “sabedoria de Deus” (1 Co 1:24). Crescemos nas habilidades da sabedoria ao ouvir pregações expositivas, tornando-nos estudantes da Palavra de Deus e da criação de Deus. Um aluno ativo aprende habilidades de questionamento e forma hábitos de reflexão e avaliação. Essas reflexões nos ajudam a fazer mais conexões em nosso aprendizado à medida que observamos ecos do caráter de Deus em tudo o que é bom, verdadeiro e agradável. Buscamos com diligência a sabedoria para conhecer nosso Deus revelado, para nos conhecermos corretamente e ampliar nosso entendimento sobre o mundo que Deus criou: é isso que passaremos a eternidade fazendo.

Buscar sabedoria não significa ter um plano infalível. É uma preparação para uma aplicação humilde à medida que aprendemos. Nossa falta de conhecimento da lei de Deus muitas vezes nos leva ao pecado, e podemos nos surpreender com nossa própria tolice. Sabedoria é prontidão para avaliar e tentar outra vez. A sabedoria pode ser aplicada às nossas más decisões e suas consequências imprevistas. Nunca é tarde para aplicar a sabedoria se estivermos dispostos a dobrar os joelhos. Que sigamos o Pastor que nos guia por águas de descanso por amor do Seu nome (Sl 23:2-3).

1. Veja Max Rogland, How to Read Wisdom Literature [Como ler literatura sapiencial] para uma breve e útil explicação. ↩
2. William Shakespeare, As You Like It [Como você gosta]. ↩
3. Agostinho, Confissões. ↩

Artigo publicado originalmente em Ligonier.org.