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Os sacramentos como meios da graça

Eu cresci em um uma grande igreja batista, onde os batismos eram frequentes e a Ceia do Senhor era pouco comum. Os batismos eram sempre eventos comemorativos — às vezes as pessoas até aplaudiam. A Ceia do Senhor, por outro lado, era um momento solene, silencioso e, para um garoto, enfadonho. Eu nunca entendi o propósito de ter que sentar e ficar quieto por mais quinze a vinte minutos. Não podia o pastor simplesmente dizer: “Jesus morreu na cruz por seus pecados.” E acabar com isso? Eu também nunca entendi o propósito do batismo, exceto que Jesus ordenou. Quando fui batizado aos doze anos, era simplesmente um rito de passagem para mim.

A Confissão de Fé de Westminster resume o ensino bíblico sobre o significado do batismo e da Ceia do Senhor da seguinte forma: “Os sacramentos são santos sinais e selos do pacto da graça, imediatamente instituídos por Deus para representar Cristo e seus benefícios, e confirmar o nosso interesse nele.” (27.1). A linguagem dos “sinais e selos” vem diretamente de Romanos 4:11: “E [Abraão] recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé que teve quando ainda incircunciso.” De que maneira os sacramentos funcionam como sinais e selos?

A Bíblia contém muitos “sinais”. Moisés realizou “sinais” no Egito (Êx. 4:8, etc.). Os milagres de Jesus são chamados “sinais” (Jo. 2:11). Na verdade, a encarnação e o nascimento virginal de Jesus em si mesmos constituíram um “sinal” (Is. 7:14). Sinais são marcadores visíveis que, enquanto talvez significantes em si mesmos, apontam para outra coisa. Os sinais de Moisés apontaram para o poder de Deus e para Sua intenção de redimir Seu povo. Os sinais de Jesus apontavam para Sua identidade como o eterno Filho de Deus (Jo. 20:30-31).

Significativamente, quatro das primeiras seis ocorrências da palavra “sinal” na Bíblia aparecem na frase “sinal da aliança” (Gn. 9:12, 13, 17; 17:11). Depois do dilúvio, Deus fez uma aliança, isto é, um acordo vinculativo, com Noé, prometendo que Ele nunca mais iria inundar a terra. Como sinal para confirmar a promessa de Sua aliança, Deus deu o arco-íris. Eu cresci na Flórida, onde tempestades nas tardes de verão acompanhadas por arco-íris são comuns. Nós podemos ficar maravilhados com a beleza de um arco-íris. Mas o seu principal propósito é de nos lembrar da promessa da aliança de Deus e de Sua fidelidade.

Deus também fez uma aliança com Abraão (Gn. 15:18; 17:2, etc.; ver Êx 2:24). Nesta aliança, Deus prometeu ser Deus para Abraão e sua descendência, dar a ele uma herança de terra, abençoar as nações através dele, e fazer sua descendência tão numerosa como a areia do mar e como as estrelas dos céus. Para confirmar essas promessas, Deus deu a Abraão a circuncisão como “sinal da aliança” (Gn. 17:11).

Esses sinais são lembretes visíveis e tangíveis que confirmam as promessas de Deus ao Seu povo. Eles também são adequados para cada aliança. O arco-íris aparece no céu depois da chuva quando o sol passa através das gotículas de água. Deus pode enviar chuvas carregadas que resultem em uma inundação local e resultados desastrosos para alguns. Contudo, Ele nunca mais irá inundar toda a terra e exterminar toda a humanidade. Na aliança de Deus com Abraão, Deus prometeu a Abraão descendentes, um “descendente” (enfim cumprida em Cristo; Gl. 3:15-18). Apropriadamente, o sinal que acompanha é aplicado ao órgão reprodutor masculino. Como veremos, a natureza adequada dos sinais de Deus é verdadeira também em outras alianças, incluindo a nova aliança no sangue de Cristo.

O pai da Igreja, Agostinho, é famoso por se referir aos sacramentos como “palavras visíveis”. Quando crianças estão aprendendo, elas costumam precisar de figuras ou objetos tangíveis para ajudá-las a entender uma lição. Isso é o que Deus provê para nós nesses sinais visíveis e tangíveis. Ele desce até nós, como com as crianças, para que possamos verdadeiramente entender, lembrar, e ter confirmação das promessas da Sua aliança.

Um selo nos dias de Paulo costumava ser feito de cera e tinha uma estampa gravada nele que confirmava a identidade do seu dono. Documentos e cartas oficiais tipicamente traziam selos. Se o remetente era um rei ou oficial do governo, você não ousava quebrar o selo para olhar seu conteúdo até que esse chegasse ao seu destino correto. Nesse sentido, um selo tanto confirmava a identidade do remetente quanto protegia o conteúdo.

Da mesma forma, os sinais da aliança de Deus tanto confirmam nossa identidade como aqueles que pertencem a Deus como protegem nossa participação nessa aliança. Em outras palavras, os sinais da aliança — ou sacramentos — tanto nos asseguram quanto nos fortalecem em nosso relacionamento com Deus. Agostinho também coloca dessa forma: sacramentos são “sinais visíveis da graça invisível”. Eles são uma forma que Deus concede Sua graça para nos fortalecer na fé.

Os sinais da aliança – ou sacramentos – tanto nos asseguram como nos fortalecem em nosso relacionamento com Deus.

Olhando novamente para Romanos 4, antes da afirmação de Paulo sobre a circuncisão ser um sinal e selo da justiça de Abraão pela fé (v. 11), o apóstolo diz que Abraão “creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça” (v. 3). Portanto, a circuncisão era um sinal e selo do fato de Deus ter declarado ele justo pela sua fé e somente pela sua fé. No entanto, Paulo diz mais tarde que Abraão “pela fé, se fortaleceu” (v. 20), mesmo depois de anos tentando ter um filho sem sucesso. Uma razão para sua forte fé era o sinal da aliança que Deus havia dado a ele. Seu próprio corpo continuamente testificava e confirmava a promessa de Deus a ele.

Sinais de aliança também funcionam na outra direção. Alianças no mundo antigo eram acordos vinculativos que incluíam promessas e responsabilidades de ambas as partes. Nas alianças bíblicas, Deus prometeu ser o nosso Deus. Por nossa vez, juramos dar a nós mesmos inteiramente a Deus e obedecermos Seus mandamentos. A palavra latina sacramentum comumente se referia ao juramento de lealdade que os soldados faziam aos seus comandantes. Da mesma forma, os sacramentos nos separam como pertencentes inteiramente a Cristo. Nos sacramentos, juramos que nós pertencemos de forma plena, total e sem reservas a Ele.

Quando eu realizo casamentos, a noiva e o noivo trocam alianças, declarando um ao outro, “eu te dou essa aliança, como sinal do meu amor e da minha fidelidade.” O casamento bíblico é uma aliança (Ml. 2:14). A aliança de casamento é um sinal e selo dessa aliança. Ela confirma e declara que o amor e comprometimento da noiva e do noivo um pelo outro. A aliança que eu uso me marca como pertencendo a minha esposa e confirma minha promessa de ser fiel a ela enquanto nós dois vivermos.

Os sacramentos de Deus, contudo, são mais profundos e ricos do que anéis de casamento. Na verdade, nos fortalecem espiritualmente para sermos fiéis ao nosso compromisso com Deus. Nos ajudam a crescer na semelhança de Cristo e nos levam a uma comunhão mais próxima com Cristo. Não funcionam sozinhos, de alguma forma mágica. Devem ser acompanhados pela Palavra e pelo Espírito, e são eficazes apenas quando combinados com a fé. No entanto, quando administrados e recebidos de maneira adequada, são um meio importante de vitalidade e crescimento espiritual.

O restante deste artigo se concentrará nos dois únicos sacramentos que Deus dá ao Seu povo da nova aliança: a Ceia do Senhor e o batismo. Exploraremos o significado específico de cada um separadamente e discutiremos como servem como meio de graça e fortalecimento espiritual em nossas vidas.

A Ceia do Senhor

Jesus instituiu a Ceia do Senhor em uma celebração da Páscoa com Seus discípulos. A celebração da Páscoa era um sinal da velha aliança para lembrar o povo de Deus do grande ato redentor de Deus ao tirá-los da escravidão no Egito (Êx. 13:9). A refeição incluía cordeiro e pão sem fermento, ambos sinais adequados por causa de sua centralidade para o próprio êxodo. Os israelitas comeram pão sem fermento porque estavam saindo rapidamente. O sangue do cordeiro aplicado no batente da porta de suas casas afastou o julgamento que Deus derramou sobre o Egito.

Da mesma forma, a Ceia do Senhor celebra o grande evento redentor de Deus na nova aliança. Jesus disse na refeição da Páscoa com Seus discípulos: “Isto é o meu corpo oferecido por vós” (Lc. 22:19) e “porque isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados” (Mt. 26:28). A Ceia do Senhor é um sinal que nos aponta de volta para a morte de Cristo na cruz. Comemos e bebemos “em memória de” Cristo (Lc. 22:19).

A Ceia do Senhor também aponta para o futuro. Na Última Ceia, Jesus, ansioso pela consumação, disse: “pois vos digo que, de agora em diante, não mais beberei do fruto da videira, até que venha o reino de Deus” (Lc. 22:18). Da mesma forma, Paulo escreve a respeito da Ceia do Senhor: “Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha” (1Co. 11:26). Observe aqui que a Ceia do Senhor “proclama”. É uma palavra visível.

A Ceia do Senhor, no entanto, faz mais do que tornar a Palavra visível. Envolve todos os nossos sentidos. Nós vemos, mas também cheiramos, tocamos e saboreamos o pão e o vinho. A Ceia do Senhor, corretamente observada, também inclui ouvir, ocorrendo após a pregação da Palavra e instrução adequada sobre o significado dos elementos. A Ceia do Senhor nos ajuda a compreender melhor a maravilha da morte de Cristo pelo envolvimento de todos os cinco sentidos. A Ceia do Senhor torna pessoal a morte de Cristo na cruz. Cristo não morreu apenas pelos pecadores. Cristo morreu por mim.

A Ceia do Senhor, em outras palavras, sela essa verdade em nossos corações. É uma confirmação externa e física de que pertenço a Cristo e que Cristo se entregou a mim. Nas belas palavras da primeira pergunta do Catecismo de Heidelberg:

Qual é o seu único fundamento, na vida e na morte?

O meu único fundamento é meu fiel Salvador Jesus Cristo (l). A ele pertenço, em corpo e alma, na vida e na morte, e não pertenço a mim mesmo. Com seu precioso sangue ele pagou por todos os meus pecados e me libertou de todo o domínio do diabo. Agora ele me protege de tal maneira que, sem a vontade do meu Pai do céu, não perderei nem um fio de cabelo. Além disto, tudo coopera para o meu bem. Por isso, pelo Espírito Santo, ele também me garante a vida eterna e me torna disposto a viver para ele, daqui em diante, de todo o coração.

Além disso, na Ceia do Senhor, temos comunhão espiritual com Cristo. Paulo escreve: “Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo?” (1Co. 10:16). A palavra grega traduzida como “participação” é koinonia, uma palavra que se refere à comunhão íntima com alguém. Em contraste, Paulo admoesta os coríntios a não ter koinonia com demônios participando da adoração pagã (v. 20). Cristo está espiritualmente presente na Ceia do Senhor. Quando participamos do pão e do cálice, temos íntima comunhão com Ele.

No mundo antigo, fazer uma refeição juntos era uma expressão de intimidade. As refeições também eram uma parte importante das cerimônias de celebração de pactos. As partes que entram em um pacto entre si selariam esse acordo comendo juntas. Vemos isso em Êxodo 19:24. Depois que Deus fez uma aliança com Israel no Sinai, Moisés e os líderes de Israel comeram uma refeição na montanha na presença de Deus. Na verdade, um relacionamento íntimo entre Deus e Seu povo é o propósito das alianças de Deus com eles.

Isso é especialmente claro na nova aliança. Na nova aliança, Deus escreve Sua lei em nossos corações, Deus perdoa nossos pecados e Deus se faz conhecido a nós da maneira mais pessoal e íntima: “Todos eles me conhecerão, desde o menor até o maior” (Jr. 31:34). Todas as três pessoas da Trindade estão envolvidas neste relacionamento íntimo. Deus se aproxima de nós na aliança. Cristo tornou-se um conosco para cumprir as promessas da nova aliança. O Espírito Santo habita em nós, tornando-nos uma nova criação e permitindo-nos cumprir as obrigações da aliança. Deus não está apenas perto de nós — Ele está em nós.

A Ceia do Senhor torna nosso relacionamento íntimo com Deus uma realidade experiencial maior para nós. Ele fala ao centro do nosso relacionamento com Deus, ou seja, o amor de Deus por nós e nosso amor por Deus. Na ceia, Cristo está presente, dizendo-nos: “Tu és o meu filho amado. Eu dei minha vida por você. Agora te dou forças para tomar a tua cruz e seguir-me.”

A Ceia do Senhor também nos lembra de nossa nova identidade na nova aliança. A Páscoa da velha aliança deveria ser celebrada com a família. Jesus, porém, comeu a Páscoa com Seus discípulos, indicando que eles eram a nova e verdadeira família de Deus. Todos os que seguem Jesus são Seus irmãos e irmãs. A Ceia do Senhor é o que alguns chamam de “ordenança de separação”, marcando-nos como aqueles que verdadeiramente pertencem totalmente a Cristo.

Desta forma, a Ceia do Senhor também nos une a todos os que pertencem a Cristo. Paulo disse aos coríntios que, como eles não estavam comendo juntos de forma unificada, eles não estavam celebrando a Ceia do Senhor (1Co. 11:20). Na Ceia, temos comunhão com Cristo e uns com os outros. Pelo Espírito, a Ceia fortalece nosso vínculo com Cristo e com nossos irmãos e irmãs em Cristo.

A Ceia do Senhor é rica em simbolismo. Mais importante ainda, isso nos lembra da morte de Cristo em nosso lugar quando Ele tomou nosso julgamento sobre Si mesmo. Também confirma e fortalece nossa união com Cristo, pois não apenas nos lembramos, mas também temos comunhão espiritualmente com Cristo. Na Ceia, também fortalecemos nossos laços uns com os outros. A Ceia do Senhor aponta para a “ceia das bodas do Cordeiro”, que comeremos na presença de Cristo e com irmãos e irmãs em Cristo de todas as nações, tribos e línguas. Até lá, a Ceia do Senhor nos fortalece para viver para Cristo como o corpo de Cristo, separando-nos do mundo, para o mundo.

O batismo

O batismo também é rico em simbolismo. Ao contrário da Ceia do Senhor, que é um evento recorrente na Igreja, o batismo é um evento único para cada indivíduo. Nesse aspecto, é semelhante ao sinal da circuncisão. Como a circuncisão, o batismo marca nossa entrada na comunidade da aliança.

O simbolismo primário do batismo é lavar ou purificar. É um sinal de que em Cristo estamos limpos. Essa conexão do batismo com a purificação é natural porque nos banhamos com água. O batismo, entretanto, não aponta para a limpeza física, mas espiritual.

Várias vezes o Novo Testamento relaciona o batismo com a purificação dos pecados. Após a conversão de Paulo, Ananias vem a Paulo e diz: “Levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados” (At. 22:16). Pedro mais tarde escreve: “A qual, figurando o batismo, agora também vos salva, não sendo a remoção da imundícia da carne, mas a indagação de uma boa consciência para com Deus, por meio da ressurreição de Jesus Cristo” (1Pe. 3:21). Ambos, vistos em um nível superficial, podem parecer dizer que o próprio batismo lava nossos pecados e nos salva. Vendo mais detalhadamente, essa interpretação está errada. Pedro diz na segunda metade do versículo que o resultado não é a água no corpo, mas o apelo a Deus porque Ele lavou a culpa do nosso pecado. Paulo também escreve que Cristo “purificou [Sua Igreja] pela lavagem de água com a palavra” (Ef. 5:26). Como diz João: “O sangue de Jesus… nos purifica de todo pecado” (1Jo. 1:7). O sangue de Jesus purifica, não a água do batismo. A água do batismo aponta para a purificação no sangue de Cristo.

Na Ceia, temos comunhão com Cristo e uns com os outros.

Outro aspecto do batismo que difere da Ceia do Senhor é que no batismo o destinatário do batismo é passivo. Na Ceia do Senhor, os participantes são ativos. Eles ativamente tomam, comem e bebem. Todos os que participam são chamados a examinar a si mesmos e “discernir o corpo” (1Co. 11:28-29). Somos participantes ativos na Ceia do Senhor.

A pessoa batizada, por outro lado, recebe a ação. O batismo aponta para a graça de Deus e para o fato de que a salvação é completamente de Deus. Deus nos escolheu e pelo Seu Espírito nos transforma. Até a fé é um dom de Deus (Ef. 2:8; Fp. 1:29). O batismo diz que aqueles que pertencem a Cristo foram salvos pela graça de Deus. A salvação, do início ao fim, é obra de Deus.

O batismo neste sentido também simboliza Deus dando Seu Espírito ao Seu povo. Jesus se referiu ao Espírito vindo sobre Seu povo no Pentecostes como um batismo. A vinda do Espírito em Atos 2 é o cumprimento da profecia de Joel de que Deus “derramaria” Seu Espírito sobre toda a carne — homem e mulher, judeus e gentios. Similarmente, João Batista declarou que ele batizou com água, mas que Cristo batizaria com o Espírito Santo e fogo.

A ligação entre o Espírito e o batismo, no entanto, é mais do que apenas uma conexão literária. O próprio Espírito é o meio de limpeza espiritual. Paulo escreve que Deus “nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tt. 3:5). Da mesma forma, na versão de Ezequiel da profecia da nova aliança de Jeremias, o profeta vincula a limpeza e a capacidade de obedecer a Deus à morada do Espírito Santo:

Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis. (Ez. 36:25-27).

O Espírito limpa e capacita

Além disso, o batismo nos separa de Cristo e nos identifica com Cristo. Isso ocorre porque Cristo se identificou conosco em Seu próprio batismo. O batismo de João Batista foi um “batismo de arrependimento para o perdão dos pecados” (Mc. 1:4). Jesus, o Filho de Deus sem pecado, não cometeu nenhum pecado. João, de fato, tentou impedir Jesus de ser batizado, dizendo-lhe: “Eu preciso ser batizado por você” (Mt. 3:14). No entanto, a missão de Jesus era se identificar com Seu povo para levar a culpa de Seus pecados sobre Si mesmo. Paulo escreve: Deus “o fez pecado aquele que não conheceu pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus” (2Co. 5:21). Jesus foi batizado por João não porque Ele precisava ser purificado do pecado, mas porque nós precisávamos ser purificados do pecado.

Em seu batismo, Jesus foi designado, ordenado, para iniciar o ministério que Deus o havia chamado para fazer. Jesus tinha cerca de trinta anos quando foi batizado e começou Seu ministério (Lc. 3:23). Trinta foi a idade em que os sacerdotes da velha aliança começaram seu ministério (Nm. 4:3). Eles foram separados para o ministério por um rito de purificação envolvendo água (Êx. 29:4; Lv. 8:6). Da mesma forma, o batismo de Jesus o separou para Seu ministério de ensino sumo sacerdotal, intercedendo por Seus discípulos e se oferecendo como o sacrifício final e único suficiente para tirar todos os pecados de todo o Seu povo.

De maneira semelhante, o batismo nos marca como pertencentes a Deus. Diz que temos uma nova identidade em Cristo. Sob a antiga aliança, a circuncisão separava os israelitas dos gentios “incircuncisos”. O batismo nos separa do mundo e diz que pertencemos a Cristo. Nosso batismo simboliza nossa união com Cristo, que se tornou um conosco e se identificou conosco em Seu batismo. O batismo também nos diferencia para servir a Cristo. Como Cristo (embora não exatamente da mesma forma), somos “sacerdotes” (Ap. 1:6), chamados diariamente a apresentar nossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Rm. 12:1).

Limpeza, consagração, identidade, iniciação — estes são centrais para o significado do batismo. O Catecismo Maior de Westminster nos instrui que, quando ocorrem batismos, devemos “melhorar” nosso próprio batismo — lembrar que somos um com Cristo, lavados, designados e chamados para servi-lo pelo poder do Espírito Santo. O batismo é um meio de graça porque nos lembra quem somos e o que Deus fez por nós. O batismo não salva, mas nos aponta para a graça de Deus e para as riquezas de Deus em Cristo.

Embora os sacramentos sejam “palavras visíveis”, a Palavra escrita e falada são primordiais na vida e na adoração cristã. A fé vem pelo ouvir e ouvir pela Palavra de Deus (Rm. 10:17), que é o meio principal da graça. Paulo exorta Timóteo a se dedicar como pastor em Éfeso à leitura pública da Palavra, ao ensino e à pregação (1Tm. 4:13). Os sacramentos, embora importantes, não concedem Cristo por si mesmos de alguma forma mística. Eles complementam a pregação da Palavra e nunca devem suplantar a leitura e o ensino das Escrituras. Os sacramentos nunca devem ocorrer sem pregação e sem uma explicação adequada de seu significado. Quando usados ​​corretamente, entretanto, os sacramentos são meios vitais da graça para nos fortalecer em nossa caminhada com o Senhor.

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.

William B. Barcley
William B. Barcley
O Dr. William Barcley é pastor titular da Igreja Presbiteriana Sovereign Grace em Charlotte, Carolina do Norte, professor adjunto de Novo Testamento no Reformed Theological Seminary. Ele é autor do livro “O segredo do contentamento”.