Príncipe da paz
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De acordo com a lenda, o rei Arthur encontra-se na ilha mística de Avalon, esperando para retornar e resgatar a Grã-Bretanha em sua hora de maior necessidade. Um dia, o mais sombrio dos dias, aparecerá o “Único e Futuro Rei” da Grã-Bretanha. Arthur é, claro, mitológico. Mas o profeta Miquéias sabia de um verdadeiro rei cujas origens eram “desde a antiguidade” e que viria inesperadamente para resgatar Seu povo.
Miquéias, um contemporâneo de Isaías, falou a palavra de Deus a Israel em um momento de grande perigo. Devido ao pecado de Samaria (o reino do norte de Israel) e de Judá (o reino do sul), os israelitas sofreriam um ataque devastador. O poderoso império assírio invadiria e conquistaria o povo de Deus, Samaria seria deixada como “um montão de pedras do campo” (Mq. 1:6) e o desastre chegaria até “à porta de Jerusalém” (v. 12). Grande parte da culpa recaiu sobre os líderes de Israel.
Esses governantes, longe de proteger e sustentar seu povo, tornaram-se canibais, matando e devorando. “Comeis a carne do meu povo e lhes arrancais a pele; e lhes esmiuçais os ossos, e os repartis como para a panela e como carne no meio do caldeirão” (Mq. 3:3). Não é de admirar que anos depois o profeta Jeremias resumisse a mensagem de Miquéias citando uma de suas profecias mais premonitórias:
Miquéias, o morastita, profetizou. . .
“Sião será lavrada como um campo, Jerusalém se tornará em montões de ruínas, e o monte do templo, uma colina coberta de mato” (Jeremias 26:18, citando Miquéias 3.12).
Neste mundo sombrio e perigoso, Miquéias expressou não apenas palavras de julgamento, mas de esperança. Em nosso versículo, essa esperança se concentra em um lugar humilde e em um Governante celestial.
Um lugar humilde
“Mas você…” assim começa a boa notícia de Miquéias. Samaria é entulho, Jerusalém está em ruínas, mas para alguém há esperança. Curiosamente, esse “alguém” não é uma pessoa, mas um lugar: Belém Efrata. “… De ti me sairá o que há de reinar em Israel” (Mq. 5:2).
Em vez da poderosa Jerusalém, a capital de Judá, com seu palácio real, o Rei-Salvador viria da humilde Belém. Belém era praticamente inexistente: uma pequena cidade a sudoeste de Jerusalém. Ainda assim, em algum momento durante 700–730 a.C., Miquéias profetizou que esta vila isolada seria o local de nascimento do Messias.
E assim aconteceu. No evangelho de Mateus, lemos que Jesus nasceu “em Belém da Judeia, em dias do rei Herodes” (Mt. 2.1). Na providência de Deus, o imperador romano emitiu uma ordem para que todos os cidadãos retornassem à sua cidade natal. E assim Maria e José partiram de Nazaré para viajar para Belém. O imperador pode ter planejado um censo, mas Deus estava garantindo que Sua palavra por meio de Miquéias seria cumprida.
Assim como nos dias de Miquéias, Israel teve um governante ganancioso e cruel. Herodes, o Grande, se revelaria como outro “rei canibal” quando ordenou a matança de todas as crianças do sexo masculino em Belém, ele também seria o pai de Herodes Antipas, que mais tarde serviu a cabeça de João Batista em uma bandeja. Mas em meio à escuridão, o Rei havia chegado. Na verdade, a profecia de Miquéias é citada quando Herodes pergunta aos principais sacerdotes e escribas onde o Cristo deveria nascer. “Em Belém da Judeia, responderam eles, porque assim está escrito por intermédio do profeta” (Mt. 2:5).
Um Governante celestial
Porém Miquéias nos diz mais do que apenas o local de nascimento desse governante. Também conhecemos sobre Suas origens familiares. Este Governante será aquele “cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Mq. 5:2). O que Miquéias está nos dizendo sobre Cristo?
Dado que a profecia é dirigida a Belém, é provável que em primeiro lugar, esta seja uma alusão ao filho mais famoso daquela cidade. O rei Davi, o fundador da linhagem real de Israel, nasceu em Belém, muitos anos antes da profecia de Miquéias. O futuro governante seria desta raiz: Jesus é descendente de Davi, o rei desde os tempos antigos. Ele tem sangue real antigo.
Contudo, acho que Miquéias está nos contando algo a mais. As origens de Cristo são muito mais antigas do que Davi, Abraão ou até mesmo a própria criação. O Salmo 74:12 nos diz que, “Deus, meu Rei, é desde a antiguidade”, usando a mesma expressão que Miquéias usa para descrever Cristo. Miquéias está sugerindo que as origens de Jesus não são apenas davídicas, mas divinas. Ele é Deus o Filho e, como Deus, não tem princípio. Ele sempre existiu.
Assim, longe dos corredores do poder, Jesus Cristo, descendente de Davi por meio de Seu pai adotivo, José, nasceu em Belém. O próprio Deus veio para governar e resgatar. Ele parecia inexpressivo. Seu local de nascimento foi desfavorável. Mas Deus sempre opera desta forma: por meio da mensagem fraca e tola da cruz, vem o resgate do pecado, uma ameaça muito maior do que os assírios da profecia de Miquéias. E quão apropriado é que Belém signifique “casa de pão”. Um local de nascimento apropriado para Aquele que, em total contraste com Herodes e os reis canibais dos dias de Miquéias, veio alimentar Seu povo. O Pão da Vida, deitado na manjedoura e uma manjedoura, na Casa do Pão.