
3 coisas que você deve saber sobre Jeremias
setembro 8, 20253 coisas que você deve saber sobre Tiago

Nota do Editor: Este artigo faz parte da série da revista Tabletalk: 3 coisas que você deve saber.
A epístola escrita por Tiago dá início à subcoleção conhecida como Epístolas universais ou gerais, assim chamadas, pois não são dirigidas a igrejas ou pessoas específicas, mas (mais ou menos) a toda a igreja. Neste caso, a carta é escrita para as “doze tribos que se encontram na Dispersão” (Tg 1:1), uma maneira ricamente simbólica de anunciar todo o povo de Deus espalhado pelo mundo. Neste artigo, consideraremos três coisas que você precisa saber sobre esta epístola.
1. O meio-irmão de Jesus talvez a escreveu.
Começaremos com a autoria. Quatro homens chamados “Tiago” são concorrentes. Tiago, irmão de João (filhos de Zebedeu, Mt 4:21) morreu bastante cedo para ser o autor (At 12:2). Tiago, filho de Alfeu (Mt 10:3) e Tiago, pai de Judas (Lc 6:16) são muito desconhecidos na igreja primitiva para só se identificarem como “Tiago” na epístola. Isso deixa Tiago, irmão de Jesus (Mt 13:55), como o candidato mais aceitável. Este Tiago começou como um cético (Jo 7:5), porém após um encontro dramático com o Senhor Jesus ressuscitado (1 Co 15:7), ele se tornou um pilar da igreja primitiva e talvez um apóstolo (Gl 1:19; 2:9). Por que a identidade do escritor é importante?
Primeiro, Tiago foi transformado pelo poder do evangelho, mas ele não usa seus laços terrenos com Jesus para ter influência. Ele apenas se refere a si mesmo como um “servo […] do Senhor Jesus Cristo” (Tg 1:1). Em segundo lugar, Tiago faz o discurso fundamental no Concílio de Jerusalém, se baseou em Amós 9:11-12 para argumentar como a morte e ressurreição de Cristo unem gentios e judeus sob a mesma bandeira de fé, não se trata de distinções étnicas ou obras da lei (At 15:13-21). Ele experimentou o evangelho e pregou o evangelho. Terceiro, Tiago insere ensinamentos diretos de seu irmão Jesus na carta, como os pobres herdarão o reino (Tg 2:5; Mt 5:3-5), luto e riso (Tg 4:9; Lc 6:25), exaltação dos humildes (Tg 4:10; Mt 23:12) e “sim/não” (Tg 5:12; Mt 5:34-37). O evangelho de seu irmão se tornou seu evangelho.
2. Tiago tem como objetivo orientar a vida cristã.
Não apenas o autor é pessoalmente moldado pelo evangelho, seus objetivos na carta também o são. Desde os pais da igreja até os comentaristas modernos, tem havido um longo debate sobre a estrutura e os objetivos precisos desta epístola, porque ela não segue o mesmo tipo de lógica rígida que encontramos em um livro como Romanos. Porém isso não quer dizer que não tenha nenhuma organização. É mais flexível, pois visa à exortação moral dirigida a pessoas que já são irmãos e irmãs em Cristo (Tg 1:9, 16, 19; 5:19). Tiago atua como uma figura paterna pastoral, mostra aos cristãos como o evangelho deve transformar a vida, aconselha seus leitores a escolher o caminho da piedade, não do pecado. Considere os seguintes exemplos:
- Obediência: Coloque a palavra em prática, não seja um mero ouvinte (Tg 1:2-27).
- Comunhão: Ame os outros indiscriminadamente, não tenha favoritos (Tg 2:1-13).
- Obediência: Coloque sua fé em prática, não tenha uma fé vazia (Tgo 2:14-26).
- Comunhão: Use sua boca para abençoar os outros, não a use para fazer dano (Tg 3:1-18).
- Obediência: Coloque a santidade em prática, não seja como o mundo (Tg 4:1-17).
- Comunhão: Ame os pobres, não busque riquezas ímpias (Tg 5:1-6).
- Obediência: Pratique a paciência, não murmure na tribulação (Tg 5:7-20).
O autor volta a abordar dois temas principais: obediência e comunhão de diferentes ângulos para enfatizar linhas pastorais de aplicação, não declarações de doutrina. Se o evangelho criar raízes, este é o fruto que deve (ou não) produzir.
3. Tiago complementa, não contradiz, as cartas de Paulo.
Ao ter em vista tais objetivos, podemos reconsiderar a queixa de Lutero de que Tiago não tem a clareza da lei e do evangelho dos escritos de Paulo. A questão chega ao auge em Tiago 2:24: “Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente.” Superficialmente, isso parece uma contradição óbvia da afirmação de Paulo de que “o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Rm 3:28).
Mas vamos com calma. Paulo desenvolve seu argumento em Romanos (e em Gálatas) desde a incredulidade, onde a observância da lei falha (Rm 1:18 – 3:20), até a justificação diante de Deus pela fé (Rm 3:21 – 4:23), para adoção e santificação que provém da justificação (Rm 5-8). Em outras palavras, a declaração de Paulo sobre a justificação pela fé e não pelas obras se enquadra em seu argumento sobre como alguém se torna salvo.
Tiago está fazendo um argumento diferente. Ele está falando àqueles que afirmam ter fé (Tg 2:14), contudo, não têm nenhum tipo de caridade cristã em suas ações (Tg 2:16). Essa “fé” não é verdadeiramente fé se não tiver “obras” como consequência (Tg 2:17). Ela é vazia ou morta e, portanto, não é diferente do simples consentimento cognitivo que até mesmo os demônios exercem (Tg 2:19).
Tiago, em resumo, está respondendo a uma pergunta diferente: o que alguém faz depois de ser salvo? Como posso demonstrar que minha fé é real? Embora ele responda em termos muito diretos — por meio de “obras” — sua ideia fundamental não é diferente da de Paulo em outros lugares (ver Fp 2:12). Acontece que Paulo ainda não está respondendo a esse lado da questão quando ele trata sobre a justificação.
Quando vemos as coisas sob essa luz, vemos que Tiago não contradiz os escritos de Paulo, mas sim os complementa. Assim como as epístolas de Paulo, que tratam do evangelho como um belo recurso para viver o cristianismo, esta epístola também não pode ser considerada de “palha”.
Artigo publicado originalmente em Ligonier.org.