
5 coisas que você deve saber sobre tomar decisões à luz da Bíblia
junho 18, 2025Quando o mundo parece estar vencendo

Como devemos reagir quando sentimos que a maldade no mundo e a conivência dentro da igreja estão prevalecendo sobre o reino de Deus? Em Mateus 13:24-43, Jesus ensina sobre a natureza do reino de Deus ou, como Mateus costuma expressar: “O reino dos céus”. Ele faz isso apresentando três parábolas para nos ajudar a entender como esse reino cresce: a parábola do joio, a parábola do grão de mostarda e a parábola do fermento. E como veremos, essas verdades sobre como o reino cresce oferecem encorajamento e perspectiva ao povo de Deus em dias difíceis.
O ensino de Cristo sobre o reino
O assunto do reino é importante no ensino e na obra de nosso Senhor. De fato, a primeira declaração de Seu ministério público foi: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 4:17). Ao afirmar isso, Jesus proclamou que o reino estava próximo, pois o Rei havia chegado. É o Rei quem estabelece e governa o reino, e é também o Rei quem nos lembra das bênçãos que o reino oferece.
Nas Bem-aventuranças, Jesus fala duas vezes sobre o reino: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus” e “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5:3, 10). Nessas passagens, Jesus declara que o reino dos céus é um reino para os aflitos, para os que sofrem e para os frágeis. Ele se aproxima do povo com encorajamento e uma palavra de bênção para aqueles que estão sofrendo: “O reino está chegando”.
Ao longo de Seu ministério, Jesus retoma o tema do reino de formas diferentes e sob diferentes enfoques. Quando Jesus ensinou Seus discípulos a orar, Ele os instruiu a orar pelo reino: “Venha o teu reino” (Mt 6:10). Ele também emitiu um aviso sobre o reino: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7:21). No Sermão do Monte, Ele ensinou: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6:33).
Jesus também ensinou aos Seus discípulos: “A vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus” (Mt 13:11). Isso significa que a realidade do reino dos céus não é imediatamente óbvia para todos. Precisamos aprender sobre isso. Precisamos ser conduzidos a essa realidade. Essas verdades sobre o reino devem ser reveladas a nós, e nessas três parábolas em Mateus 13, Jesus nos fala sobre esse reino e como ele cresce.
Como cristãos, ansiamos por ver a Palavra de Deus e a verdade de Cristo se propagar. Muitas vezes pensamos em como podemos servir ao Senhor, como podemos fazê-lo conhecido e como podemos ser eficazes na proclamação de Sua Palavra ao mundo. Ao considerarmos essas questões, faríamos bem em reconhecer o sentido dessas parábolas. Nelas, Jesus ensina que o reino não cresce exatamente da maneira que pensamos que deveria crescer.
Todos nós talvez já tivemos uma experiência em nossas vidas em que pensamos: “Por que o Senhor está fazendo as coisas dessa maneira?” Somos piedosos demais para dizer isso em voz alta, porém podemos até pensar: “Eu teria um plano melhor”. Essa é a situação exata que Jesus trata nessas parábolas.
Uma confusão deliberada de trigo e joio
Em Mateus 13:27, os servos perguntam ao senhor: “Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio?” O senhor nessa parábola representa Jesus, que está no comando de tudo. O que Ele quer que aconteça acontecerá. Ele tem todo poder e autoridade, e semeou boa semente, Sua Palavra. Esta parábola vem logo depois da parábola do semeador, então as ideias de semente, semeadura e fruto estão na mente de Jesus. A pergunta vem dos servos: “Se tu, ó poderoso senhor, semeaste boa semente, por que vemos joio crescendo?”
Há uma crítica implícita na pergunta dos servos. É como se afirmassem: “Você poderia ter feito melhor do que isso. Você comprou a semente em promoção? É uma mistura de sementes boas e ruins? É evidente, quando observamos o campo não vemos fileiras bonitas e retas de trigo crescendo. Em vez disso, vemos trigo e joio crescendo juntos. É uma bagunça.”
Suspeito que todos nós — de várias maneiras e em vários momentos — vemos a vida como uma bagunça: por que ela está indo do jeito que está? Por que não poderia ser mais simples? Por que não poderia ser melhor? Se Jesus está no comando, por que o sucesso no avanço do Seu reino não é mais evidente? Essa é a verdadeira essência da questão. Entretanto, o que os servos veem como uma bagunça não é uma bagunça, segundo Jesus.
Se você entrasse no meu escritório, pensaria que ele é uma bagunça. Minha esposa dificilmente olha pela porta. Ela apenas balança a cabeça e pergunta: “Como você consegue fazer alguma coisa nessa bagunça?” Respondo: “Sei o que tem em cada pilha. Não é minha culpa que não haja espaço suficiente nas prateleiras para os livros, de modo que tenham que ficar empilhados por todos os lados. Admito que seja uma bagunça, contudo, é uma bagunça não intencional.”
Por outro lado, Jesus está ensinando aqui que a bagunça deste mundo não é algo sem propósito; a bagunça deste mundo é deliberada. O maligno está se opondo ao avanço do reino de Deus. Há um esforço deliberado para minar e subverter o crescimento do Seu reino. O inimigo semeou joio no campo quando não estávamos olhando, e precisamos entender essa realidade. Enfrentamos uma batalha espiritual na qual a obra de Cristo está sendo combatida pelo maligno. É uma bagunça. É uma luta. Mas não deveríamos ficar surpresos. Jesus sabia que isso aconteceria. Ele sabia que haveria oposição.
Quando consideramos a vida do nosso Salvador superficialmente, podemos dizer que Sua vida foi uma bagunça. Ele enfrentou grande oposição. Ele aparentemente falhou em Sua missão, porque foi preso e executado. Mas Jesus está declarando nessas parábolas: “Estou cumprindo meu propósito”.
A estratégia de Cristo para o joio
Os servos, ao ver o joio no meio do trigo, propõem o que parece ser uma boa estratégia: “Queres que vamos e arranquemos o joio?” (Mt 13:28). Perguntam se devem ir tirar o joio. Afinal, por que não tirá-lo enquanto ainda é pequeno? Por que não ajudar o trigo a crescer de forma mais eficaz removendo o joio?
Uma das partes mais difíceis da criação de filhos, na minha opinião, era levá-los nas manhãs de sábado para arrancar joio do quintal. Eles inventavam várias táticas para tentar escapar desse trabalho. Era bom ver o pensamento estratégico deles, mesmo que tenham usado esse pensamento para inventar motivos para voltar para casa por uma coisa após a outra. Da mesma forma, os servos nesta parábola procuram usar o pensamento estratégico para remover o joio, ao raciocinar: “Por que o joio não deveria ser arrancado agora? Por que Jesus não deveria estar no comando agora?”
Ao longo da história da igreja, houve aqueles que queriam avançar o reino de Cristo tomando medidas drásticas para combater a incredulidade e a mentira. Às vezes, os cristãos podem ser tentados a usar coerção quando deveriam usar persuasão. Em vários momentos, a igreja tentou forçar o avanço do cristianismo usando meios legais para combater a incredulidade, a heresia e a religião falsa. Por outro lado, nosso Salvador sempre nos dá o exemplo de sermos persuasivos ao ajudar as pessoas a ver a verdade.
Por meio dessa parábola, Jesus nos ensina que este não é o momento de arrancar o joio. É perigoso arrancar o joio, visto que é preciso andar pelos campos para fazer isso, e parte do trigo pode ser pisada no processo. Quando isso acontece, os cristãos, sem querer, acabam fazendo a obra do maligno: em vez de ajudar o trigo a crescer, pisoteiam o trigo. Ao invés disso, o conselho de Jesus é deixar o joio crescer com o trigo, e um dia ficará claro que o trigo é diferente do joio. Chegará o dia em que a colheita estará pronta. Quando a colheita é feita, então a separação do joio do trigo pode ocorrer.
Assim, o crescimento do reino, segundo Jesus, acontece em um mundo misto, confuso e angustiado. Jesus, de fato, nos declara: “Não se preocupem muito com isso. Sei o que estou fazendo. A boa notícia é que o trigo crescerá.”
Um chamado à fidelidade na confusão
Em Mateus 13:35, Mateus cita o Antigo Testamento para explicar por que Jesus falou em parábolas. Ele cita especificamente o Salmo 78:2, ao expressar:
Abrirei os lábios em parábolas
e publicarei enigmas dos tempos antigos.
O Salmo 78 é um dos mais longos do Saltério e trata da história de Israel. A citação de Mateus no início deste salmo comunica em essência que a história de Israel é, à sua maneira, uma parábola. É uma história que ilustra algo. As parábolas podem consistir em histórias fictícias, como a história do trigo e do joio, ou podem ser extraídas de uma história histórica real, como vemos no Salmo 78 com a história de Israel. O importante é que aprendamos com essas histórias uma lição que nos ajude a entender a verdade.
O Salmo 78 revela um padrão recorrente na história do povo de Deus. Primeiro, Deus abençoa Seu povo. No entanto, acabam ficando esquecidos, negligentes e desobedientes. Por isso, Deus castiga o Seu povo com juízo. Quando eles se arrependem, Ele envia Sua bênção, e o padrão começa mais uma vez: o povo de Deus se esquece, e isso conduz ao juízo, e assim sucessivamente. Esse padrão parece ocorrer não apenas na história de Israel, mas também na história da igreja. Quando a igreja desfruta de um período de grandes bênçãos, sucesso e crescimento, ela, com frequência, se torna negligente, desobediente e presunçosa. Então o Senhor impõe um juízo sobre o Seu povo, que os faz retornar ao arrependimento.
O apelo ao Salmo 78 neste contexto da parábola do joio lembra poderosamente à igreja que, embora o crescimento do reino pareça uma bagunça, não devemos contribuir para a bagunça, porque “a boa semente são os filhos do reino” (Mt 13:38). A boa semente representa as pessoas que Deus está salvando. O povo da boa semente abraçará a justiça do reino. Buscarão conhecer e viver segundo a vontade de Deus. Esse é o argumento de Jesus. Ele está nos chamando para viver nessa confusão e ainda assim sermos fiéis. Além disso, Ele nos dá uma razão para não desanimarmos.
A maneira como o reino cresce
É interessante que, embora Jesus explique o significado da parábola do trigo e do joio em detalhes, Ele não explica a parábola do grão de mostarda ou a parábola do fermento. Acredito que isso acontece, dado que seu significado é bastante óbvio. Nelas, Ele transmite duas verdades.
Primeiro, na parábola do grão de mostarda, Jesus ressalta que, embora o joio e o trigo cresçam juntos, embora o reino cresça em um mundo misto, devemos lembrar que o reino cresce. Começa como uma pequena semente e, por fim, cresce até se tornar uma árvore na qual as aves do céu podem aninhar-se. Sim, o joio está crescendo, porém não perca o fato de que o reino também está crescendo. Este reino começou pequeno, em um lugar obscuro e sem importância do ponto de vista do mundo. Galileia nem era o centro de Israel, mas agora o reino cresceu tanto que seus ramos se estendem por todo o mundo. O reino cresce, indo de pequeno a grande.
Em segundo lugar, na parábola do fermento, vemos que o reino cresce. Ao fazer pão, basta adicionar um pouco de fermento à massa. Começa de forma parcial, mas se espalha por completo. O foco aqui não é apenas o crescimento em tamanho, mas a expansão; alcançar tudo ao seu redor. Não quer dizer que tudo se transforme no reino, mas sim que o reino cresce em todos os lugares. Isso faz parte da emoção da época em que vivemos. Temos capacidades tecnológicas para alcançar lugares que antes considerávamos inacessíveis. O fermento do reino está chegando a lugares que nos surpreendem. Embora possamos ficar surpresos, Jesus antecipou isso.
Em ambas as parábolas, Jesus está dizendo: “Em meio à confusão, não deixe de reconhecer o sucesso. Estou cumprindo Meu propósito.” Qual é o grande propósito de Jesus? Nenhum dos Seus eleitos se perderá. Ele reunirá todos os filhos e filhas do reino na casa de Seu Pai. Isso é um incentivo para nós.
O reino brilhará
Quando Jesus explica a parábola do joio, Ele sela Seu ensino com uma promessa: embora vivamos em uma época de crescimento misto, à medida que o reino cresce de forma gradual e se expande lentamente, está chegando o dia em que esse crescimento será completo. Está chegando o dia em que haverá uma colheita. Está chegando o dia em que esse processo de crescimento chegará ao fim, e o reino brilhará em sua perfeição. Enquanto o reino cresce, não devemos desanimar. Em vez disso, devemos nos concentrar nessa promessa.
Haverá um juízo no fim. É por isso que a tarefa para a qual Cristo nos chamou é tão séria. Jesus fala mais sobre o inferno do que qualquer outra pessoa nas Escrituras. Ele está falando sério sobre o que está por vir. Ele quer que as pessoas saibam que a vida não pode ser subestimada, que haverá um juízo e que aqueles que não resistirem ao juízo sofrerão com choro e ranger de dentes. É uma cena assustadora. Mas o encorajamento é que no dia da colheita, os filhos de Deus resplandecerão. Como Jesus afirma: “Os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai” (Mt 13:43).
Essa promessa deve nos encorajar quando nos deparamos com a bagunça, quando temos dificuldade em perceber o sucesso, quando vemos um mundo que parece tão resistente e indiferente. Está chegando o dia em que o reino resplandecerá e os filhos e filhas do reino serão movidos da obscuridade para a glória. O que antes era pequeno se torna grande, o que antes era misto se torna puro, o que antes era parcial se torna abrangente e, o mais importante, o que antes era mau se torna justo e resplandecerá na glória do reino do Pai.
Jesus nos aponta para o Pai neste processo de crescimento do reino. Não importa quão bagunçado pareça, nunca nos esqueçamos de que é o nosso amoroso Pai celestial quem está no comando. Ele se preocupa com nosso bem-estar e cumprirá Seus propósitos para o nosso bem maior.
Cristo está expandindo Seu reino. Ele está usando estratégias que podem nos surpreender, contudo, Ele cumprirá Seu propósito para que resplandeçamos como justos no reino de nosso Pai.
Artigo publicado originalmente em Ligonier.org.