A disciplina dos filhos como um testemunho
janeiro 20, 2025
Liberalismo: uma religião diferente
janeiro 23, 2025
A disciplina dos filhos como um testemunho
janeiro 20, 2025
Liberalismo: uma religião diferente
janeiro 23, 2025

A vida e o ministério de Robert Murray M’Cheyne

Nota do editor: Este é o décimo quarto de 14 capítulos da série da revista Tabletalk: Instruções para viver no reino: o Sermão do Monte.

Robert Smith Candlish estava conversando uma vez com Alexander Moody-Stuart. Teria sido incrível ouvir tal conversa, já que eram titãs evangélicos na Igreja da Escócia. No entanto, a história registrou apenas um assunto daquela antiga conversa. Candlish disse a Moody-Stuart que ele estava impressionado com um pastor que atraiu a atenção de Dundee: Robert Murray M’Cheyne. “Não consigo entender M’Cheyne”, expressou Candlish. A “graça parece natural para ele”.

Um troféu da graça

Robert Murray M’Cheyne (1813-43) continua cativando os cristãos quase dois séculos depois da sua morte, assim como fez com Candlish. As pessoas falavam do jovem pastor como “o homem mais parecido com Jesus” que já conheceram. Estudar M’Cheyne é observar um testemunho do Senhor soberano que “nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus” (2 Tm 1:9).

A graça de Deus é um fio profundamente tecido na tapeçaria da vida de M’Cheyne. A graça que converteu a alma de M’Cheyne das trevas também o comissionou como ministro das boas novas, do evangelho.

Salvação pela graça

Nascido em 1813, filho de Adam e Lockhart M’Cheyne, Robert era o caçula de cinco filhos. Desde o início, Robert demonstrou uma notável habilidade nos estudos e uma personalidade que sempre o posicionou entre os alunos mais populares da turma.  Adam lembrou com carinho como Robert, aos quatro anos de idade, aprendeu o alfabeto grego para se divertir enquanto se recuperava de uma doença. Com o tempo, Robert se interessava por ginástica, poesia, desenhos e leitura. Os dons naturais se destacavam em todas as iniciativas de M’Cheyne. Entretanto, a graça espiritual esteve ausente nos primeiros anos de Robert.

A família M’Cheyne participou de várias congregações da Igreja da Escócia durante a infância de Robert. Robert era um participante comprometido nas aulas de catecismo. Seus amigos mais adiante relembraram a clareza e a doçura com que ele recitava passagens bíblicas e respostas do Breve Catecismo de Westminster. No entanto, a piedade pública mascarou uma auto-justificação interna. 

Mais tarde, M’Cheyne considerou sua devoção religiosa inicial nada mais do que uma “moralidade sem vida”, refletia sobre aquele período como um tempo “em que ele nutria uma moralidade pura, mas no coração vivia como um fariseu”.

Robert era próximo de todos os seus irmãos, porém seu irmão mais velho, David, era um exemplo e mentor. Robert observava cada movimento de David. A alma de David havia passado por uma verdadeira conversão, e seu profundo entendimento das realidades eternas confrontou a complacência de Robert. Robert escreveu: “Me lembro bem de tê-lo visto lendo a Bíblia ou fechando a porta do quarto para orar, quando estava me vestindo para ir a alguma brincadeira, a algum baile ou loucura”.

Na providência de Deus, David foi o agente humano através do qual Robert recebeu nova vida em Cristo. Contudo, foi a morte de David, mais do que a sua vida, que levou Robert à plena convicção.

Em julho de 1831, David morreu em decorrência de uma febre intensa. No décimo primeiro aniversário do retorno de Davi ao lar celestial, Robert registrou: “Hoje, há onze anos, perdi meu amado e querido irmão, e comecei a procurar um Irmão que não pode morrer”. A busca de Robert o levou a The Sum of Saving Knowledge [O resumo do conhecimento para a salvação], uma pequena obra teológica comumente anexada à Confissão de Fé de Westminster. O livro declarou a forma de ser aceito por Deus e proporcionou a M’Cheyne a certeza da fé. Amigos comentaram sobre a evidente mudança em Robert. Ele logo se dedicou ao serviço cristão: escola dominical, leitura diligente das Escrituras e nutrindo-se no gracioso evangelho de Deus.

O chamado de Robert para o ministério foi quase simultâneo à sua conversão. Poucas semanas após se tornar cristão, Robert compareceu perante o Presbitério de Edimburgo e manifestou seu desejo de estudar para o ministério.

Estudo sobre a graça de Deus

Em novembro de 1831, Robert M’Cheyne matriculou-se no próspero Divinity Hall da Universidade de Edimburgo. Lá ele ficou sob a influência de Thomas Chalmers, que estava no seu auge. Chalmers ministrou cursos de Teologia e colocou M’Cheyne sob sua proteção, treinou o jovem em questões teológicas, ministeriais e espirituais.

O crescimento na graça e no conhecimento de Jesus Cristo marcou os anos de M’Cheyne no Divinity Hall. O crescimento na piedade correspondia à sua habilidade cada vez maior na Bíblia e na teologia. Seu diário está repleto de anseios pela semelhança com Cristo:

Que direito tenho eu de usar de forma inadequada o tempo do meu Mestre? “Redima-o”, Ele me adverte.

Não é uma característica que eu gostaria de manter na memória! No entanto, essas vinte e quatro horas devem ser justificadas.

Oh, que o coração e a compreensão possam crescer juntos, como irmão e irmã, e apoiar-se mutuamente!

Oh, uma humildade verdadeira e não fingida!

Anseios mais abundantes pelo trabalho do ministério. Oh, se Cristo me considerasse fiel, para que assim eu recebesse a missão de proclamar o evangelho!

A missão de proclamar o evangelho chegou logo depois que M’Cheyne concluiu seus estudos no seminário.

Um ministério pela graça

Robert Murray M’Cheyne tornou-se assistente de John Bonar no outono de 1835. Bonar era o ministro da igreja unida de Larbert e Dunipace. O breve período de M’Cheyne sob o comando de Bonar proporcionou várias oportunidades de pregação e consolidou uma característica de seu futuro padrão ministerial: a visitação pastoral. Bonar era um pastor fervoroso, visitava inúmeras almas e lares todos os dias. Robert disse a seus pais que gostava mais das visitas do que de qualquer outro aspecto do ministério.

Na primavera de 1836, a Igreja de São Pedro em Dundee procurava seu primeiro pastor. Robert Candlish achou que M’Cheyne era o melhor candidato e tentou garantir uma data ideal para a visita de M’Cheyne a Dundee. Foi assim, em agosto de 1836, que Robert pregou um sermão de candidatura baseado em Cântico dos Cânticos 2:8-17. A congregação reconheceu de imediato os dons e virtudes de M’Cheyne, já que a igreja unanimemente convidou M’Cheyne para ser o pastor.

Robert M’Cheyne teve um ministério bem-sucedido em Dundee durante os três anos seguintes, pregava duas vezes no Dia do Senhor para uma galeria de 1.100 pessoas. Integrou dez pastores no presbitério. Ele introduziu uma reunião de oração nas quintas-feiras à noite, participavam oitocentos membros. Durante os meses de verão, ele realizava “reuniões de canto” semanais, com o objetivo de melhorar a habilidade musical da congregação. Outras práticas inovadoras incluíram o aumento de momentos de comunhão de duas para quatro vezes por ano, que culminavam com a celebração da Ceia do Senhor. Em 1837, M’Cheyne iniciou uma Escola Dominical para alcançar crianças. Ele também estabeleceu um estudo bíblico às terças-feiras à noite para crianças mais velhas, que reunia mais de 250 jovens.

Os evidentes resultados positivos não acalmaram a inquietação do coração de M’Cheyne, uma inquietação por um avivamento. Desde 1836, M’Cheyne pregava e orava por um avivamento no país.

O Senhor respondeu à oração de Robert em 1839. Aconteceu que M’Cheyne não estava na cidade quando o avivamento começou.

No início daquele ano, M’Cheyne foi nomeado membro da que logo seria a famosa comissão de pastores na Terra Santa. A Igreja da Escócia nomeou um comitê para viajar de ida e volta à Terra Santa, e explorar locais potenciais para atividades missionárias entre os judeus. Em seu lugar, Robert colocou William Chalmers Burns no púlpito da Igreja de São Pedro. Embora jovem, Burns pregou o evangelho com uma unção notável. M’Cheyne sempre pensou que um avivamento aconteceria quando estivesse ausente. “Às vezes penso que uma grande bênção pode vir ao meu povo na minha ausência. Muitas vezes Deus não nos abençoa quando estamos no meio de nossos trabalhos, para que não digamos: ‘Minha mão e minha eloquência fizeram isso'”, comentou M’Cheyne.

O reavivamento de Dundee começou em agosto de 1839 por meio do ministério de Burns. Durante meses, as reuniões da igreja eram realizadas todas as noites. Quando M’Cheyne retornou, parecia que toda a cidade havia despertado, tamanha era a obra soberana do Espírito na salvação e na santificação.

Nos últimos anos de M’Cheyne, ele permaneceu fiel no ministério do evangelho. Trabalhou para estender a alegria do avivamento e fez campanhas nos assuntos da denominação. Também participou de várias viagens evangelísticas, era tão feliz na pregação evangelística que planejou se tornar um ministro itinerante.

Porém, o Senhor tinha outros planos.

No início de março de 1843, M’Cheyne contraiu a febre tifoide. Em 25 de março, enquanto estava doente, Robert levantou as mãos como se estivesse pronunciando uma bênção e então deu seu último suspiro. Ele tinha apenas 29 anos.

Viver pela graça

Uma carta de um visitante da Igreja de São Pedro permaneceu fechada na mesa de Robert M’Cheyne enquanto o pregador passava deste mundo para o outro. Alguém abriu a carta uma semana após sua morte.

Espero que perdoe um estranho por lhe dirigir algumas palavras. Ouvi você pregar no último sábado à noite, e agradou a Deus abençoar esse sermão em minha alma. Não foi tanto o que você disse, mas sim sua maneira de expressar, que me impressionou. Vi em você uma beleza da santidade que nunca tinha visto.

Todo o esplendor na vida e poder no ministério eram frutos da graça. M’Cheyne sabia que nada poderia ser feito por Cristo sem a graça de Cristo. “Oceanos insondáveis da graça estão em Cristo para você”, declarou M’Cheyne. “Mergulhe e mergulhe outra vez, você nunca chegará nas profundezas”. M’Cheyne sondou essas profundezas com um fervor especial por meio do estudo intenso das Escrituras, oração persistente, santificação do domingo e amor profundo por Cristo. 

Sua pregação era pouco mais que testemunhar o evangelho da graça de Deus. M’Cheyne possuía dons naturais e uma graça sobrenatural. Seu lema era “o amor de Cristo”. Portanto, sua vida foi uma epístola viva à graça de Cristo.


Este artigo foi publicado originalmente na TableTalk Magazine.

Jordan Stone
Jordan Stone
O Dr. Jordan Stone é pastor na Redeemer Presbyterian Church em McKinney, Texas, e professor assistente de Teologia Pastoral no Seminário Teológico Reformado em Dallas. Ele é autor de vários livros, entre eles A Holy Minister: The Life and Spiritual Legacy of Robert Murray M'Cheyne [Um ministro santo: a vida e o legado espiritual de Robert Murray M’Cheyne].