
Bem-aventurados os pacificadores
julho 27, 2022
Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem
julho 29, 2022Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça

A
s bem-aventuranças começam com atitudes para com Deus — pobreza espiritual, pranto, mansidão, e fome — e progridem para preocupações humanas —misericórdia, pureza, e pacificação— antes de concluir em Mateus 5:10 com a inevitável realidade da perseguição e insultos (ver também Mt. 10:22; Jo. 15:20). Mas essa inevitabilidade desagradável traz consigo a promessa de participação na vida divina, pois disso se trata a verdadeira “bem-aventurança”: comunhão com o Deus “bendito” (1 Tm. 1:11; 6:15; Tt. 2:13).
O sofrimento descrito aqui não são os cardos e abrolhos da queda em geral (Rm. 8:18-25); nem a perseguição devida à hipocrisia, julgamento ou apenas uma antipatia. Certamente não se trata do delírio de perseguição devido a uma alta sensibilidade que tem mais a ver com a política identitária do que com o custo do discipulado. Não ousamos trivializar a perseguição dessa forma quando há irmãos e irmãs que estão sendo presos por regimes opressivos e morrendo nas mãos de extremistas. O sofrimento que traz consigo uma bênção aqui é o sofrimento por causa da justiça: ser perseguido por fazer a vontade do nosso Mestre. Para receber a promessa dessa bem-aventurança, a perseguição deve ser por ter feito a vontade justa dEle (1 Pe. 3:8-17). Somente assim será nosso o “reino dos céus.” A frase de Mateus, sinônimo de “reino de Deus,” é seu modo de nos lembrar que o governo justo de Deus (nos céus) não é o caminho do homem (Is. 55:9). Aqueles que são perseguidos por causa da justiça estão vivendo os caminhos de Deus no meio de um mundo que não os respeita e irá até rejeitá-los. O significado original da palavra “perseguição” indica que ser perseguido pode ser de forma violenta e extrema ou de formas mais sutis como a ridicularização, desprezo, marginalização e exclusão.
Esta bem-aventurança de Cristo nos ajuda de diversas maneiras. Primeiro, é nossa. Quando somos perseguidos por causa da justiça e pensamos se somos dignos dela, podemos permanecer seguros de que o reino dos céus é nosso. Em segundo lugar, é uma fonte de alegria porque nela nós somos identificados com nosso Senhor (Mt. 10:25; At. 5:41). Terceiro, é uma placa de sinalização que nos guia pelo caminho de Jesus. O caminho da cruz não é uma disciplina eletiva na escola de Cristo (Mt. 10:24-25). Não há outro caminho para a vida exceto o caminho cruciforme. Quarto, nos convida a fazer uma avaliação quando não estamos experimentando perseguição. Todos que vivem piedosamente serão perseguidos (2 Tm. 2:12). Devemos ficar atentos a nós mesmos quando o mundo só tem coisas boas a dizer sobre nós (Lc. 6:26). A ausência de perseguição pode ser porque nós estamos nos conformando muito bem com o mundo. Como disse Dietrich Bonhoeffer, pode significar que tenhamos trocado discipulado por cidadania.
Finalmente, a perseguição testifica a nossa união com Cristo. Em Filipenses 3:8-11, Paulo relata como o perseguidor se tornou perseguido e que, ainda que tenha perdido tudo que antes estimava, ele ganhou Cristo e a justiça que vem através da fé (v. 9). O propósito ou objetivo de considerar tudo como perda é conhecer a Cristo e o poder da Sua ressurreição juntamente com a participação nos sofrimentos de Cristo. Se quisermos ser participantes em Sua vida é necessário se tornar como Jesus em Sua morte. A união com Cristo significa participar em todas as coisas que são de Cristo, incluindo a rejeição, a injúria e a perseguição que Ele sofreu. Se sofremos com Ele, o reino dos céus é verdadeiramente nosso. Com esse conhecimento, seremos capazes de perseverar com alegria nas provações e responder aos nossos perseguidores com uma bênção (Tg. 5:1; 1 Pe. 3:9).