
Como ler poesia hebraica?
outubro 1, 2025Como ler a literatura sapiencial?

Nota do Editor: Este artigo faz parte da coleção sobre Hermenêutica
“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pv 9:10; veja também Jó 28:28; Sl 111:10; Pv 1:7). Embora tenha havido muitos professores não cristãos inteligentes ao longo da história, toda a verdadeira sabedoria vem, em última análise, “do alto”, isto é, do Deus trino (Ef 1:17; Cl 2:3; Tg 3:15, 17). A verdadeira plenitude da sabedoria só é alcançada por aqueles que têm reverência e adoram o único Deus verdadeiro.
Ainda há mais a ser dito, porque nem todos os cristãos demonstram sabedoria em suas vidas. Na verdade, os cristãos muitas vezes agem de forma tola e irresponsável, e trazem vergonha para si mesmos e para o nome de Deus (p. ex., Ez 36:20; Rm 2:24; 1 Co 6:5; 1 Co 15:34). As Escrituras ensinam que a sabedoria será dada àqueles que a pedirem (Tg 1:5). Em particular, o Espírito Santo inspirou diversos livros sapienciais, como Provérbios, Jó e Eclesiastes, exatamente para esse propósito. Como um cristão deve ler a literatura sapiencial de forma proveitosa?
1. Reconheça como é fácil nos tornarmos sábios aos nossos próprios olhos.
Primeiro, devemos ler a literatura sapiencial reconhecendo quão fácil é para os pecadores se tornarem “sábios aos seus próprios olhos”. O livro de Provérbios fala várias vezes deste sério problema (Pv 3:7; 12:15; 26:5; 28:11; também Is 5:21). Na verdade, uma pessoa sábia “aos seus próprios olhos” está em pior situação do que um “insensato” bíblico (Pv 26:12). Sinais dessa doença espiritual incluem a recusa em ouvir os conselhos de piedosos (Pv 26:16), sobretudo dos pais (Pv 1:8; 4:1; 23:22; 30:17), e a insistência em vencer todas as discussões (Ec 7:15-16). É importante evitar reagir impulsivamente e reforçar a própria visão quando desafiado por irmãos espiritualmente maduros Em vez disso, os cristãos devem sempre demonstrar um espírito receptivo ao ensino.
2. Procure padrões gerais.
Em segundo lugar, devemos ler a literatura sapiencial para aprender padrões gerais de como o mundo normalmente funciona e agir conforme esses padrões. De modo geral, aqueles que andam no “temor do Senhor” e que buscam praticar a instrução de Deus experimentam graus de florescimento é “como árvore plantada junto a corrente de águas” (Sl 1:3). Embora o termo “sabedoria convencional” seja por vezes visto com desdém, porém, na verdade, a própria Bíblia reúne abundante estoque dessa sabedoria para transmitir às gerações sucessivas do povo de Deus. Os leitores fariam bem em dar ouvidos a essa sabedoria convencional em vez de exibi-la e presumir que serão exceções às regras gerais de como as coisas funcionam. O cristão que pensa, por exemplo, que pode florescer espiritualmente enquanto evita as reuniões corporativas da igreja está ignorando não apenas o apelo das Escrituras, mas também a sabedoria de muitos crentes ao longo da história que experimentaram uma bênção inestimável que só pode ser alcançada quando a igreja se reúne em nome de Cristo (Mt 18:20).
3. Observe as exceções às “regras”.
Terceiro, devemos ler a literatura sapiencial para observar “exceções às regras” marcantes, que revelam a necessidade de discernimento e uma dependência constante do Senhor. A experiência de Jó e os ensinamentos frequentes do livro de Eclesiastes testificam que há momentos em que os padrões gerais da vida não se aplicam. Assim, às vezes, os justos sofrem em vez de prosperar, e os insensatos desfrutam do sucesso ao invés das dificuldades. Para mencionar um exemplo do Novo Testamento, sob algumas circunstâncias terríveis a Bíblia recomenda que os crentes se abstenham do casamento (1 Co 7:25-26), ainda que, em geral, espere que a maioria dos crentes encontre uma “auxiliadora idônea” com quem formar uma família e exercer domínio sobre a terra (Gn 1:26-30; Gn 2:18-25). Ao perceber que há exceções aos padrões gerais, o crente deve enfrentar cada situação em seus próprios termos, em oração, pedindo sabedoria e discernimento ao Senhor para saber como agir melhor para Sua glória.
4. Aprenda a exercer discernimento e dependência do Senhor.
Quarto, devemos ler a literatura sapiencial para aprender a discernir quais são as opções “melhores” ou “ótimas” em uma situação específica, não necessariamente qual é o único curso de ação “certo” ou “errado”. As Escrituras, de fato, apresentam diversas normas absolutas sobre o que é certo ou errado, ou o que é ordenado ou proibido. Contudo, muitas decisões na vida envolvem mais do que apenas a consideração do que é certo ou errado. Por exemplo, o crente que aceita a exigência bíblica de se casar “no Senhor” (1 Co 7:39; compare com 2 Co 6:14) ainda tem várias opções para escolher um cônjuge. Um cristão precisará de sabedoria e discernimento para identificar quais opções são mais compatíveis para ele ou ela. Muitas outras decisões na vida (educação, carreira, local de residência, etc.) não se resumem a escolhas diretas entre alternativas certas ou erradas, mas entre uma variedade de opções “boas, melhores ou ótimas”. Felizmente, nas Escrituras, o Senhor concedeu aos crentes uma grande riqueza de ensinamentos de sabedoria e prometeu a bênção do Espírito àqueles que com humildade pedem (Lc 11:13).
Artigo publicado originalmente em Ligonier.org.