Depois de “Roe x Wade”: Qual é a nossa obrigação agora?
julho 8, 2022Somos reformados
julho 14, 2022Entristecidos, mas sempre alegres
O que eu chamo de “hedonismo cristão” é uma forma de viver enraizada na convicção de que Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos nEle. As implicações dessa convicção são abrangentes e emocionantes, incluindo a verdade surpreendente de que toda virtude verdadeira e toda adoração verdadeira necessariamente incluem a busca pela felicidade em Deus.
A razão para isto é que toda virtude verdadeira e toda adoração verdadeira devem envolver a intenção de glorificar a Deus. Isso porque fomos criados para glorificar a Deus (Is. 43:7), e também porque Paulo disse: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (1 Co. 10:31). Então é pecado buscar qualquer boa obra ou qualquer ato de adoração sem a intenção de glorificar a Deus.
Mas Deus não é glorificado quando O consideramos menos agradável do que outras coisas. Ele é menosprezado. Sabendo disso, não podemos ser indiferentes em relação a considerarmos Deus agradável nas ações que praticamos. Em todas essas ações, se queremos glorificar a Deus, devemos ter como objetivo considerá-lo mais agradável do que qualquer outra coisa.
Quando Jesus disse: “Mais bem-aventurado é dar que receber” (At. 20:35), Ele não quis dizer que devamos ignorar esse fato quando dermos. Na verdade, nesse mesmo texto onde Paulo cita Jesus, o apóstolo diz que devemos nos “recordar” disso quando damos. O desejo por bem-aventurança quando damos aos outros é apenas egoísta e avaro se a bem-aventurança que desejamos não é o próprio Deus e não temos como objetivo levar outros conosco à essa alegria por meio do que damos.
Uma frase amada
Mas tudo isso não chega ao ethos — a sensação, o espírito, o humor e o tom — do hedonismo cristão. A frase bíblica que tenho usado mais do que qualquer outra para capturar o tom disso é tirada de 2 Coríntios 6:10: “Entristecidos, mas sempre alegres.” No entanto, raramente comento exegeticamente ou faço ilustrações sobre esse texto. Quero fazer as duas coisas brevemente.
Em 2 Coríntios 6:3-10, Paulo está ilustrando que seu estilo de vida não tem sido pedra de tropeço no caminho de ninguém (v. 3); pelo contrário, ele elogia a si próprio como uma pessoa autêntica em tudo o que faz, com trinta formas de experiência.
Dentre essas trinta está: “entristecidos, mas sempre alegres.” Isso ocorre dentre diversos pares similares: “como enganadores e sendo verdadeiros; como desconhecidos e, entretanto, bem-conhecidos; como se estivéssemos morrendo e, contudo, eis que vivemos; como castigados, porém não mortos; entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo” (2 Co. 6:8-10).
O que é verdadeiro sobre Paulo
Certa vez me perguntaram porque trato “entristecido” como algo verdadeiro sobre Paulo quando outras formas de experiência nessa lista contém algo falso que é corrigido em seguida (por exemplo, “como enganadores e sendo verdadeiros”). Talvez Paulo queria dizer que é visto como “entristecido” mas na verdade não o é; pelo contrário, ele é sempre alegre.
A razão pela qual não acho que é isso o que Paulo quer dizer isso é que ele passa de pares que contrastam falso e verdadeiro (tais como “enganadores e sendo verdadeiros”) para pares nos quais ambos são verdadeiros (tais como “pobres, mas enriquecendo a muitos”).
Na forma de pensar de Paulo, “desconhecido”, “morrendo”, “castigado”, “entristecido”, “pobre,” e “nada tendo” são todos verdadeiros a seu respeito. Então, no começo do versículo 9, ele passa de afirmações falsas que são corrigidas por verdadeiras e começa a listar pares nos quais ambos são verdadeiros mas formam um certo paradoxo: desconhecido/bem-conhecido, morrendo/vivendo, castigado/não morto, entristecidos/alegres, pobres/enriquecendo.
Então, sim, Paulo pensa sobre si próprio verdadeiramente como “entristecido.” Isso não é nenhuma surpresa em vista de Romanos 9:2-3, “… tenho grande tristeza e incessante dor no coração…[por] meus compatriotas, segundo a carne.” Incessante tristeza e angústia. Incrível.
Se isso era verdadeiro a respeito do grande apóstolo da alegria, quanto mais é verdadeiro a nosso respeito? Certamente, nossas vidas serão marcadas por tristezas (e alegria) contínuas também. Se não forem, pode ser que não amemos pessoas perdidas da forma que Paulo fazia.
Uma alegria significante
Portanto, o ethos do hedonismo cristão não é uma alegria ou felicidade que é relaxada, superficial, jocosa, insignificante, mesquinha, boba ou cômica. O hedonismo cristão poderia ser expresso com gargalhadas, mas isso tem pouco a ver com a frivolidade prevalecente que quase não tem espaço para uma alegria significante.
C. S. Lewis disse em suas Cartas a Malcolm: “Alegria é o assunto sério do céu.” Amém. E escreveu em suas Reflexões Cristãs: “Nós precisamos brincar. Mas nossa alegria precisa ser do tipo (e é, de fato, o tipo mais alegre) que existe entre pessoas que levem, desde o princípio, umas às outras a sério, sem hipocrisia, sem superioridade, sem presunção.”
Há um coração terno que se alegra com aqueles que se alegram e chora com aqueles que choram, simultaneamente. Às vezes um transparece; às vezes o outro. Mas cada um dá sabor ao outro. Você pode experimentar o sabor peculiar dessa alegria e dessa tristeza.