O gemido da nossa alegria
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julho 12, 2022Depois de “Roe x Wade”: Qual é a nossa obrigação agora?
As circunstâncias mudam. As leis, os tribunais e os governos vêm e vão. As eleições levantam e derrubam os poderosos. A opinião pública aumenta e diminui. Mas, apesar de tudo isso, o chamado e a responsabilidade dos cristãos neste pobre mundo caído continuam a ser os mesmos.
Nosso posicionamento pela vida não nos foi imposto pela primeira vez pela Suprema Corte dos Estados Unidos em 1973 no caso “Roe x Wade”, e não estamos isentos dessa responsabilidade mesmo com a decisão que tomaram de derrubar o precedente neste ano. O movimento pró-vida não é um fenômeno ou uma inovação recente. Pelo contrário, tem mais de dois mil anos de existência. Foi inaugurado em uma velha cruz áspera cruz, na colina chamada Calvário. É mais conhecido como cristianismo. Cuidar dos desamparados, dos necessitados e dos rejeitados não é apenas o que fazemos; é quem somos. Sempre foi. Sempre será.
A vida é uma dádiva de Deus. É Seu dom de graça sobre todas as coisas criadas, que flui na fecundidade geradora. A terra está literalmente cheia de vida (Gn. 1:20; Lv. 11:10; 22:5; Dt. 14:9). E a glória suprema dessa abundância sagrada é a humanidade, feita à imagem de Deus (Gn. 1:26-30; Sl. 8:1-9). Violar a santidade dessa magnífica dádiva é ir contra tudo o que é santo, justo e verdadeiro (Jr. 8:1-17; Rm. 8:6).
Tristemente, na queda, a humanidade foi destinada repentinamente à morte (Jr. 15:2). Naquele momento todos ficamos vinculados a uma aliança com a morte (Is. 28:15). “Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte” (Pv. 14:12; 16:25).
…Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue,nos seus caminhos, há destruição e miséria; desconheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos (Rm. 3:10-18)
Então, não é de se espantar que o aborto, o infanticídio, a exposição e o abandono de recém-nascido sempre tenham sido um aspecto comum das relações humanas caídas. Desde a queda, os homens têm inventado estratégias inovadoras para satisfazer suas paixões depravadas. E o assassinato de crianças tem sido sempre a principal delas.
Praticamente todas as culturas da antiguidade se mancharam com o sangue de crianças inocentes. Na Roma Antiga, as crianças rejeitadas eram abandonadas fora dos muros da cidade para morrer de exposição ou de ataques de animais selvagens. Os gregos frequentemente davam a suas mulheres grávidas fortes quantidades de ervas ou medicamentos abortivos. Os persas desenvolveram procedimentos cirúrgicos altamente sofisticados de curetagem uterina. Os cananeus primitivos arremessavam seus filhos em grandes fogueiras como sacrifício ao seu deus Moloque. Os egípcios se livravam de seus filhos rejeitados estripando-os e esquartejando-os imediatamente após o nascimento, o colágeno era recolhido ritualmente para a fabricação de cremes cosméticos. Nenhuma das grandes mentes do mundo antigo — de Platão e Aristóteles a Sêneca e Quintiliano, de Pitágoras e Aristófanes a Lívio e Cícero, de Heródoto e Tucídides a Plutarco e Eurípides — criticou de alguma maneira o assassinato de crianças. Na verdade, a maioria deles recomendou fazê-lo. Abordaram insensivelmente os vários métodos e procedimentos. Debateram descontraidamente as diversas ramificações legais. Jogaram alegremente com as vidas como se fossem dados. De fato, o aborto, o infanticídio, a exposição e o abandono de recém-nascido estavam tão estabelecidos nas sociedades que serviram como o principal leitmotiv literário nas tradições populares, histórias, mitos, fábulas e lendas, de Rômulo e Remo a Édipo, Poseidon, Esculápio, Hefesto e Cibele.
Mas graças a Deus, o Deus, que é o doador da vida (At. 17:25); o manancial da vida (Sl. 36:9); o defensor da vida (Sl. 27:1); o Príncipe da vida (At. 3:15) e o restaurador da alma (Rt. 4:15), não deixou que os homens se debilitassem irremediavelmente nas garras do pecado e da morte. Ele não apenas nos enviou a mensagem da vida (At. 5:20) e as palavras da vida (Jo. 6:68), mas também nos enviou a luz da vida (Jo. 8:12). Nos enviou Seu Filho unigênito — a vida do mundo (Jo. 6:51) — para romper os laços de morte (1 Co. 15:54-56). Jesus provou “a morte por todos” (Hb. 2:9), na verdade por nós “aboliu a morte” (2 Tm. 1:10) e nos deu uma nova vida (Jo. 5:21).
A Didaquê, um dos primeiros documentos cristãos — aliás condiz com grande parte do Novo Testamento — afirma que “há dois caminhos: um de vida e outro de morte”. Em Cristo, Deus nos deu a oportunidade de escolher entre esses dois caminhos: escolher entre a vida frutífera e abundante por um lado e a morte estéril e empobrecida por outro lado (Dt. 30:19).
Sem Cristo, não é possível escapar das armadilhas do pecado e da morte (Cl. 2:13). Por sua vez, “se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Co. 5:17).
O conflito principal na história sempre foi e sempre será a luta da igreja pela vida contra as inclinações naturais de todos os homens em todos os lugares. Esta foi a causa muito antes de “Roe x Wade” e será a mesma muito depois, enquanto o Senhor tardar.
Então, depois de “Roe x Wade”, qual é a nossa obrigação agora? A mesma de sempre: baseados no evangelho devemos ser defensores de tudo o que é verdadeiro, justo e bom. Devemos cuidar dos pobres, daqueles que sofrem e dos excluídos. Devemos expressar a verdade em amor. Devemos lembrar às nossas autoridades as suas responsabilidades. Devemos discipular. Devemos ser inflexíveis na proclamação das boas novas, que transformam tudo. Nossas intercessões e esforços devem ser incessantes.
Nossos centros locais de gravidez em crise precisam de nosso apoio como nunca antes. Nossos púlpitos precisam ecoar com urgência prática, pastoral e profética como nunca antes. E precisamos nos lembrar da gloriosa promessa de Deus como nunca antes: “Eis que faço coisa nova, que está saindo à luz; porventura, não o percebeis? Eis que porei um caminho no deserto e rios, no ermo” (Is. 43:19).