Graça e compaixão infinitas e sem limites - Ministério Ligonier
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Graça e compaixão infinitas e sem limites

A descrição mais frequente do Novo Testamento sobre o crente, e de fato a mais básica, é que ele ou ela é uma pessoa “em Cristo”. Essa expressão e suas variantes dominam grandemente o ensino dos apóstolos. E uma das pistas que as Escrituras dão para nos ajudar a entender o que isso significa é expressar nossa união com Cristo em termos do que Owen chama de “relações conjugais” ou, como diríamos, “casamento”. Por meio do ministério do Espírito e pela fé, nos tornamos unidos a Cristo, “um” com Cristo, da mesma forma que um homem e uma mulher “se tornam uma só carne” no vínculo matrimonial. Essa imagem, já presente no Antigo Testamento (Is 54:5; 61:10; 62:5; Ez 16:1-22; cf. o livro de Oséias), se cumpre no Novo Testamento no relacionamento entre Cristo e Sua Igreja. Cristo se regozijou com essa perspectiva na eternidade e a tornou realidade no tempo, ao suportar a humilhação, a dor e a angústia da cruz. Cristo, em toda a Sua graça salvadora e encanto, é oferecido a nós no evangelho. O Pai traz a Seu Filho a noiva que preparou para Ele e pergunta a ambas as partes se elas se aceitam mutuamente: ao Salvador se Ele aceita pecadores como Seus; aos pecadores se aceitam o Senhor Jesus como Salvador, marido e amigo.

Assim como muitos de seus contemporâneos, Owen viu essa união e comunhão espiritual entre Cristo e o crente prefigurada e descrita no livro de Cântico dos Cânticos de Salomão, do Antigo Testamento. Sua exposição sobre o encanto de Cristo para o cristão é muito influenciada pelas descrições do Amante e pelas expressões de afeto do Amado. Embora sua análise fosse típica daquela época, poucos comentaristas de hoje estariam de acordo nos detalhes de sua exegese.

Mas o que é primordial e marcante no pensamento de Owen é que ser cristão envolve uma profunda afeição por Cristo. Ele é uma pessoa que deve ser conhecida, admirada e amada. Portanto, a comunhão com Cristo envolve uma “renúncia mútua” ou entrega entre nós e Ele. Há “graça e compaixão infinitas e sem limites” em Cristo, uma “plenitude de graça na natureza humana de Cristo” de tais proporções que, afirma Owen (em uma impressionante explosão de admiração e louvor):

Se todo o mundo (se assim posso dizer) se propusesse a usufruir de graça, misericórdia e perdão gratuitos, tirando água continuamente dos poços da salvação; se eles se propusessem a tirar água de uma única promessa, com um anjo ao lado e clamando: “Bebam, meus amigos, sim, bebam abundantemente, tomem tanta graça e perdão que sejam abundantemente suficientes para o mundo de pecado que há em cada um de vocês”, não seriam capazes de diminuir o nível desses poços da graça da promessa nem por um fio de cabelo. Há o suficiente para milhões de mundos, se existissem, porque ela flui de uma fonte infinita.

Assim, tornar-se um cristão é, para Owen, sentir o peso das palavras do Senhor em Oséias 3:3 como se fossem ditas pessoalmente a nós: “Você viverá comigo por muitos dias; você não será mais prostituta nem será de nenhum outro homem, e eu viverei com você.” Em resposta, submetemos nossa vontade a Cristo e ao caminho de salvação que Deus providenciou nEle, e expressamos:

Senhor, gostaria de ter tido a Ti e a salvação a meu modo, para que fosse em parte por meus esforços e, por assim dizer, pelas obras da lei; agora estou disposto a receber-te e a ser salvo a Teu modo, apenas pela graça: E embora tivesse andado de acordo com minha própria mente, agora me entrego totalmente para ser governado por Teu Espírito; pois em Ti tenho justiça e força, em Ti sou justificado e me glorio.

Então, isso leva à comunhão com Cristo quanto às graças de Sua pessoa. Isso é receber o Senhor Jesus em Sua beleza e eminência. Que os crentes exercitem seus corações abundantemente com essa finalidade. Essa é a escolha da comunhão com o Filho Jesus Cristo.

É claro que é difícil para nós lermos passagens como essa — por mais pitoresca que a linguagem possa parecer à primeira vista — sem sentirmos nosso coração explodir ao tentarmos compreender a magnitude do que aconteceu conosco ao chegarmos à fé em tal Salvador. Não importa a extensão do nosso pecado, a graça de Deus é ainda maior. Meditar sobre isso, saborear as águas de uma fonte tão pura, certamente é conhecer a “alegria indizível e gloriosa” (1 Pe 1:8).

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.

Sinclair B. Ferguson
Sinclair B. Ferguson
O Dr. Sinclair B. Ferguson é professor da Fraternidade de Ensino de Ligonier Ministries e professor Chanceler de Teologia Sistemática no Reformed Theological Seminary. Ele é autor de vários livros, incluindo Maturity.