Igreja: uma, santa, católica e apostólica - Ministério Ligonier
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Igreja: uma, santa, católica e apostólica

Nota do editor: Este é o primeiro de 5 artigos da coleção: Igreja: uma, santa, católica e apostólica.

“Uma nação sob Deus, indivisível, com liberdade…” Nós dizemos isso. Debatemos sobre isso (em especial a parte “sob Deus”). Mas será que isso é verdade? De fato, quão unidos são os Estados Unidos? A “união mais perfeita” buscada por Lincoln dificilmente é perfeita em termos de harmonia. Somos uma nação — moral, filosófica e religiosamente — muito dividida. No entanto, permanece a casca externa da unidade formal e organizacional. Temos uma união sem unidade.

Assim como acontece com os Estados “Unidos”, o mesmo ocorre com a unidade da igreja cristã. A “unidade” da igreja é um dos quatro termos descritivos clássicos para definir a igreja. Segundo o Concílio de Niceia (325 d.C.), a Igreja é: uma, santa, católica e apostólica.

Na atualidade, poucas igrejas dão muita importância ao fato de serem apostólicas. Menos ainda parecem se preocupar com a dimensão de ser santa. Quando essas duas qualidades se tornam irrelevantes para as mentes das pessoas da igreja, é uma mera quimera falar de catolicidade e unidade.

A igreja, em termos organizacionais, está irremediavelmente fragmentada. Desde o nascimento do “movimento ecumênico”, a igreja tem visto mais divisões do que fusões. A crise de desunião está nas capas dos jornais após a decisão da Igreja episcopal de consagrar um homossexual praticante e impenitente ao cargo de bispo.

A unidade é uma falsa esperança? Será que, em suas expressões históricas, é apenas uma ilusão? Para responder a essas perguntas, precisamos considerar a natureza da unidade da Igreja.

Em primeiro lugar, a unidade mais profunda e significativa da Igreja é a unidade espiritual. Embora nunca possamos separar o formal do material com relação à unidade da Igreja, podemos e devemos distingui-los.

Foi Agostinho quem ensinou bastante sobre a distinção entre a igreja visível e a igreja invisível. Com essa distinção clássica, Agostinho não imaginou dois corpos eclesiásticos separados, um aparente a olho nu e outro além do escopo da percepção visual. Será que ele imaginou uma igreja “subterrânea” e outra acima do solo, à vista de todos?

Não, ele estava descrevendo uma igreja dentro de uma igreja. Agostinho seguiu a sugestão do ensinamento de nosso Senhor de que, até que Ele purifique Sua Igreja na glória, ela continuará neste mundo como um corpo que incluirá o “joio” junto com o “trigo”. O joio é a erva daninha que cresce junto com as flores no jardim de Cristo.

Devido à presença simultânea de trigo e joio na Igreja, sabemos que os crentes coexistem com os incrédulos, os regenerados ao lado dos não regenerados. Foi essa situação que levou Agostinho a descrever a Igreja como um “corpo misto” (corpus permixtum). A Igreja invisível é aquela formada pelos verdadeiros crentes. É a Igreja composta pelos regenerados ou, como observou Agostinho, os “eleitos”.

Jesus deixou claro que há alguns, de fato muitos, que professam a fé, mas não a possuem. Sua advertência penetrante é o clímax do Sermão do monte:

Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade (Mt 7:21-23).

Em outro lugar, Jesus expressou que as pessoas o honravam com os lábios enquanto seus corações estavam longe dEle. A alegação nos lábios do joio é que eles trabalharam para Cristo. No entanto, Jesus os dispensará. Ele lhes pedirá (ou melhor, ordenará) que saiam. Ele declarará que nunca fizeram parte de Sua verdadeira Igreja. “Nunca vos conheci”. Essas não são ovelhas que se tornaram bodes. São os filhos e filhas de Judas que eram incrédulos desde o início.

Notamos também que Jesus afirmou que o número desses crentes que se autoproclamam e não são de fato regenerados, como sendo “muitos”. Isso deve provocar cautela em nossas suposições sobre o sucesso de nossos métodos e técnicas de evangelismo. Tendemos a ser bastante otimistas com nossas “estatísticas evangelísticas” quando presumimos a conversão de todos os que atendem a um chamado no altar, fazem uma “decisão por Cristo” ou recitam a “oração do pecador”. Essas ferramentas podem ajudar a medir as profissões externas, porém não nos dão um vislumbre do coração. Tudo o que podemos ver da profissão de uma pessoa são seus frutos. E até mesmo os frutos podem ser enganosos. Deus, e apenas Ele, pode ler o coração humano. Nosso olhar não pode penetrar além da aparência externa.

Agostinho também sustentava que a Igreja invisível existe substancialmente dentro da igreja visível. Pode haver casos raros em que um verdadeiro crente nunca se conecte com uma Igreja visível se for na providência divina impedido. O ladrão na cruz nunca teve a oportunidade de participar de aulas para novos membros em uma igreja local.

Entretanto, na maioria das vezes, os verdadeiros membros da Igreja invisível de Cristo são encontrados na igreja visível. Ainda que a Igreja visível à qual uma pessoa verdadeiramente regenerada possa pertencer seja diferente da igreja à qual outra pessoa regenerada pertence, os dois crentes já estão, na realidade, unidos na única Igreja verdadeira e invisível.

A união dos crentes está fundamentada na união mística de Cristo e Sua Igreja. A Bíblia fala de uma transação de mão dupla que ocorre quando uma pessoa é regenerada. Toda pessoa convertida se torna “em Cristo” ao mesmo tempo em que Cristo entra no crente. Se estou em Cristo e você está em Cristo, e se Ele está em nós, então experimentamos uma profunda unidade em Cristo.

A oração sacerdotal de Jesus em João 17 em favor da unidade de Sus seguidores não foi um fracasso ou uma súplica que não se cumpriu. Deus se agradou em garantir uma unidade entre os fiéis que, embora invisível, é, contudo, real. É um vínculo comum fundamentado em um só Senhor, uma só fé e um só batismo.

Publicado originalmente em Tabletak Magazine.

R.C. Sproul
R.C. Sproul
O Dr. R.C. Sproul foi fundador do Ministério Ligonier, primeiro pastor de pregação e ensino da Saint Andrew's Chapel em Sanford, Flórida, e primeiro presidente da Reformation Bible College. Seu programa de rádio, Renewing Your Mind, ainda se transmite diariamente em centenas de estações de rádio ao redor do mundo e também pode ser ouvido online. Ele escreveu mais de cem livros, entre eles A Santidade de Deus, Eleitos de Deus, Somos todos teólogos e Surpreendido pelo sofrimento. Ele foi reconhecido em todo o mundo por sua defesa clara e convincente da inerrância das Escrituras e por declarar a necessidade que o povo de Deus tem em permanecer com convicção em Sua Palavra.