Esposas de presbíteros
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Nota do editor: Este é o último de 7 capítulos da série da Revista Tabletalk: Providência.
Imagino que a maioria de nós já tenha passado por isso: estamos dirigindo por uma estrada acima do limite de velocidade estabelecido e, de repente, notamos um carro da polícia à frente no acostamento. Reduzimos imediatamente a velocidade até o limite de velocidade, apenas para descobrir, ao passarmos pelo carro da polícia que está vazio. A mera presença da lei incorporada naquele carro de polícia desocupado restringiu nossa ilegalidade, pelo menos por um momento.
No século XVI, os reformadores protestantes identificaram três “usos” da lei de Deus: o uso civil (uma coleira que restringe nossa corrupção), o uso pedagógico (um espelho que revela nossa pecaminosidade e nos aponta para Jesus Cristo como o único Salvador dos pecadores), e o uso normativo (uma régua que nos orienta em como agradar a Deus). A Igreja às vezes pensa na função restritiva da lei como limitada aos não regenerados, que precisam da ameaça de punição ou do medo da vergonha para impedi-los de serem tão maus quanto poderiam ser se deixados em seus próprios corações caídos. No entanto, é vital reconhecer que a lei de Deus também inibe o pecado que habita naqueles que nasceram de novo, que essa função da lei é uma das maneiras pelas quais Deus capacita Seu povo a ser a cidade em uma colina que Ele quer que sejamos.
A Confissão de Fé de Westminster 19.6 fala diretamente a esse propósito frequentemente negligenciado dos mandamentos de Deus para o crente em Jesus. Depois de reconhecer que os cristãos genuínos “não estão sob a lei, como um pacto de obras, para serem por ela justificados ou condenados”, a Confissão afirma que os usos normativos e pedagógicos da lei são continuamente operativos na vida do santo. Os teólogos de Westminster afirmam que a lei também serve como uma represa para evitar que uma torrente de impiedade irrompa do cristão: “Ela é também de utilidade aos regenerados a fim de conter a sua corrupção.” Como a lei de Deus refreia o crente?
Em primeiro lugar, a lei proíbe diretamente o pecado. Antes da conversão, não nos importávamos que a lei de Deus proibisse o pecado. Agora que somos habitados pelo Espírito de Deus, o mero fato de nosso Pai celestial nos dizer para não fazermos algo nos impede de contrariar a lei, pois não queremos desagradá-lo. Afeta-nos profundamente o fato de que a desobediência seja transgressão da vontade de nosso Pai (Tg. 2:11), e com o salmista ansiamos por obedecer à lei de Deus, que nos retém da maldade: “De todo mau caminho desvio os pés, para observar a tua palavra” (Sl. 119:101).
Em segundo lugar, as ameaças da lei nos lembram o que nossos pecados merecem, embora sejam cobertos pelo sangue e justiça de Jesus. Perceber novamente o castigo que nos é devido, mas recebido por Jesus em nosso lugar, nos leva a evitar o pecado, como vemos na oração de Esdras: “Depois de tudo o que nos tem sucedido por causa das nossas más obras e da nossa grande culpa, e vendo ainda que tu, ó nosso Deus, nos tens castigado menos do que merecem as nossas iniquidades (…) tornaremos a violar os teus mandamentos?” (Ed. 9:13-14). Da mesma forma, embora não sejamos condenados por nossos pecados, ainda somos disciplinados por nosso Pai celestial, e a ameaça de consequências de Sua mão paterna é um forte impedimento à injustiça (Sl. 89:30-33; 1 Co. 11:32; Hb. 12:5-11).
Finalmente, nas palavras da Confissão de Westminster, as promessas da lei “mostram que Deus aprova a obediência deles, e que bênçãos podem esperar dessa obediência, ainda que essas bênçãos não lhes sejam devidas pela lei considerada pacto de obras” (19.6). O Espírito Santo usa as grandes recompensas prometidas àqueles que andam nos mandamentos de Deus para nos encorajar à santidade (Sl. 19.11; 34:12-16; Ef. 6:2; 1 Pe. 3:8-12). Paulo torna essa motivação explícita em 2 Coríntios 7:1: “Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus.”
Porque a fé salvadora responde à Palavra de Deus “prestando obediência aos mandamentos, temendo as ameaças e abraçando as promessas de Deus para esta vida e para a futura” (CFW 14.2), a lei de Deus efetivamente restringe a corrupção remanescente do cristão. Ou usando a linguagem de Calvino, a lei é “como um chicote para um burro ocioso e teimoso, para incitá-lo a trabalhar. Mesmo para um homem espiritual ainda não livre do peso da carne, a lei permanece como um aguilhão constante que não o deixa ficar parado” (Institutas, 2.7.12). Com certeza, o efeito restritivo da lei não é a única ou mesmo a força mais importante na vida do crente, o amor constrangedor de Cristo é a motivação mais doce de todas (2 Co. 5:14). Como um cabresto, no entanto, a lei de Deus realmente nos mantém longe dos maus caminhos e nos caminhos da justiça por causa do Seu nome.
A lei também nos restringe por causa do mundo. Como assim? Primeiro, como a lei restringe nossa impiedade, tornamos o sal mais salgado e a luz mais brilhante (Mt. 5:13-14). Nossa presença entre os perdidos muitas vezes restringe poderosamente sua depravação. Segundo, o reconhecimento de que nosso pecado precisa ser e está sendo restringido pela lei é uma realidade humilhante. Essa humildade muda a maneira como nos relacionamos com os perdidos. Em vez de abordá-los com o espírito do fariseu, nos envolvemos com o coração do cobrador de impostos (Lc. 18:9-14). Sabendo que é somente pela graça de Deus que nosso pecado foi subjugado, nosso testemunho é gentil e gracioso.
Da próxima vez que você vir aquele carro de polícia vazio, lembre-se do poder restritivo da lei de Deus em sua vida e resplandeça a humilde graça de Cristo Jesus a todos que encontrar.
Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Megazine.