
O que é a ira?
abril 25, 2025O que é a luxúria?

Nota do editor: Este artigo faz parte da coleção Virtudes e defeitos.
É bem possível que a primeira aparição do pecado da luxúria tenha acontecido no jardim, exatamente quando o homem e a mulher fizeram sua trágica escolha. Ao considerar as tentações da serpente, Eva observou que o fruto era, entre outras coisas, “agradável aos olhos” (Gn 3:6). É claro que não há nada de errado em algo ser agradável de olhar. Mas Gênesis 3 é o registro do pecado mais infame da história. Portanto, podemos concluir com certeza que o olhar ansioso de Eva para o fruto com prazer foi feito com um olhar lascivo. Era um olhar cobiçoso; um desejo de ter algo que não era correto que ela possuísse.
Como Eva nasceu sem uma natureza pecaminosa, seu pecado de cobiçar o fruto (ou mais especificamente o que ela acreditava que o fruto poderia lhe dar) foi um pecado deliberado em resposta a uma fonte externa de tentação. Nós chamamos isso de “tentação externa”. No entanto, estamos em uma situação ainda mais difícil do que a da nossa primeira mãe. Ao ter nascido com uma inclinação natural pelo pecado, somos perfeitamente capazes de produzir desejos lascivos por nós mesmos, sem nenhuma fonte externa nos estimulando. Chamamos isso de “tentação interna”. Considere as palavras de Tiago 1:14-15: “Cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte” (ênfase acrescentada).
A palavra do Novo Testamento para luxúria é epithumia, que significa “cobiça”. É claro que nem todos os desejos são ruins. De fato, há exemplos no Novo Testamento de epithumia sendo usada de forma positiva, como quando um homem qualificado “aspira” apropriadamente o ofício de bispo (1 Tm 3:1). Porém epithumia é usada várias vezes para se referir a desejos pecaminosos, então epithumia também é traduzida como “luxúria” e “paixões”, bem como “cobiça”. Luxúria é o desejo por qualquer coisa pecaminosa, como sexo ilícito, intoxicação, ganho ilícito, vingança ou qualquer outra coisa que Deus proíbe.
Também pode ser aplicada à maneira como desejamos algo que não é pecaminoso em si mesmo. Em outras palavras, podemos desejar algo bom da maneira errada ou pelas razões erradas Não é pecado desejar um cônjuge. Mas é pecado desejar o cônjuge de outra pessoa. Não é pecado desejar ser compensado de forma justa por trabalhos legítimos. Porém é pecaminoso desejar riquezas para satisfazer nossos apetites materialistas ou porque ansiamos por uma segurança mundana. É bom descansar. Contudo, o pecado da preguiça é o que acontece quando esse desejo se distorce. Você entendeu. A luxúria é tanto o desejo por algo errado quanto o desejo errado por algo que, em si, é bom. A luxúria, em todas as suas formas e expressões, é, sem exceção, pecaminosa e, por conseguinte, representa uma espécie de rebelião contra Deus.
Em Efésios, Paulo considera epithumia como um pecado que caracteriza a vida fora de Cristo, quando “todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne” (Ef 2:3, ênfase adicionada). Em Tito, somos ensinados de que antes de nossa conversão éramos “escravos de toda sorte de paixões e prazeres” (Tt 3:3, ênfase adicionada). Uma vida entregue a tais desejos pecaminosos é inconsistente com a vida cristã.
Pedro se refere à luxúria (paixões) como uma forma de contrastar a vida do cristão com a do ímpio: “Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância” (1 Pe 1:14, ênfase acrescentada). “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma” (1 Pe 2:11, ênfase acrescentada). Ele nos diz que não devemos mais viver para “as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus” (1 Pe 4:2, ênfase adicionada).
Ao repreender os líderes religiosos que se opunham a Ele e à Sua missão, Jesus expressou que seus “desejos” (luxúrias) eram os mesmos de seu pai Satanás (Jo 8:44). Jesus identifica a origem da luxúria/cobiça no coração maligno de Satanás. Então, não é de surpreender que a luxúria ou os desejos mundanos, muitas vezes sufoquem a semente do evangelho no coração humano (Mc 4:19). Então a luxúria atenta contra os esforços da igreja para que o evangelho seja ouvido.
Devemos combater com determinação a luxúria. Quando vem de fora, devemos fugir dela; quando nasce em nossos corações, devemos mortificá-la. A luxúria é ruim para nós do mesmo modo que todo pecado é ruim para nós, pois nos diz que o veneno é doce e que morrer é viver. Que possamos fazer uso pleno dos meios de graça dados por Deus (as Escrituras, os sacramentos, a comunhão cristã e a oração) para combater a luxúria, da mesma forma que ela trava guerra contra nós. Que possamos olhar para Jesus e guardá-lo em nossos corações. Seu poder e beleza são muito maiores do que qualquer coisa com que o mundo possa nos tentar. As promessas de Jesus são muito melhores do que as promessas enganadoras dos desejos mundanos:
Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória (Cl 3:1-4).
Artigo publicado originalmente em Ligonier.org.