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abril 23, 2025O que é a caridade?

Nota do editor: Este artigo faz parte da coleção Virtudes e defeitos.
Há algo maravilhoso em ficar do lado de fora em uma noite de verão e observar uma tempestade se aproximando. As nuvens espessas bloqueiam o brilho da lua e das estrelas, e tudo fica imerso em escuridão densa. Então, por um breve momento, essa escuridão cessa quando relâmpagos riscam o céu com um brilho ofuscante. Mesmo que desapareça, a impressão duradoura não desaparece, e seu brilho fica impresso na mente. Na criação inanimada não há melhor símbolo de caridade do que o relâmpago. Poeticamente, Salomão olhou para cima enquanto descrevia o amor desta maneira: “As suas brasas são brasas de fogo, são veementes labaredas” (Ct 8:6).
A arte da criação inanimada não é a única ilustração que temos da brasa de fogo. Jesus, quem é a verdadeira Luz, veio a este mundo obscurecido pelo pecado e brilhou com intensidade o amor de Deus. Na Sua despedida física, a marca duradoura desse amor é impressa pelo Espírito Santo nos corações dos filhos de Deus. Jesus ordena: “Assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros” (Jo 13:34).
Seria difícil exagerar a importância da caridade. Foi por amor que Deus concedeu Sua graça ao Seu povo (Ef 1:4-5). É o Seu amor que dá origem ao nosso amor (1 Jo 4:10-11). É a evidência da vida do Espírito em nós (Gl 5:22). Nutre a piedade em nossos corações (Ef 3:17). É o caminho que andamos (Ef 5:2), a contemplação para nossa mente (Fp 4:8), o freio para nossa língua (Ef 4:15), nossa proteção na escuridão (1 Ts 5:8), o vínculo de nossa comunhão (Cl 2:2) e a medida da perfeição cristã (1 Jo 4:18). A caridade é, como expressou Paulo, não apenas um caminho excelente, mas um caminho sobremodo excelente (1 Co 12:31–13:13).
Uma das necessidades urgentes do cristianismo neste tempo é dar uma definição correta ao amor. O amor não é autodeterminado, e muito do que é chamado de “amor” não é amor de forma alguma. Em vez de recorrer ao barulho deste mundo para nos declarar o que é o amor, devemos recorrer a Deus, quem define de forma correta o amor. No entanto, mesmo aqui definir caridade pode ser um desafio, pois o amor tem muitos aspectos e expressões, e uma definição correta precisaria integrá-los todos. Jonathan Edwards refletiu sobre isso quando escreveu que a caridade cristã “é uma quanto ao seu princípio, qualquer que seja o objeto sobre o qual é exercida; vem da mesma fonte no coração, embora possa fluir em diferentes canais e direções”. Por mais desafiador que seja, a Bíblia nos dá diferentes perspectivas para nos ajudar a ver o brilho desse aspecto chamado amor. Então, o que é amor?
Poderíamos responder à pergunta de forma proposicional. João escreveu: “Deus é amor” (1 Jo 4:8). Isso é facilmente mal compreendido se pensarmos que isso significa que apenas o amor é o centro ou núcleo do ser de Deus e Seus outros atributos são periféricos. Deus é tudo o que Ele é, sem mudanças ou partes, e Ele é amor.
Também podemos responder à pergunta de forma relacional. Jesus ensinou que o amor a Deus e ao próximo é o maior e o segundo mandamento (Mc 12:30-31). O amor deve caracterizar nosso relacionamento com Deus por meio de Jesus Cristo. Por estarmos unidos a Ele, a caridade também deve caracterizar nossos relacionamentos com aqueles que são portadores da Sua imagem. Nisso, nós direcionamos o amor para Deus e para os outros e caracteriza cada relacionamento em nossas vidas: casamento, criação de filhos, amizade e companheirismo.
Também poderíamos responder à pergunta de maneira abrangente. Não podemos pensar no amor como algo distinto da categoria da lei moral de Deus. Paulo escreveu: “O cumprimento da lei é o amor” (Ro 13:10). Isso não significa que a igreja do Antigo Testamento tinha os Dez Mandamentos e agora, em Cristo, trocamos os mandamentos pelo amor. Não, o apóstolo está afirmando que o amor se expressa (ainda hoje) na observância desses mesmos mandamentos (cf. Jo 14:15). O amor a Deus se manifesta na observância dos quatro primeiros mandamentos, e o amor ao próximo nos outros seis.
Também poderíamos responder à pergunta com base na definição. Paulo declarou à igreja em Corinto que sem caridade [amor] ele “nada [será]” e nada aproveita (ver 1 Co 13). Ele passou a definir a caridade tanto pelo que ela é quanto pelo que ela não é. A definição de Paulo nos leva além da ideia de que o amor é apenas uma afeição ou uma emoção. A caridade é uma atitude que procura de maneira concreta o bem e o bem-estar daquele que é amado.
Também poderíamos responder à pergunta de forma ilustrativa. Jesus ensinou: “ Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (Jo 15:13). Ninguém ilustrou isso mais do que Cristo Jesus, o Filho unigênito e amado do Pai, que em amorosa abnegação cumpriu a lei e suportou a cruz pelos pecados de Seu povo: “Um amor tão maravilhoso, tão divino, exige minha alma, minha vida, tudo o que sou.” 1
A fonte do amor é o próprio Deus e, ao nos mostrar amor, nos dá a capacidade de expressar caridade, e retribuir esse amor a Ele e aos outros. Louvado seja Deus, pois Ele não nos deixou perdidos na escuridão, porém finalmente demonstrou Seu amor por nós — e o verdadeiro modelo de amor — em Jesus Cristo, a luz do mundo.
- Isaac Watts, “Quando contemplo a cruz maravilhosa.” ↩
Artigo publicado originalmente em Ligonier.org.