O teste de Jonas
março 24, 2025
O teste de Pedro
março 28, 2025
O teste de Jonas
março 24, 2025
O teste de Pedro
março 28, 2025

O teste de Daniel e seus amigos

Nota do editor: Este é o oitavo de 18 capítulos da série da revista Tabletalk: Provas, tentações e o teste da nossa fé.

Talvez um dos maiores fracassos da igreja hoje seja sucumbir à tentação de abrir mão dos princípios. Deveríamos aceitar identidades “queer”, ordenar pastores “gays” ou abençoar (mas não casar) casais do mesmo sexo? Nossos irmãos e irmãs cristãos do Sul global estão perplexos ao ver como pastores, igrejas e denominações no Ocidente moderno estão se conformando com a cultura neopagã e se ajoelhando diante do ídolo da identidade sexual e de gênero.

Antes da minha conversão à fé em Cristo, conversei com um capelão sobre minha sexualidade. Fiquei surpreso quando o ministro me entregou um livro que explicava que a Bíblia não condena a homossexualidade. Tudo dentro de mim queria aceitar essas afirmações para justificar minha vida como gay. Comecei a ler aquele livro em uma mão e a Bíblia na outra. Nos meses seguintes, o Espírito Santo removeu as vendas dos meus olhos e me convenceu de que o capelão e o livro distorciam claramente Deus e Sua Palavra.

Por volta do século VI a.C., Daniel, Hananias, Misael e Azarias foram tirados de suas casas, exilados na Babilônia e tentados a se ajoelhar diante de ídolos pagãos. No entanto, seu compromisso inabalável com o Senhor os colocou entre os santos em Hebreus 11, “os quais, por meio da fé […] fecharam a boca de leões, extinguiram a violência do fogo” (vv. 33-34).

Em Daniel 6, o rei Dario assinou uma ordem de que orações poderiam ser feitas apenas a ele e a nenhum outro deus. Daniel enfrentou o teste: desobedecer ao rei para obedecer a Deus ou desobedecer a Deus para obedecer ao rei. Tudo o que o profeta precisava fazer era não orar a Deus por trinta dias e ele salvaria sua própria vida. Ele só precisava encontrar um “meio-termo” e se acomodar externa e temporariamente ao comando do rei. A assimilação poderia ser a maneira de Daniel escapar?

Em Daniel 3, Hananias, Misael e Azarias — também conhecidos como Sadraque, Mesaque e Abednego — foram várias vezes tentados a abandonar Deus se curvando diante da imagem de ouro. Nabucodonosor até mesmo deu uma saída fácil, oferecendo outra oportunidade de adorar esse ídolo.

Com firmeza, esses três enfrentaram o governante mais poderoso do antigo Oriente Próximo na época. “Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará” (v. 17). Mas sua fé e determinação foram explicitadas através das seguintes palavras: “Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste” (v. 18).

A recusa de Daniel e seus três amigos em ceder apontou para o fato de que nenhuma punição por desobedecer ao rei — nem leões nem fornalha de fogo ardente — poderia exceder a desobediência ao Rei dos reis.

Depois que a fornalha foi aquecida sete vezes mais do que o normal, Nabucodonosor ordenou que alguns de seus homens amarrassem Sadraque, Mesaque e Abednego com todas as suas roupas (v. 20-21). Como a fornalha estava muito quente, as chamas consumidoras mataram os homens que amarraram os jovens hebreus, o que fez com que os três amigos caíssem amarrados na fornalha ardente (v. 23). Um Nabucodonosor atônito declarou: “Não lançamos nós três homens atados dentro do fogo?” (v. 24).

Observe como a palavra “atados” ou “atassem”  aparece quatro vezes. A reiteração é como um holofote em uma peça, que concentra nossa atenção no ponto-chave. Uma iteração dupla pode ser incidental. Uma ocorrência tripla é sem dúvida intencional. No entanto, uma repetição quádrupla é enérgica e provoca reação.

Por que? A elucidação vem dos próprios lábios de Nabucodonosor: “Vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem nenhum dano” (v. 25). A palavra aramaica traduzida como “soltos”, sherayin, também pode ser traduzida como “libertados” ou “livres”. As chamas não tocaram os corpos, os cabelos ou os mantos dos três homens, nem o cheiro de fogo prevaleceu (v. 27). A única coisa que Deus permitiu que queimasse foi a corda que os prendia.

Por que um Deus amoroso e soberano permite provações no fogo, mesmo como consequências da obediência? É uma pergunta que Davi faz no Salmo 22: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (v. 1).

Cristo na cruz cumpre as palavras de David no Salmo 22, mas também representam os sofrimentos de todos os fiéis de Deus, entre eles Daniel e seus três amigos. “Meu coração fez-se como cera, derreteu-se dentro de mim” (Sl 22:14). “Salva-me das fauces do leão!” (v. 21).

Entretanto, no final, Nabucodonosor abençoou a Deus (Dn 3:28) e Dario fez um decreto para que as pessoas “tremam e temam perante o Deus de Daniel” (6:26). “Lembrar-se-ão do Senhor e a ele se converterão os confins da terra” (Sl 22:27). A fidelidade do povo de Deus em provações intensas glorificou a Deus.

Da tristeza à glória. Essa tem sido a história dos eleitos. Nos conformaremos com a exibição inovadora e multinacional de idolatria? Ou enfrentaremos sem temor o fogo e as mandíbulas dos leões? Escolhamos a última opção, para que sejamos acolhidos pela nuvem de testemunhas, das “quais o mundo não era digno” (Hb 11:38).


Este artigo foi publicado originalmente na TableTalk Magazine.

Christopher Yuan
Christopher Yuan
O Dr. Christopher Yuan é palestrante, autor e professor. Ele é autor de Holy Sexuality and the Gospel [Sagrada sexualidade e o evangelho] e professor em destaque do The Holy Sexuality Curriculum [Currículo da sagrada sexualidade], um currículo em vídeo de doze aulas desenvolvido para alunos do ensino fundamental e médio.