
O teste de Davi
março 21, 2025
O teste de Daniel e seus amigos
março 26, 2025O teste de Jonas

Nota do editor: Este é o sétimo de 18 capítulos da série da revista Tabletalk: Provas, tentações e o teste da nossa fé.
A história está repleta de grandes cidades. Havia Ur, o local de nascimento de Abraão e talvez a primeira cidade com uma população de cem mil habitantes. Havia a Babilônia e seus magníficos jardins suspensos. Havia Roma, inigualável em sua grandeza e influência. Hoje existem cidades como Londres, Los Angeles, Tóquio e Nova York. As cidades têm sido há muito tempo os centros culturais das civilizações. Outra cidade assim na história foi Nínive.
Nínive era uma grande cidade (Jn 1:2). Era grande, pois era a capital da Assíria. Era uma cidade importante e famosa (3:3). Sua população pode ter chegado a 130.000 habitantes. Nínive era grande, porque era poderosa e cheia de maldade. Era Gotham naquela época. Como capital da Assíria, representava tudo o que os assírios eram, inclusive a crueldade.
Hoje, a Assíria seria considerada um estado terrorista. Era uma praga para seus vizinhos. Os assírios ganharam e cultivaram uma reputação de crueldade e barbárie. Tratavam seus inimigos com a maior crueldade, já que aniquilava populações e empalava vítimas em estacas. Ninguém gostava deles, incluída a nação de Israel e especialmente Jonas.
Então, quando Deus chamou Jonas para ir a Nínive e pregar uma mensagem de fé e arrependimento, é compreensível que Jonas estivesse relutante. Contudo, a resistência de Jonas não foi um sinal de retidão, mas sim um indicativo de rebelião. Jonas achava que o amor e a misericórdia de Deus pelos ninivitas eram equivocados. Os ninivitas eram o inimigo e, portanto, mereciam a ira de Deus. O teste para Jonas e para todo o povo de Deus era lembrar que o amor de Deus é expressamente para Seus inimigos.
Uma das tentações de ser cristão é esquecer que nem sempre fomos assim. Uma vez não estávamos entre o povo de Deus. Uma vez não éramos aceitos em Seu amado. Fomos, em certa época, inimigos de Deus (Rm 5:10), escravos do pecado, desobedientes e, justamente, sob Sua condenação (Ef 2:1-3). O apóstolo Paulo nunca se esqueceu dessa verdade.
Embora tenha sido chamado para ser apóstolo, servo e vaso da graça de Deus, Paulo nunca se esqueceu de onde veio. Nunca se esqueceu de que era indigno (1 Co 15:9). Nunca se esqueceu de que um dia foi rebelde, desobediente e blasfemo. E porque ele tinha sido, ele também entendeu que Cristo tinha vindo para amá-lo e salvá-lo (1 Tm 1:13-16). A graça e o amor de Deus mediante Jesus Cristo o transformaram e se tornaram a motivação para o ministério de amor que ele foi chamado a ter para com os outros (1 Co 15:10). Foi isso que Jonas esqueceu. E é sempre uma tentação para o povo de Deus.
Jonas conhecia a abundância da misericórdia de Deus. Estava ciente da magnificência do amor de Deus. Conhecia a grandeza da graça de Deus (Jn 4:2). Ele sabia dessas verdades, porque já tinha passado por isso. Não ignorava isso em sua vida. Era a razão pela qual ele ainda estava vivo (2:8-9). Era a razão pela qual ele estava em Nínive. Contudo, conhecer a graça e o amor de Deus não o motivou a ser misericordioso e amoroso em troca. Jonas se considerava diferente dos ninivitas. Na verdade, seu julgamento provou que ele era exatamente igual.
Amar o que é desagradável começa com a lembrança disto: se não fosse pela graça de Deus, eu poderia estar nessa situação. Jonas pensava que era diferente dos ninivitas e que, embora pudesse receber a graça de Deus, os ninivitas não a mereciam. Amar nossos inimigos é entender e admitir que nenhum de nós merecemos o amor de Deus. Ninguém mereceu Sua graça. Jonas esqueceu desse fato. Você e eu também várias vezes esquecemos disso.
Para nós, o desafio é amar aqueles que Deus ama. Amar aqueles a quem Cristo veio amar. Jesus amou os ímpios, profanos, indignos e desprezíveis. Em outras palavras, Ele amou aqueles que não o amavam. Ele amou Seus inimigos. Para ser mais exato, Ele nos amou.
Quando somos chamados a amar nossos inimigos, não se trata de um amor distante, mas de um amor próximo àqueles que ativamente desejam nosso mal e nos causam dano (Mt 5:43-44). Os ninivitas não eram um inimigo distante. Eles eram o vizinho problemático, o parente insensível e desconsiderado, o filho desrespeitoso e rebelde, o colega racista, o rival do outro lado do espectro político.
Jonas não queria amar seus inimigos. Porém, a boa notícia é que Jesus não é como Jonas. De fato, a boa notícia é que Ele é maior que Jonas (Mt 12:41). Jesus ama aqueles que são indignos de amor (Rm 5:6-11). Cristo nos amou quando ainda éramos Seus inimigos, nos reconciliou com Deus e nos deu a amorosa comissão de difundir essa reconciliação ao mundo (2 Co 5:19). Que Jonas e seu teste nos lembrem da armadilha de não amar nossos inimigos. E que possamos sempre agradecer a Deus por Cristo amar Seus inimigos quando eles não o amavam, nem mesmo nós.
Este artigo foi publicado originalmente na TableTalk Magazine.