A parábola do bom pastor - Ministério Ligonier
A parábola do fariseu e o publicano
agosto 24, 2022
Ajudar as pessoas a conhecerem a Deus
agosto 26, 2022
A parábola do fariseu e o publicano
agosto 24, 2022
Ajudar as pessoas a conhecerem a Deus
agosto 26, 2022

A parábola do bom pastor

Nota do editor: Este é o último de 12 capítulos da série da revista TabletalkAs parábolas de Jesus.

Metáforas profundamente arraigadas em nós (como Deus é a nossa rocha, o amor é uma jornada, etc.) nos ajudam a compreender verdades que de outra forma poderiam escorrer por entre nossos dedos mentais. João 10 é um exemplo proeminente. A complexa “figura de linguagem” (v. 6; “parábola” em algumas traduções) do pastor, ovelha, a porta para o aprisco, e dos possíveis ladrões chega ao coração de quem Jesus é e como somos chamados para seguir somente a Sua voz. Como qualquer boa metáfora, ela se propaga sobre diversos contextos. Vamos rastreá-los.

Utilizando detalhes sobre o pastoreio, que era familiar para a Sua audiência, Jesus visualiza um grande aprisco com um porteiro guardando a porta para assegurar que apenas os verdadeiros pastores entrem e saiam com suas ovelhas vulneráveis. Qualquer um que não entre pela porta é um possível ladrão. A imagem evoca como Jesus descreve o povo, “ovelhas sem pastor” (Mc. 6:34) e Ele próprio como um enviado para reunir as ovelhas perdidas (Mt. 18:12; Lc 15:3-7). A figura também mostra como Ele cuida amorosamente de Suas ovelhas, Sua “voz” é o que mais importa (Jo. 10:4). No antigo Israel, pastores iriam à frente de suas ovelhas e as guiariam (ao invés de conduzi-las por trás) puramente pelo reconhecimento de voz. Nesse estágio do evangelho de João, Jesus está se empenhando para provar que Ele é o verdadeiro líder das “suas próprias ovelhas” (v. 3), não as autoridades religiosas corruptas que querem destruí-las como os possíveis ladrões na parábola.

Mas a escolha das figuras de pastoreio e ovelhas está presente em trechos mais antigos da Escritura, nos quais o povo de Deus é regularmente descrito como um rebanho de ovelhas (1 Rs. 22:17; Sl. 44) e os reis de Israel, especialmente Davi, como seus pastores (Sl. 78). Mas quando seus líderes falham moralmente, os profetas os denunciam como pastores desprezíveis e ladrões (Is. 57:9-12; Jr. 23:1-4; Zc. 11:4-17). Desse caos de pastores devoradores de ovelhas, Deus promete enviar o verdadeiro Pastor, um novo Davi, que irá cuidar do povo eternamente: “Suscitarei para elas [Suas ovelhas] um só pastor… O meu servo Davi é que as apascentará; ele lhes servirá de pastor” (Ez. 34:23). Ao declarar a Si mesmo como o “bom pastor” (João 10:11), Jesus torna claro que Ele é aquele pastor messiânico prometido. E Ele excederá em muito qualquer pastor terreno: enquanto o “mercenário” foge quando aparece um problema (v. 12), Jesus dá a vida pelas Suas ovelhas ao dar Sua própria vida (v. 11).

Contudo, as ondas da imagem vão ainda mais longe. Ao longo do Antigo Testamento, o próprio Deus é regularmente descrito como o verdadeiro pastor (Gn. 49:24; Sl. 23; Sl. 95:7). Além disso, Deus promete que no futuro: “Eis que eu mesmo procurarei as minhas ovelhas e as buscarei” (Ez. 34:11). Em outras palavras, tanto Deus como o Messias davídico são os futuros pastores do rebanho. Não é nenhuma surpresa que Jesus desvende as implicações: não apenas preenche o papel messiânico do pastor em Sua parábola, mas declara, “Eu e o Pai somos um” (Jo. 10:30). De uma forma maravilhosa e ainda assim misteriosa, Jesus, como o Filho divino do Pai, cumpre a promessa que “um” pastor — “um” trinitário — cuidaria do rebanho.

Através dessa bela figura de linguagem, Jesus revela que Ele somente é a porta da salvação e o Bom Pastor que, como Deus encarnado, cuida de Seu rebanho ao morrer para livrá-lo. Ele conhece os Seus. Ele os ama. E aqueles que são verdadeiramente dEle — dados a Ele pelo Pai — conhecem Sua voz e encontram segurança em Seu rebanho. Ainda que fôssemos “desgarrados como ovelhas”, nos convertemos “ao Pastor… da [nossa] alma” (1 Pe. 2:25). Mas essa verdade gloriosa não para aí. Jesus, “o grande Pastor das ovelhas” (Hb. 13:20), colocou subpastores para guardar e proteger Seu rebanho agora (1 Pe. 5:2). Esses pastores afastam os falsos mestres ladrões (At. 20:29) e alimentam as ovelhas cuidando de suas necessidades espirituais (João 21:16-17). Eles trabalham para ajudar suas ovelhas a discernirem e seguirem a “voz” de Jesus, que é audível na Palavra de Deus escrita: a Bíblia.

Como deveríamos responder, então, a João 10? Para nós, que somos ovelhas: trabalhemos para sermos boas ovelhas, sigamos a voz do único Pastor. Para nós, que somos subpastores: conduzamos nossos rebanhos através da verdadeira “porta” a fim de acharmos pastagem, e cuidemos deles não como mercenários que buscam um proveito egoísta, mas como aqueles que andam nos passos do Bom Pastor.

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.
Greg Lanier
Greg Lanier
O Dr. Greg Lanier é professor assistente de Novo Testamento no Reformed Theological Seminary em Orlando, Flórida, e pastor assistente na River Oaks Church (PCA) em Lake Mary, Flórida. Ele é autor de vários livros, incluindo How We Got the Bible and Old Testament Conceptual Metaphors and the Christology of Luke's Gospel.