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O Precioso Dom da Linguagem Infantil

Nota do editor: Este é o oitavo de 9 capítulos da série da revista Tabletalk: Epístolas do Novo Testamento.

A linguagem humana é preciosa. Ela nos distingue dos animais. Torna compartilháveis as nossas descobertas científicas mais sofisticadas e as nossas emoções mais profundas. Acima de tudo, Deus escolheu revelar-se a nós por meio da linguagem humana na Bíblia. Na plenitude do tempo, Ele falou conosco por meio de Seu Filho (Hb 1:1-2), e esse Filho usava a linguagem humana. Da mesma maneira, Ele enviou Seu Espírito para guiar Seus apóstolos a toda a verdade, para que contassem a história do Filho em linguagem humana. Sem essa história em linguagem humana, jamais conheceríamos o Filho. Portanto, a linguagem humana é imensuravelmente preciosa.

Mas também é imperfeita para expressar a plenitude de Deus. Em 1 Coríntios 13, há quatro comparações entre o tempo presente e a era vindoura, após o retorno de Cristo.

O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará; porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos. Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino. Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor (vv. 8-13). 

Observe as comparações com esta era (agora) e a era por vir (então):

Agora: “Conhecemos em parte”.

Então: “Quando vier o que é perfeito, o que é em parte será aniquilado” (vv. 9-10).

Agora: “Falava, sentia e pensava como menino”.

Então: “Quando me tornei homem, desisti das coisas próprias de menino” (v. 11).

Agora: “Vemos como em espelho, obscuramente”.

Então: “Veremos face a face” (v. 12).

Agora: “Conheço em parte”.  

Então: “Conhecerei como também sou conhecido” (v. 12).

Nesse contexto, podemos ver o que Paulo quer dizer quando escreve: “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino”. Paulo está dizendo que nesta era, a nossa linguagem, sentimento e raciocínio humanos são semelhantes a uma conversa infantil se comparados a como falaremos, sentiremos e raciocinaremos na era vindoura.

Quando Paulo foi arrebatado ao céu e teve vislumbres das realidades celestiais, ele disse que “ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir” (2 Co 12:4). A nossa linguagem é insuficiente para comunicar a grandeza de tudo que Deus é.

Mas seria um erro grave inferir disso que podemos desprezar a linguagem ou tratá-la com menosprezo ou descuido. Cometeríamos um erro grave se começássemos a depreciar afirmações verdadeiras sobre Deus como irrelevantes, inúteis ou falsas. Que grande insensatez mostraríamos se zombássemos de proposições, cláusulas, frases e palavras como se não fossem inefavelmente preciosas e essenciais à vida.

A principal razão por que isso seria tolice é que Deus escolheu enviar Seu Filho ao nosso jardim da infância e falar conosco em linguagem infantil. Jesus Cristo tornou-se um menino como nós. Houve um tempo em que o próprio Jesus teria dito: “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino”. Isso é o que a encarnação significa. Ele se acomodou à nossa linguagem infantil. Ele falou conosco no jardim da infância da vida humana, nesta era.

Jesus falou linguagem infantil. O Sermão do Monte é a nossa conversa de menino. Sua Oração Sacerdotal é conversa de menino. “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mc 15:34), é uma conversa de menino infinitamente preciosa, verdadeira, gloriosa.

Mais do que isso, Deus inspirou toda a Bíblia de linguagem de menino. Verdadeira linguagem de menino, com autoridade absoluta e poder. Linguagem de menino que é mais doce do que mel e mais desejável do que o ouro. João Calvino disse que “Deus, ao falar assim, balbucia conosco como as babás costumam fazer com as criancinhas” (Institutas da Religião Cristo, 1.13.1). Quão preciosa é a linguagem infantil de Deus. Não é como a grama que seca ou como as flores que murcham; ela permanece para sempre (Is 40:8).

Haverá outra linguagem, sentimento e raciocínio na era por vir. E veremos coisas que não puderam ser expressas em nossa linguagem infantil atual. Mas, quando Deus enviou Seu Filho ao nosso jardim da infância humano, falando como menino e morrendo pelos pequeninos, Ele fechou a boca daqueles que zombam das possibilidades de verdade e beleza na boca das pequeninos.

E, quando Deus inspirou um livro com linguagem infantil como a interpretação infalível de Si mesmo, o que devemos dizer dos pequeninos que fazem luz do dom da linguagem humana como o meio de conhecer Deus? Ai dos que rejeitam, menosprezam, exploram ou manipulam este dom dado aos filhos dos homens. Não é um brinquedo no jardim da infância. É o espírito da vida. “As palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida” (Jo 6:63).

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Megazine.

John Piper
John Piper
O Dr. John Piper é fundador e professor do Desiring God, e chanceler no Bethlehem College & Seminary em Minneapolis. Ele é autor de diversos livros, incluindo Lições de um leito de hospital, Uma glória peculiar, Lendo a Bíblia de modo sobrenatural e Surpreendido por Deus.