
TULIP e a teologia reformada: graça irresistível
maio 30, 2025TULIP e a teologia reformada: perseverança dos santos

Nota do editor: Este artigo faz parte da coleção TULIP e a teologia reformada.
Ao escrever aos Filipenses, Paulo expressa: “Aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fp 1:6). Nisso está a promessa divina de que o que Ele começa em nossas almas, Ele pretende terminar. Então, o clássico ensinamento na teologia reformada sobre a perseverança dos santos é este: se você a tem — isto é, se você tem fé genuína e está em um estado de graça salvífica — você nunca a perderá. Se você a perde, você nunca a teve.
Sabemos que muitas pessoas fazem profissões de fé e depois se afastam e repudiam ou renunciam a essas profissões. O apóstolo João observa que houve aqueles que deixaram a companhia dos discípulos, e ele afirma sobre eles: “Saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos” (1 Jo 2:19). É claro que eles estavam com os discípulos em termos de aparência externa antes de saírem. Fizeram uma profissão externa de fé, e Jesus explica que é possível que uma pessoa faça isso mesmo quando não possui o que está professando. Jesus declara: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mt 15:8). Jesus até mesmo adverte no final do Sermão do Monte que, no último dia, muitos virão a Ele, dizendo: “Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres?”. Ele os mandará embora, ao indicar: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade” (Mt 7:23). Ele não afirmará: “Te conheci por um tempo, e então você se arrependeu e me traiu. Não, você nunca fez parte da minha igreja invisível.” O propósito da eleição de Deus é levar Seu povo em segurança ao céu; portanto, o que Ele começa, Ele promete terminar. Ele não apenas inicia a vida cristã, mas o Espírito Santo está conosco como Aquele que nos santifica, nos convence e nos ajuda para garantir nossa preservação.
Quero enfatizar que essa perseverança na fé não depende de nossas forças. Mesmo depois de sermos regenerados, ainda caímos em pecado, inclusive em pecados graves. Dizemos que é possível que um cristão sofra uma queda muito séria, falamos sobre retrocesso, falamos sobre lapsos morais e assim por diante. Não consigo pensar em nenhum pecado, além da blasfêmia contra o Espírito Santo, que um cristão, de fato, convertido não seja capaz de cometer.
Vejamos, por exemplo, Davi no Antigo Testamento. Davi era, sem dúvida, um homem segundo o coração de Deus. Ele era certamente um homem regenerado. Ele tinha o Espírito de Deus nele. Tinha um amor profundo e sincero pelas coisas de Deus. No entanto, esse homem não apenas cometeu adultério, mas também se envolveu em uma conspiração para matar o marido de sua amante na guerra: o que na verdade era uma conspiração para assassinato. Isso é grave. Embora Davi tenha demonstrado grande arrependimento por meio da repreensão de Natã, a verdade é que ele sofreu uma queda severa.
O apóstolo Paulo nos adverte contra termos uma visão exagerada de nossa própria força espiritual. Ele expressa: “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia” (1 Co 10:12). Cometemos erros muito graves. O apóstolo Pedro, mesmo depois de ter sido avisado, rejeitou a Cristo, e jurou que nunca o conheceu: uma traição pública a Jesus. Ele cometeu traição contra seu Senhor. Quando foi avisado sobre essa eventualidade, Pedro afirmou que isso nunca aconteceria. Jesus declarou: “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo! Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos” (Lc 22:31-32). Pedro caiu, mas voltou. Ele foi restaurado. Sua queda durou um tempo. É por isso que dizemos que os verdadeiros cristãos podem ter quedas graves e drásticas, porém nunca quedas totais e definitivas da graça.
Acredito que essa pequena frase de efeito, perseverança dos santos, é perigosamente enganosa. Isso sugere que a perseverança é algo que fazemos, talvez por nós mesmos. Acredito que os santos perseveram na fé e que aqueles que foram eficazmente chamados por Deus e renasceram pelo poder do Espírito Santo perseveram até o fim. Contudo, não perseveram, pois são muito diligentes em fazer uso das misericórdias de Deus. A única razão que podemos dar para que qualquer um de nós continue na fé é porque fomos preservados. Portanto, prefiro o termo preservação dos santos, visto que o processo pelo qual somos mantidos no estado de graça é algo realizado por Deus. Minha confiança na minha preservação não está na minha capacidade de perseverar. Minha confiança está no poder de Cristo para me sustentar com Sua graça e pelo poder de Sua intercessão. Ele nos levará para casa em segurança.
Artigo publicado originalmente em Ligonier.org.