A disciplina dos filhos como um testemunho

Nota do editor: Este é o décimo terceiro de 14 capítulos da série da revista Tabletalk: Instruções para viver no reino: o Sermão do Monte.

Você já observou que muitas controvérsias em nossa cultura giram em torno da família e dos filhos? Tópicos polêmicos incluem identidade de gênero; decisões médicas relacionadas a crianças; a responsabilidade da escola de notificar os pais sobre o gênero, pronomes ou nomes que as crianças escolhem usar; e quais banheiros ou vestiários as crianças devem ter permissão para usar.

Não é de surpreender que a família e as crianças sejam arenas onde os valores em rápida mudança da nossa cultura estão sendo colocados em prática. Esses desafios à vida familiar e à criação dos filhos oferecem uma oportunidade para o corpo de Cristo. É difícil imaginar uma apologética mais poderosa para a fé cristã do que famílias bem estruturadas com filhos produtivos e felizes.

Vários elementos da beleza da fé cristã, quando vividos, serão testemunhas para o mundo que observa.

Liderança

Ensinar os filhos a viverem com alegria sob autoridade é uma lição fundamental. Deus promete grandes bênçãos quando os filhos honram e obedecem aos pais. É benéfico para eles e desfrutam de longa vida (Ef 6:1-3). Como pais, precisamos apresentar argumentos convincentes para viver sob autoridade. Então lembramos aos nossos filhos que há um bom Deus no céu. Com grande amor, Ele os colocou em uma família. Lhes deu pais que os amam. Honrar e obedecer ao pai e à mãe é uma bênção. Essa verdade não é ensinada por meio de exigências e ameaças. Nossos filhos aprendem isso ao ver a beleza e a bondade dos caminhos de Deus na vida familiar.

Cuidado

A maioria dos conselhos para pais ensinam estratégias para fazer com que os filhos sigam suas instruções. O conselho dado é behaviorismo: como orientar e controlar o que as crianças dizem e fazem. No entanto, a criação bíblica dos filhos começa com a verdade de que todo comportamento é motivado pelo coração. A boca fala do que está cheio o coração (Lc 6:45). O coração deve ser guardado com diligência, pois dele procedem as fontes da vida (Pv 4:23). Os pais cristãos não se preocupam apenas com incentivos e desincentivos para controlar o comportamento, mas também querem que os filhos entendam os problemas internos que motivam o comportamento. Ajude seus filhos a entenderem as atitudes do seu coração. Orgulho versus humildade, raiva versus pacificação, cobiça versus generosidade, amor próprio versus amor ao próximo, tudo isso é uma prioridade na criação dos nossos filhos. Pais cristãos que ajudam seus filhos a entender suas motivações podem ser solidários com eles. Todo pai sabe como o egoísmo atua no coração humano. Sabemos como levar esses motivos pecaminosos a Cristo para ser perdoados e purificados. Devemos exemplificar a humildade do evangelho, o arrependimento e a fé para nossos filhos. Controlar nossos filhos por meio do behaviorismo não requer a esperança e o poder do evangelho. Porém ajudar as crianças a entender as motivações do seu coração, acabam sendo conduzidas à cruz, à necessidade de perdão e à graça e ao poder das promessas do evangelho.

Administração

A parábola dos talentos em Mateus 25 ensina a importância da administração e da responsabilidade. O senhor confiou seus bens aos seus servos e partiu em uma longa viagem. Ao retornar, ele acertou contas com os servos na expectativa de que tivessem investido lucrativamente o que lhes foi confiado. A história é uma lição maravilhosa para ensinar aos nossos filhos. Deus lhes confiou dons, habilidades e oportunidades. São administradores daquilo que o Senhor lhes confiou. Essa compreensão de administração deve estar inserida na vida cotidiana. Deus nos confiou um tesouro e espera um retorno sobre Seu investimento. Ajudar os filhos a entender sobre esses assuntos contribui para que eles vivam com sabedoria: a considerar a si mesmos e suas escolhas a sério.

A glória de Deus

Me lembro quando ensinava o catecismo aos meus filhos: “Quem te criou? Deus me criou. Por que Deus criou você e todas as coisas? Para Sua própria glória”. A Bíblia começa com tudo o que precisamos saber e entender sobre a vida: “No princípio […] Deus”. Tudo o que vivenciamos não foi apenas feito por Deus, foi feito para Sua glória. Toda a criação e todas as suas diferentes glórias existem para apontar para uma glória superior: a glória magnífica e eterna de Deus. Em nossa pecaminosidade, ignoramos o Deus para cuja glória fomos criados, adoramos e servimos coisas criadas em vez do Criador. Na família cristã, mostramos aos nossos filhos o Glorioso. Suas maravilhas orientam e dão sentido à vida. A vida não se trata sobre mim, mas sobre a verdade transcendente de Deus. Os filhos que aceitam essa verdade viverão com um senso de dignidade e propósito apropriado às criaturas feitas à imagem de Deus.

Minha esposa e eu conversamos há pouco tempo com um jovem médico e sua esposa, que ficaram intrigados com o treinamento e o cuidado que uma família cristã de sua vizinhança oferecia a seus filhos. Grande parte da nossa conversa girou em torno dos valores que eles viam refletidos nessas crianças e como esses valores tinham sido ensinados por pais fiéis. A interação com esse casal me fez refletir sobre as maneiras poderosas pelas quais o evangelho é pregado quando nossos filhos entendem a bondade de viver sob autoridade, do entendimento cuidadoso de seus corações e motivações, a humildade de se ver como um administrador dos dons de Deus e de viver para alguém maior do que nós.

Como cristãos, oferecemos essa criação em obediência ao que Deus nos chamou para fazer. As implicações apologéticas e as oportunidades de testemunho não são o objetivo, são simplesmente uma consequência de oferecer essa instrução cristã fundamental para nossos filhos. “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5:16).

Este artigo foi publicado originalmente na TableTalk Magazine.