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A possessão do reino

Nota do Editor: Este é o quinto de 17 capítulos da série da revista Tabletalk: O reino de Deus.

Jerônimo, um dos pais da igreja, declarou certa vez: “Nenhum dos profetas falou tão claramente sobre Cristo como Seu profeta Daniel.” Há discordância de opinião entre os evangélicos contemporâneos. As visões apocalípticas apresentadas na segunda metade do livro parecem obscuras, e a frequente má aplicação das profecias aos eventos atuais pouco contribui para fornecer clareza. No entanto, a esperança não está perdida, se evitarmos nos fixar ansiosamente nos atores históricos e nos reinos errados, a visão do Filho do Homem registrada em Daniel 7:13-22 revela bem a herança do reino eterno e universal de Deus por Jesus. Também nos diz algo quase tão notável como quem Ele é e a forma como recebe o reino: o Filho do Homem partilha este reino com os santos de Deus.

A aparição do Filho do Homem em Daniel 7:13-22 inaugura um reino anômalo. Antes da chegada do Filho do Homem, a visão de Daniel descreve os reinos apóstatas deste mundo como monstros terríveis, perversões malignas do governo humano, porque rejeitaram o reinado soberano de Deus. Mesmo assim, o Ancião de Dias entronizado permite que sua autoridade persista, mas apenas por um tempo. No julgamento, Ele transfere o domínio para uma figura misteriosa que compartilha Suas qualidades divinas (alguém que cavalga nas nuvens do céu) mas também manifesta qualidades humanas, um como “o Filho do Homem” que compartilha a posse de Seu reino restaurado com os santos do Deus Altíssimo. Daniel implora ansiosamente para saber mais, mas em vez de se fixar em reinos finitos e mundanos, é suficiente saber que o reino do Filho do Homem é iminente.

O reino de Deus emerge conforme profetizado e o Filho do Homem, Jesus, toma posse da maneira mais notável. Ele é o Verbo preexistente (Jo 1:1 ), o único que desce do céu (3:13) e estabelece um reino que “não é deste mundo” (18:36), mas distinguido pela totalidade e permanência, confirmado por sinais maravilhosos (veja Mc 1 – 2). Contudo, embora seja o legítimo herdeiro do trono davídico (Mt 1:1) — o representante humano de Deus designado para julgar e reinar sobre todos os povos (Sl 2; Lc 3:22) — Ele recebe Seu domínio através da humilhação, através de obediência até a morte, o que é diferente da maneira pela qual os reis do mundo exercem domínio (Fp 2:8). Sua mediação pelos santos neutraliza o poder de rebelião e destruição, de modo que o Filho do Homem ressuscita vitoriosamente dentre os mortos e ascendeu ao Seu trono universal e eterno à direita de Deus, onde Ele recebe toda autoridade dada no céu e na terra (Mt  28:18).

Mas e os santos, como partilham o reinado de Cristo sobre um reino que foi inaugurado mas não consumado? O povo de Deus começa seu governo agora, quando estão “[assentados] nos lugares celestiais” (Ef 2:6), conquistadores libertados que expandem o reino através da obediência sacrificial e do testemunho (ver Rm 8:37-39). Porém, o cumprimento final da visão de Daniel para o reinado dos santos aguarda o último julgamento e consumação, quando Jesus promete que aquele que “[perseverar], também com ele” reinará (2 Tm 2:12) e que “dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono” (Ap 3:21). Este governo conjunto e eterno do reino de Cristo parece bastante claro. Talvez, no fim das contas, Jerônimo tinha razão.

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.

Justin E. Estrada
Justin E. Estrada
O Rev. Justin E. Estrada é pastor titular da Redeemer Presbyterian Church em Kingsville, Maryland.