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Em busca da perfeição com realismo sóbrio

Em um voo recente para Dallas, gostei de ler a edição atual da American Way, a revista mensal da American Airlines. Nesta edição em particular, a matéria de capa era sobre o fenômeno do golfe Lexi Thompson. Seus comentários sobre por que ela adora golfe foram impressionantes: “Todos os dias eu acordo, e algo está diferente no meu jogo: minha tacada, o clima. Esse é o lance do golfe. É sempre um desafio cada vez que você acorda. É por isso que me sinto atraída por ele. O que me faz continuar é que você nunca pode torná-lo perfeito.”

O que Thompson reconhece sobre o golfe, podemos aplicar à vida cristã. Na verdade, o que nos faz continuar — esforçando-nos para crescer em santidade prática — é que nunca alcançaremos a perfeição na vida cristã deste lado do céu. Há sempre espaço para melhorar.

Um desejo de perfeição dado por Deus

Os seres humanos têm um desejo inerente de perfeição. Afinal, fomos criados à imagem de Deus (Gn. 1:26-27) e recebemos o mandato de exercer domínio sobre a terra para o seu aprimoramento (v. 28). Tanto quem somos quanto o que fomos chamados a fazer criam um desejo de excelência em todas as coisas. E o cristão sente esse impulso profundamente na ordem dada por nosso Senhor em Mateus 5:48, “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste”. O apóstolo Paulo ecoa isso quando escreve em 1 Coríntios 10:31, “Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”. Buscar a perfeição, portanto, não é algo inerentemente ruim. No entanto, a busca pela perfeição pode dar errado se não for atenuada com o realismo bíblico sobre a queda e suas consequências.

Ruínas gloriosas

Uma das consequências trágicas da queda é que a perfeição nesta vida é impossível. Todo dia, e de diversas maneiras, vemos como os seres humanos “carecem da glória de Deus” (Rm. 3:23). Isso é verdade para o cristão também. Nos identificamos com o apóstolo Paulo quando ele lamenta: “Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro e sim o que detesto” (Rm. 7:15). Paulo sabe que esta vida é marcada por uma luta constante contra o pecado que reside em nós.

O apóstolo João pensa da mesma forma quando escreve aos cristãos:

Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e sua palavra não está em nós (1 Jo. 1:8-10).

João é claro: aqueles que afirmam não ter pecado não apenas se enganam, mas fazem de Deus um mentiroso, provando que a Palavra de Deus não está neles. Os cristãos vivem uma vida de vigilância contra o pecado interior até o dia em que o pecado não exista mais.

O puritano John Owen, em sua obra clássica A Mortificação do Pecado, descreve o que a vida cristã requer: “Ainda os melhores crentes, aqueles que estão seguramente libertos do poder de condenação do pecado, devem dedicar-se, todos os dias, a mortificar o poder restante do pecado”. Owen vê a mortificação como o trabalho de nossa vida — deve ser feita “todos os [nossos] dias” porque a perfeição não será alcançada deste lado do céu.

Uma nova criação em Cristo

Mesmo que a Bíblia deixe claro que a perfeição não é possível nesta vida, a Palavra de Deus é igualmente clara para que os cristãos devem crescer em piedade. A razão teológica para isso tem tudo a ver com o que acontece na regeneração: somos feitos novas criaturas em Cristo. Esta é a surpreendente verdade que Paulo declara em 2 Coríntios 5:17, “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”.

Ser uma nova criação é a biografia de todo cristão. É uma promessa para todos aqueles que estão “em Cristo”, isto é, unidos pela fé ao Senhor ressurreto e exaltado. O termo “nova criação” carrega consigo a ideia do poder soberano e criativo de Deus. Paulo invocou essa ideia antes, quando aludiu ao poder de Deus em criar a luz e formar o cristão: “Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo” (2 Co. 4:6).

O que aprendemos é que o cristianismo não é um ajuste moral. Não é meramente limpar nosso velho eu, como se estivéssemos apenas sujos. Afinal, o cristianismo não trata de novos hábitos ou de uma nova perspectiva, embora inclua essas coisas. O cristianismo é uma inspeção completa e exaustiva. Nada menos do que uma nova criação.

Um cristão é aquele que experimentou a promessa da nova aliança de Ezequiel 36:26-27, onde Deus proclama o que será realizado em Cristo pelo Espírito:

Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis.

O cristão recebeu um novo coração e o próprio Espírito de Deus, para que agora “andemos nós em novidade de vida” (Rm. 6:4).

O apóstolo diz que “as coisas antigas já passaram”. Com a cruz de Cristo, temos o fim da antiga aliança, bem como o fim da antiga vida daqueles que agora estão em Cristo. Nossa antiga vida sem Deus, egocêntrica e carnal foi crucificada.

E porque as coisas antigas já passaram, nosso objetivo é “fazer morrer” tudo o que pertencia a essa velha vida:

Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria; por estas cousas é que vem a ira de Deus [sobre os filhos da desobediência]. Ora, nessas mesmas cousas andastes vós também, noutro tempo, quando vivíeis nelas. Agora, porém, despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar. Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou (Cl. 3:5-10).

O cristão é aquele que faz um inventário constante de sua vida e pergunta: “O que em minha vida preciso fazer morrer?”. Assim que algo for identificado, resolvemos matá-lo. Na verdade, mobilizamos todos os meios de graça à nossa disposição e travamos uma guerra contra o pecado em nossas vidas.

A vida cristã, entretanto, não é apenas sobre o que já passou; é também sobre o que surgiu. Em 2 Coríntios 5:17, Paulo está dizendo que algo de tirar o fôlego aconteceu. Estamos agora, embora tênue, começando a exibir em nossas vidas as cores radiantes da semelhança com Cristo. No poder do Espírito Santo, começamos a “nos revestir” da semelhança de Cristo:

Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição (Cl. 3:12-14).

É verdade que não seremos perfeitos nesta vida. A vida em um mundo caído significa que não estaremos totalmente livres do pecado deste lado do céu. Mas essa verdade não nos leva ao desespero. Como cristãos, fomos unidos a Cristo pela fé e recebemos o Espírito Santo. Portanto, “procuramos agradá-lo” (2 Co. 5:9). E mesmo quando, às vezes, tropeçamos e vacilamos, nos alegramos com Paulo em 2 Coríntios 2:14, “Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento”.

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.

Mike Pohlman
Mike Pohlman
O Dr. Mike Pohlman é professor assistente de pregação cristã em Southern Baptist Theological Seminary e pastor principal da Cedar Creek Baptist Church em Louisville, Kentucky.