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Como evangelizar com coragem e bondade

evangelho

Nota do editor: Este é o décimo sétimo de 18 capítulos da série da revista Tabletalk: O orgulho e a humildade.

Todo cristão é chamado a dar testemunho de Jesus Cristo como Senhor e Salvador. O próprio fato de sermos conhecidos como cristãos é em si um ato de testemunho. Os seguidores de Jesus foram originalmente chamados de “discípulos” ou pessoas do “Caminho”, mas receberam o rótulo de “cristãos” em Antioquia (At 11:26). A palavra significa “que pertence a Cristo” e, embora tenha sido originalmente concebida como um insulto, ela se tornou a forma mais comum de identificar aqueles que professam a fé em Jesus em todo o mundo. A questão então é: será que vivemos de acordo com nosso nome?

Todo crente é um evangelista. Ser conhecido como cristão desvia as pessoas do que somos em nós mesmos por natureza para o que nos tornamos em Cristo pela graça, mas também envolve explicar a esperança de salvação para os outros.

Isso começa com o que somos. Nossas vidas devem brilhar como luzes neste mundo escuro para que as pessoas sejam atingidas por elas. Jesus deixa isso claro no Sermão do Monte (Mc 5:14-16). Nosso comportamento e como nos relacionamos com outras pessoas — até mesmo com nossos inimigos — devem se destacar da melhor maneira possível. Deve fazer as pessoas se perguntarem o que nos torna diferentes. J. I. Packer disse que a definição básica de evangelismo é “cristãos sendo cristãos no mundo”. É claro que, se nossas vidas estão causando esse tipo de impacto nas pessoas ao nosso redor, mais cedo ou mais tarde elas vão querer saber o que nos move. Quando isso acontece, precisamos saber como responder.

O apóstolo Pedro explica que isso significa “estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1 Pe 3:15). Ou seja, devemos estar em um estado de prontidão. Nunca sabemos quando pode surgir uma oportunidade de compartilhar o evangelho. Portanto, quando isso acontecer, devemos saber com antecedência os elementos principais do que é e por que as pessoas precisam levá-lo a sério.

O ponto de partida é simples: há algo desesperadamente errado, não apenas com o mundo, mas, no nível mais profundo, com cada um de nós. Reconhecer o problema oferece a oportunidade de discutir o que realmente é e, em seguida, explorar as respostas. Não há nada a temer em deixar que quem quer que estejamos falando exponha suas próprias ideias em ambas as frentes. Isso deixa essas ideias abertas ao exame para ver como resistem ao questionamento, mas também leva naturalmente a considerar as respostas da Bíblia.

Essas respostas começam com Gênesis e a maneira como as coisas deveriam ser quando Deus criou o mundo. Existe em todo ser humano o que um autor chamou de “ecos do Éden”, uma sensação profunda de que as coisas nem sempre foram como são hoje. Mas o paraíso deu lugar à perdição. O pecado de Adão mudou tudo e todos. Mesmo assim, havia esperança. Ao prometer que a descendência da mulher feriria a cabeça da serpente (Gn 3:15), Deus estava apontando para o Salvador que enviaria. Essa promessa estabeleceu o enredo para toda a mensagem da Bíblia e, por fim, levaria à vinda do próprio Filho de Deus para trazer libertação e restauração por meio de Sua vida perfeita, expiação vicária, ressurreição e entronização.

A forma como expressamos essas respostas também é importante. Vemos isso na maneira como Jesus explicou o mesmo evangelho a dois indivíduos muito diferentes no Evangelho de João. Sua abordagem a Nicodemos no capítulo 3 contrasta com a maneira como ele se envolveu com a mulher samaritana no capítulo seguinte.

Jesus foi direto com o fariseu hipócrita que conhecia, mas não compreendia verdadeiramente sua Bíblia hebraica. Sua abordagem para a mulher samaritana foi muito diferente. Tudo começou com um simples pedido de um gole de água que o levou a contar a ela sobre a “água viva” que se tornará “uma fonte de água a jorrar para a vida eterna” (Jo 4:14). O espírito com que Ele conduzia essas conversas estava ligado ao seu conteúdo.

Pedro ecoa isso quando afirma que, ao oferecermos a razão de nossa fé, devemos fazê-lo “com mansidão e temor, com boa consciência” (1 Pe 3:15-16). Conversas (e debates) sobre o evangelho não são destinadas a provar algo sobre nós, mas a mostrar algo sobre nosso Salvador. Algo sobre Sua gentileza, humildade e amor pelos perdidos deve impregnar nossas interações com aqueles que precisam de salvação.

Não é sem significado que foi Pedro quem escreveu essas palavras, porque, como já observamos, é preciso um certo tipo de coragem para falar de Cristo aos outros. Pedro foi rápido em declarar sua lealdade a Cristo no cenáculo, mas sua aparente bravura não passava de bravata. Quando questionado sobre seu relacionamento com Jesus durante Seu julgamento, Pedro perdeu a coragem e negou seu Salvador três vezes. No entanto, no dia de Pentecostes, esse mesmo Pedro — agora restaurado e reintegrado — arriscou a vida ao se levantar e anunciar Cristo à multidão em Jerusalém.

Como? Porque ele, o pecador vacilante, havia testemunhado a maravilha da redenção em toda a sua plenitude. Havia experimentado o amor de Cristo, demonstrado na cruz por causa dos pecadores, e agora esse mesmo amor o constrangeu a pregar as boas novas aos perdidos. Assim, para nós, se somos cristãos, nada maior despertará em nós a coragem de falar abertamente de Jesus do que conhecer o Seu amor em toda a sua plenitude.Thomas Boston escreveu um livro sobre evangelismo intitulado The Art of Man-Fishing [A arte da pescaria de homens, em tradução livre]. Compartilhar o evangelho com outras pessoas não é um programa a ser implementado; é de fato uma arte a ser cultivada, e a única maneira de fazer isso é por meio da prática.


Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.

Mark G. Johnston
Mark G. Johnston
O Rev. Mark G. Johnston é pastor da Trinity Evangelical Presbyterian Church em Richhill, Irlanda do Norte, e administrador de Banner of Truth Trust. Ele é autor de vários livros, incluindo This World Is Not My Home: Reflections for Pilgrims on the Way [Este mundo não é meu lar: reflexões para os peregrinos ao longo do caminho].