O testemunho de João
outubro 22, 2022
Rendição total
outubro 24, 2022
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O Evangelho dos evangelhos

Nota do editor: Este é o sexto de 10 capítulos da série da revista Tabletalk: Os evangelhos.

Rápido. O que são os evangelhos? O tempo acabou. Você respondeu: “Os evangelhos são as biografias de Jesus Cristo?”. Quando lemos os evangelhos apenas como biografias, basicamente olhamos para eles como árvores separadas da grande floresta. Há uma maneira melhor de lê-los e ouvi-los. Os evangelhos são biografias, mas são interpretações teológicas da vida de Jesus Cristo com o propósito de proclamar a vinda do Rei de Israel e a inauguração do Seu reino sobre toda a terra.

Quando lidos desta forma, somos capazes de ler o evangelho nos evangelhos como o anúncio do cumprimento das promessas dos profetas. Entre suas promessas estavam que um rei viria a Israel, como o Senhor prometeu a Abrão (Gn 17:6), a Judá (Gn 49:10), a Davi (2 Sm 7:12-13), e ao povo de Deus através do cântico de Salomão (Sl 72) e da profecia de Zacarias (Zc 9:9). Quando esse rei viesse, Ele inauguraria um reino de paz para todas as nações (Is 2:2-4; 9:1-7). Vemos este Rei vindouro e Seu reino em cores vivas nas narrativas dos evangelhos.

A entrada do Rei e Seu reino é expressa na narrativa do nascimento de nosso Senhor. Na genealogia de Jesus, Ele é descrito como o “filho de Davi” (Mt 1:1). As quatorze gerações de Abraão a Davi se dirigiram em direção ao grande rei e reino de Israel (1:2-6), enquanto as quatorze gerações de Davi à Babilônia se afastaram daquele glorioso reino do rei (1:7-11). Com a vinda de Jesus, as quatorze gerações da Babilônia a Cristo são uma restauração da realeza e do reino davídico (1:12-16). A verdadeira identidade deste menino é mostrada pelas viagens dos “magos do Oriente” (2:1) que viajaram para encontrar “o recém-nascido Rei dos judeus” para “adorá-lo” (2:2).

João anunciou a vinda deste Rei, ao pregar: “está próximo o reino dos céus” (3:2), enquanto a própria pregação de nosso Senhor na sinagoga foi caracterizada por um anúncio de Seu reino (4:17). Ao longo de Seu ministério, Jesus pregou o “evangelho do reino” (4:23, 9:35; Lc 16:16), uma frase que significa que o reino é o assunto do evangelho. Nosso Senhor pregou Suas parábolas para comunicar a Seus discípulos “os mistérios do reino dos céus” (Mt 13:11; veja também vv. 19, 24, 31, 33, 38, 41-45, 47, 52). Jesus usou Sua identidade como rei para confundir os fariseus, perguntando-lhes: “‘Que pensais vós do Cristo? De quem é filho?” Responderam-lhe: “De Davi” (22:42). Jesus então apontou que no Salmo 110, Davi, “pelo Espírito, chama-lhe [a Cristo] Senhor, dizendo: ‘Disse o Senhor ao meu Senhor’” (Mt 22:43-44a). A conclusão de Jesus foi magistral, deixando os fariseus sem palavras: “Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é ele seu filho?” (22:45).

Até mesmo a narrativa da paixão é sobre o Rei e Seu reino, não o triste final de uma biografia. Quando o sumo sacerdote Caifás interrogou Jesus, ele afirmou: “nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus” (26:63). Jesus respondeu: “Tu o disseste; entretanto, eu vos declaro que, desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu” (26:64). No entanto, esse rei sofreria primeiro zombaria: “Salve, rei dos judeus”, tendo um manto escarlate colocado em suas costas, uma coroa de espinhos colocada em sua cabeça e uma cana colocada em sua mão (27:28-29). Mesmo acima de Sua cabeça foi colocado um cartaz: “Este é Jesus, o Rei dos Judeus” (27:37). Porém, como o evangelho de João deixa claro, por meio da humilhação, nosso Senhor experimentou a exaltação: “E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo” (Jo 12:32).

É claro que a ressurreição de nosso Senhor é a prova mais poderosa de Sua realeza e evangelho do reino: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt 28:18). A razão para isso, como Tiago disse no Concílio de Jerusalém, foi que a ressurreição foi o levantamento da tenda caída de Davi (At 15:13-18; veja Am 9:11-12). O Rei veio e estabeleceu Seu reino como os profetas predisseram.

O que essa maneira de ler os evangelhos deve fazer conosco? Primeiro, deve nos levar a ler os evangelhos com mais urgência, pois o Rei veio e Seu reino está próximo. A palavra característica de Marcos, “e logo”, nos mostra a força da leitura e de entender sua mensagem (1:12, 18, 21, 23, 29, 42). Em segundo lugar, como os evangelhos não são meras biografias, não devem ser lidos de longe, como se fossem apenas histórias do que aconteceu “há muito tempo, num lugar, muito, muito distante”. Devemos participar dessas narrativas pela fé: “Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (João 20:30-31). Terceiro, os pregadores precisam pregar os evangelhos não como elementos históricos, como princípios para uma vida cristã vitoriosa, nem como fachada nos cultos da Semana Santa, mas como relatos urgentes da inauguração de um reino eterno que nosso Rei estabeleceu neste mundo. Os ministros devem pregar o evangelho nos evangelhos e não transformá-los em novas leis.

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Megazine.

Daniel R. Hyde
Daniel R. Hyde
O Rev. Daniel R. Hyde (candidato Ph.D., Vrije Universiteit Amsterdã) é pastor da Oceanside United Reformed Church em Oceanside, Califórnia. Ele é autor de muitos livros, incluindo God in Our Midst [Deus em nosso meio] e Welcome to a Reformed Church [Bem-vindo à Igreja Reformada].