"Não julgueis"
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“Não julgueis”

Nota do Editor: Este é o décimo primeiro de 13 capítulos da série da revista Tabletalk: A doutrina do homem.

Mateus 7:1 é uma das declarações mais necessárias e uma das mais abusadas da Bíblia. Não é incomum encontrar pessoas que parecem conhecer apenas três versículos da Bíblia: “Não julgueis” (Mt 7:1), “Deus é amor” (1 Jo 4:16) e “Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra” (Jo 8:7). Essas pessoas — cristãs professas ou não — realmente não estão interessadas em entender a Bíblia em seus próprios termos. Ficam felizes em colocar slogans nas Escrituras se for adequado aos seus propósitos.

No entanto, só porque as pessoas podem fazer mau uso de um versículo não nos dá uma razão para jogá-lo fora. O fato é que Mt 7:1 é um corretivo necessário que muitos cristãos precisam ouvir. Se pudermos primeiro eliminar as falsas alegações, estaremos em posição de permitir que Mateus 7:1 nos molde como Jesus pretendia.

UM MANDAMENTO MAU USADO

Então, o que esse versículo “não” significa? Em primeiro lugar, “não julgueis” não significa que suspendemos o estado de direito. Deus ordenou oficiais no estado (Rm 13:1-2) e na igreja (Mt 18:15-17; 1 Co 5:9-13) para exercer julgamento quando os membros de cada instituição deixam de fazer o que é certo. Não julgamos no sentido de exercer justiça vigilante individual, porque confiamos que Deus exercerá Sua justiça por meio das autoridades competentes (Rm 12:17-21).

Em segundo lugar, “não julgueis” não significa que desligamos nossos cérebros. Em outro lugar nas Escrituras, somos advertidos a não acreditar em todo espírito (1 Jo 4:1). Devemos ser pessoas com discernimento, que julgam com reta justiça (Jo 7:24). Simplesmente não há como ler a Bíblia e concluir que a piedade envolve aceitar tudo o tempo todo e concordar com todos, não importa o que aconteça. O mesmo Jesus que pregou sobre não julgar também repreendeu a igreja em Tiatira por tolerar falsos mestres e imoralidade sexual (Ap 2:20).

Em terceiro lugar, “não julgueis” não significa que suspendemos todas as distinções morais. O Sermão do Monte não proíbe a avaliação teológica e ética. Jesus não proíbe críticas duras quando necessárias. Pense nisso: o Sermão do Monte está cheio de julgamento moral. Jesus chama as pessoas de hipócritas (Mt 7:5). Ele comunica ao povo para tomar cuidado com os falsos profetas (v. 15). Apenas algumas frases após o mandamento de “não julgueis”, Jesus espera que entendamos (e venhamos a discernir) que algumas pessoas são cães e porcos (v. 6). É como se Jesus estivesse declarando: “Não quero que vocês sejam censuradores, mas também não quero que sejam ingênuos”.

UM MANDAMENTO NECESSÁRIO

Embora seja importante não se apropriar indevidamente de Mateus 7:1, devemos ter cuidado para que nossas salvaguardas não tornem o mandamento de Jesus seguro demais. A liminar de não julgar é uma advertência necessária para todos nós, em particular para a pessoa religiosa que pode ser facilmente tentada a menosprezar aqueles que parecem menos religiosos. Então, “o que” o versículo significa?

Em primeiro lugar, “não julgueis” significa que devemos medir os outros da maneira que gostaríamos de ser medidos. Ninguém quer que balanças pesadas sejam usadas contra eles, ou uma medida injusta que seja muito curta ou muito longa. Todos queremos ser avaliados de forma justa e consistente. Este é o argumento que Jesus faz no v. 2. “Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.” Não presuma o pior das pessoas por causa da cor da pele, como se vestem, onde moram ou quem eram seus pais. Não se apresse em julgar antes de ouvir de todos os lados.

Em uma era de tribalização e julgamento pela internet, uma das ações mais poderosas que podemos fazer como cristãos é pensar na medida que queremos para nós e depois usar essa medida para os outros. Como quero que as pessoas me julguem? Quero que as pessoas olhem de todos os ângulos e não acreditem logo no pior de mim. Quero que as pessoas lidem com fatos, não com fofocas ou especulações. Quero que as pessoas me ouçam com justiça e estejam abertas a mudar de ideia. Quero que as pessoas falem com respeito comigo e de mim. Não é assim que você quer que as pessoas o avaliem? É essa a medida que estamos usando para os outros?

Em segundo lugar, “não julgueis” significa que devemos examinar a nós mesmos primeiro. Jesus não está nos proibindo de corrigir ou falar a verdade. Mas Ele quer que primeiro corrijamos nossos próprios corações e falemos a verdade para nós mesmos (vv. 3-5). A crítica moral e teológica pode ser justificada, desde que seja acompanhada por uma autocrítica séria. Tendemos a exagerar os defeitos dos outros e a minimizar os nossos. Como expressou João Calvino: “Dificilmente existe uma pessoa que não se sinta estimulada pelo desejo de investigar as falhas de outras pessoas.” Depreciar os outros é uma forma barata de atingir a superioridade moral. Podemos ver a verdade com clareza, mas de que serve essa percepção dos outros se não a aplicarmos primeiro em nossa própria vida?

Em terceiro lugar, “não julgueis” significa que devemos nos lembrar de quem somos. Jesus gostaria que lembrássemos que Ele é o Juiz e nós os julgados. Mais do que isso, quando se trata de cristãos na igreja, somos uma família. Observe a linguagem explícita de “irmão” no v. 3. Jesus é realista sobre a família de Deus. Haverá conflito. Haverá argueiros para remover e traves também. Jesus afirma, na verdade: “Vocês serão tentados a serem rudes uns com os outros. Mas deixe-me mostrar-lhe uma maneira melhor. Você pode amar como Eu amei?”.

Julgue de acordo com a Palavra de Deus, sim, mas nunca se entregue ao julgamento hipócrita, farisaico, hipercrítico, preconceituoso e impiedoso. Esse nunca é o modo de Cristo, e também não deveria ser o modo dos cristãos.

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.

Kevin DeYoung
Kevin DeYoung
El Rev. Kevin DeYoung es pastor de Christ Covenant Church en Matthews, N.C., y maestro asistente de Teología Sistemática en el Reformed Theological Seminary de Charlotte, N.C. Es autor de numerosos libros, incluyendo Taking God at His Word [Confía en Su Palabra] y Just Do Something [Haz algo].