
O que é a coragem?
maio 16, 2025
TULIP e a teologia reformada: uma introdução
maio 21, 2025O que é a benignidade?

Nota do editor: Este artigo faz parte da coleção Virtudes e defeitos.
“Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus” (Lc 6:35). Essas palavras de Jesus fazem parte do Sermão do Monte, onde Ele explica o que é viver segundo o reino de Deus. Em Seus ensinamentos, Jesus desafia Seu público descrevendo os altos padrões de vida que agradam a Deus. Um perigo nessa passagem é que alguém pode ser tentado a pensar que essas palavras de Cristo são apenas bons conselhos sobre como ser benigno, em vez de uma maneira de mostrar quão impossível é cumprir nossa obrigação moral para com o próximo e para com o nosso Criador.
Em nossa cultura moderna, as pessoas, em geral, concordam que devem ser gentis umas com as outras. Porém, o que isso significa? Muitos acreditam que cuidar da própria vida e deixar os outros pensarem e fazerem o que bem entendem descreve o que significa ser gentil ou benigno. No entanto, Jesus ensina amar os inimigos, não apenas para ser legal com as pessoas.
De acordo com a Bíblia, a benignidade está enraizada no amor, não simplesmente na tolerância. O Antigo Testamento usa a palavra hesed, que significa “benignidade amorosa”, para descrever a maneira como Deus ama Seu povo. Ao considerarmos a maneira como Deus define a benignidade, precisamos nos perguntar com sinceridade: podemos amar os outros com o mesmo comprometimento e cuidado que Deus demonstra por um povo que várias vezes o trai? Somos capazes de trabalhar pelo bem-estar dos outros mesmo quando eles nos rejeitam?
O apóstolo Paulo afirma em Tito 3:3 que, por estarmos caídos e em rebelião contra Deus, por natureza odiamos e invejamos os outros. Se essa é a realidade dos nossos corações, então a benignidade é difícil de compreender, pois seu verdadeiro significado é amar as pessoas como Deus as ama.
No Sermão do Monte, as palavras de Jesus naturalmente levam as pessoas ao desespero ao considerarem a escuridão de suas almas. Quem entre nós pode amar aqueles que nos odeiam? Quem pode emprestar sem esperar pagamento? Quem pode fazer o bem àqueles que por natureza invejamos? Contudo, Jesus também explica ao Seu público a fonte de um coração transformado que é capaz de ser benigno. O segredo está nas palavras: “Ele é benigno até para com os ingratos e maus”. Isso mostra que precisamos mudar a maneira como vemos as pessoas. Em vez de olhar para os outros com desprezo, devemos olhar para os outros com a mesma compaixão que Deus demonstrou para conosco, Seus inimigos (Rm 5:10-11).
Benignidade é mais do que apenas ceder nosso assento no metrô para um idoso, dar algum dinheiro para um morador de rua ou tentar ser paciente com nosso cônjuge. A benignidade é a vontade de fazer o bem que brota da dor de encarar nossa própria miséria e, ao mesmo tempo, admirar a benignidade de Cristo para conosco. A verdadeira benignidade surge da compreensão da maneira como fomos tratados por Deus em Cristo. Não apenas fomos perdoados, mas nos tornamos filhos de Deus e herdeiros do Altíssimo. Benignidade é ver nossa própria fragilidade na fragilidade dos outros e ver a necessidade deles de compaixão como nossa própria necessidade.
Um exemplo claro do que é a verdadeira benignidade pode ser visto no momento em que o filho pródigo volta para seu pai na esperança de compensá-lo por sua dívida (Lc 15:11-32). O pai olha para o filho e o abraça com benignidade. Ele não apenas perdoa toda a dor e vergonha que seu filho trouxe sobre ele e sua família, mas o pai de fato se alegra em fazer o bem ao filho, pois lhe dá um lindo anel e uma nova túnica. A benignidade implica que estamos felizes, porque Deus ama os outros como somos amados. O verdadeiro significado da benignidade só pode ser compreendido quando interpretamos a realidade através das lentes do evangelho.
A benignidade também pode ser representada na história de um homem da minha igreja. Um dia ele veio e me contou que estava muito bravo com alguém. Me explicou o que tinha acontecido entre ele e aquela pessoa, e sobre todo o dano que aquela pessoa tinha causado a ele. Entretanto, no final da conversa, o homem expressou: “Quero odiar essa pessoa por todo o mal que me fez, mas Senhor destrói meu desejo de odiá-la. Toda vez que penso em vingança, também me vem à mente que Deus talvez ama essa pessoa como Ele me ama. Então minha raiva se transforma em oração por ela. Quero ser benigno com ela, mesmo quando isso me machuca.”
Este homem entendeu de uma forma dolorosa que ser genuinamente benigno só pode vir de ter experimentado hesed, a benignidade amorosa de Deus em Jesus Cristo, nosso Salvador.
Artigo publicado originalmente em Ligonier.org.