O Rei do reino de Deus 
O reino de Deus e as Escrituras
novembro 21, 2023
O lugar do reino de Deus 
novembro 23, 2023
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O Rei do reino de Deus 

Nota do Editor: Este é o terceiro de 17 capítulos da série da revista Tabletalk: O reino de Deus.

No Mundo Antigo, o rei supervisionava campanhas de construção pública, liderava os exércitos da nação em batalha, administrava um sistema de justiça e propagava a sabedoria em todos esses esforços. O rei era a personificação da identidade do reino, era a expressão perfeita do seu povo e era frequentemente descrito como o pai da nação, o que sugere uma relação mais profunda entre o rei e o seu povo do que aquela que envolvia apenas política ou governo. A relação entre o rei e o seu povo era, na melhor das hipóteses, uma possibilidade gloriosa para a prosperidade humana e, na pior das hipóteses, uma oportunidade terrível para o sofrimento humano.

O REI NO PLANO DE REDENÇÃO DE DEUS
A humanidade sempre foi destinada a ter um rei, porque os humanos foram criados como parte do reino de Deus. Isto é o que Deus pretendia quando nos criou de acordo com a imago Dei, “a imagem de Deus”, ao formar o homem a partir da terra para ocupar e, finalmente, preencher o Seu domínio terreno com a Sua imagem. Em Gênesis 1, a terra é descrita como um palácio físico que um dia será preenchido e subjugado por regentes humanos que são feitos à imagem de seu divino Rei-Criador (vv. 27-28). Esta identidade real informa a nossa identidade humana no seu nível mais fundamental. Mesmo à luz do total fracasso e destruição da queda, a humanidade ainda é chamada a fixar os seus olhos nesta visão de uma terra cheia da glória de Deus, e as imagens redimidas de Deus são chamadas a orar para que o governo real de Deus seja aplicado à terra “como no céu” (Mt 6:10; veja Is 6:3). Jesus nos disse para orar dessa maneira, porque Ele também espera esse dia.

Após a queda, Deus designou uma família dentre todas as famílias da terra, da qual viria uma linhagem de reis, agora como parte de Sua obra de redenção. Foi prometido a Abraão não só que Deus o transformaria numa grande nação que habitaria numa grande terra, mas que “reis procederão de ti” (Gn 17:6), uma indicação de que a esperança de redenção delineada na era patriarcal do Antigo Testamento incluía a esperança de que um rei humano viesse da linhagem de Abraão.

Este quadro é complementado ainda mais na aliança mosaica, onde encontramos regras e restrições para um futuro rei, destinadas a encorajá-lo a permanecer fiel ao Senhor (Dt 17:14-20). Não deveríamos ficar surpresos que tal passagem venha antes da coroação de um rei de fato. Grande parte do ensino mosaico pressupõe a bênção que ainda não havia sido fornecida ao povo de Israel. Ali, nos arredores da terra prometida, situado nas estepes de Moabe, a grande extensão da esperança israelita foi exposta em detalhes no livro de Deuteronômio, que inclui a provisão divina de um santuário, as condições para viver na terra, a estrutura do estado teocrático e o perfil do tipo de rei que Israel deveria ter para governá-lo.

Os livros históricos de Josué até 2 Samuel retratam a história de como Israel se apoderou desta esperança e por isso não deveríamos ficar surpresos ao ver a realeza surgir outra vez em outra aliança, desta vez estabelecendo o trono eternamente na linhagem do rei Davi (2 Sm 7). Tal como Abraão e Moisés antes dele, Davi recebeu a promessa cujo cumprimento ocorreria muitos anos depois.

A mensagem unificada do Antigo Testamento é clara: desde o início, o Rei divino sempre pretendeu que a humanidade fosse unificada sob o governo do Seu rei humano designado, aquele que subjugaria a terra sob o Seu reinado justo e abundante. Tragicamente, quando a cortina se fecha sobre o Antigo Testamento, não foi identificado um candidato apropriado da linhagem de Davi, mas quando a cortina se abre sobre o Novo Testamento, Jesus emerge como o verdadeiro Rei e legítimo herdeiro de todas as promessas redentoras de Deus. Na verdade, todas as promessas de Deus são “sim” em Cristo e “amém” para aqueles que estão unidos a Ele em Seu reinado (2 Co 1:20).

O REINO PROMETIDO DE CRISTO

Cristo se revela como o Rei que a humanidade esperava, porque Ele é o único que cumpre os requisitos que Deus exige no Seu pacto. Como tal, Ele é o “último Adão” (1 Co 15:45; veja Rm 5:12-21; 1 Co 15:22), o verdadeiro Israel (Mt 2:15; Jo 15:1-17), e o Filho messiânico de Davi (Mt 1:1; 9:27; 20:30), que cumpre as funções e recebe a herança prevista por cada uma das alianças mencionadas.

Ao contrário dos representantes da aliança que vieram antes dEle, Cristo administra a Sua aliança para o Seu povo a partir de uma posição de identificação única com Deus. Os escritores apostólicos tiveram dificuldade em descrever a posição de autoridade de Cristo no cosmos em apenas uma expressão elevada e superlativa. Ele é “a expressão exata do seu Ser [de Deus]” (Hb 1:3), Aquele em quem “habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Cl 2:9), e Aquele que é colocado “acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio” (Ef 1:21). Desta forma, a aliança de Cristo não apenas supera todas as alianças anteriores, é a realidade da qual todos os pactos anteriores foram apenas um prenúncio (Rm 5:14; Cl 2:7; Hb 8:5; 9:23-24; 10:1). Qualquer coisa e qualquer pessoa que prefigurar o reinado de Cristo no Antigo Testamento foi agora relegado ao estado de antecipação, sombra e tipo. Apontaram para Cristo e agora encontram seu significado nEle.

O reino fornece um quadro temático para o ministério terreno de Jesus. Ele começa dando testemunho de Seu reino (Mt 4:17; Mc 1:15) e comissionando os apóstolos para continuarem essa missão do reino depois que Ele partir (Mt 28:16-20). De acordo com o Breve Catecismo de Westminster, Cristo executa o ofício de Rei “sujeitando-nos a Si mesmo, governando-nos e protegendo-nos, contendo e subjugando todos os Seus e os nossos inimigos” (Resposta 26). Aqueles que são considerados povo de Deus honrarão e obedecerão com a devida reverência ao Rei que Deus estabeleceu sobre eles. Uma pessoa não pode afirmar que foi salva por outros meios, como linhagem ou realização moral. Para alguém ser salvo deve aceitar a realeza de Cristo. Embora muitos dos escribas e fariseus dos dias de Jesus sem dúvida resistissem ao Seu ensino, pois se apegavam a uma forma de legalismo, também é provável que muitos simplesmente não estivessem abertos à ideia de fé em alguém como Jesus. Como as diversas rebeliões do Antigo Testamento, sua rejeição da autoridade designada por Deus foi uma rebelião contra o próprio Deus (Nm 16; Jo 8:19). Não é suficiente aceitar a lei de Moisés ou as promessas feitas a Davi se alguém nega a realeza de Cristo. Como Jesus adverte: “Se vós me tivésseis conhecido, conheceríeis também a meu Pai” (Jo 14:7).

Até hoje, Cristo governa com a destra de Deus Pai Todo-Poderoso (At 5:31; Cl 3:1). Como resultado, a igreja de Cristo não olha para um santo do passado como o nosso representante da aliança; nem olhamos para as relíquias terrenas de uma geração anterior, mas sim para um Rei vivo como nossa autoridade primária e mais elevada.

A MORADA DO REINO DE CRISTO

Os membros da igreja universal estão profundamente unidos uns com os outros em Cristo, assim como são participantes da comunhão entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Esta comunhão espiritual permite que os crentes, como indivíduos e como corporação, sejam livres da corrupção do pecado que uma vez os governou, ao mesmo tempo que também os une uns aos outros como o corpo coletivo de Cristo, o santuário vivo de Deus na terra e o principal agente do reino de Cristo (Mt 16:19). Cristo iniciou este aspecto de Seu reino em Sua oração imediatamente antes de Sua traição:

Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim (Jo 17:20-23).

Sem dúvida, Cristo lidera a Sua igreja, que está unida nEle através do Espírito Santo, a quem os apóstolos se referem de forma reveladora como “o Espírito de Cristo” (Rm 8:9; 1 Pe 1:11). O Espírito não é apenas eficaz na regeneração do crente, mas também é o sustento regular pelo qual o cristão vive como cidadão do reino de Cristo. A realeza de Cristo tem uma aplicação bidirecional. Estabelece uma relação apropriada entre Deus e o Seu povo, porque Cristo é verdadeiramente humano, mas também estabelece uma relação apropriada entre o Seu povo e Deus, pois Cristo é verdadeiramente divino. Por causa de Cristo, podemos estar unidos a Deus e desfrutar de todas as bênçãos inerentes a essa união.

O caráter e a obra da igreja são fundados em Cristo, vivificados em Seu Espírito e direcionados para os fins de Seu reino. Ele está em nós assim como estamos nEle. Cristo é mais que um santo na nossa tradição ou um profeta de Deus, Ele é o cumprimento das expectativas das Escrituras hebraicas. Nossos corações são conformados ao Seu coração real através da obra do Espírito na santificação, de modo que por causa de nossa união espiritual com Ele, ansiamos que Seu reino venha em sua plenitude.

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.

Scott Redd
Scott Redd
O Dr. Scott Redd é presidente e professor de Antigo Testamento no Reformed Theological Seminary, em Washington, D.C. Ele é autor de The Wholeness Imperative [O imperativo da totalidade].