Ociosidade e tentação - Ministério Ligonier
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Ociosidade e tentação

Nota do editor: Este é o décimo quinto de 18 capítulos da série da revista Tabletalk: O orgulho e a humildade.

A Bíblia tem muito a dizer sobre a ociosidade. E não de forma positiva. A preguiça é característica do preguiçoso de Provérbios, que será vencido pela pobreza (Pv 15:19; 24:30-34). O preguiçoso que não trabalhar não comerá (Pv 20:4). Recusar-se a trabalhar é uma tolice consumada. A ociosidade é contrária ao mandamento bíblico de frutificar e multiplicar (Gn 1:26-28). Assim, está em conflito com a busca das bênçãos de Deus e é coerentemente retratado como contrário à vontade de Deus (Pv 12:27; 19:15). Em resumo, a preguiça leva à destruição (Pv 18:9 ; Ec 10:18).

No Novo Testamento, Paulo adverte contra a ociosidade e fornece sua própria vida como um padrão de diligência piedosa (1 Co 15:10; 1 Ts 2:9 ; 2 Ts 3:6-11). Da mesma forma, ele também fala de domínio próprio como um fruto do Espírito (Gl 5:2, 23). Para ter certeza, Paulo não ensina uma ética de justiça própria, não somos justos diante de Deus com base em qualquer coisa que possamos fazer. Mesmo assim, os escritos de Paulo são coerentes com o chamado de Provérbios para sermos diligentes em nosso ofício enquanto trabalhamos para o Senhor.

A Bíblia deixa claro que devemos nos envolver em um trabalho construtivo e diligente. Esta é uma marca de maturidade e normalmente levará a bênçãos. O diligente deve esperar receber os frutos de seu trabalho, mas os perigos da ociosidade são muitas vezes agravados, pois a ociosidade também pode levar a outros pecados. A ociosidade é a serva da tentação. A preguiça geralmente produz não apenas espinhos, mas também tentações que levam ao pecado, e gera a morte (Tg 1:14-15). Quando não estamos focados em nada — ou em nós mesmos — somos mais propensos às tentações que surgem de nossos corações pecaminosos.

Perseguir o trabalho diligentemente é, portanto, uma estratégia útil para lidar com as tentações. Ter muito tempo de lazer — ou não ter um trabalho positivo para fazer — pode nos levar mais facilmente à tentação. Como aqueles criados à imagem de Deus, fomos feitos para trabalhar e criar. Ficar sentado sem fazer nada — ou fazer atividades de baixo atrito, como assistir a programas de televisão ou acesso indiscriminado de dispositivos como celular — pode levar à preguiça de espírito que fornece um terreno fértil para a tentação. A preguiça também nos faz voltar a nós mesmos, levando-nos a perder de vista os outros ao nosso redor feitos à imagem de Deus, a quem devemos amar como a nós mesmos.

Para combater essa atração atrófica para a preguiça, devemos encher nossas mentes com a verdade bíblica e começar a trabalhar. Em outras palavras, uma resposta para os perigos da ociosidade é, como para a santificação em geral, agir. A santificação requer trabalho; devemos guardar nossos corações de acordo com a Palavra de Deus (veja Sl 119:9-11) e fazer uso dos meios da graça (a Palavra, os sacramentos e a oração; veja o Breve Catecismo de Westminster [R. 88]). Da mesma forma, fazer algo construtivo geralmente nos afasta da tentação, de modo especial quando esse algo é focado e coerente com as verdades bíblicas. Se a natureza abomina o que é vão, o mesmo acontece com nossos corações: se não estivermos enchendo nossos corações com verdades bíblicas positivas — e nos engajando em atividades bíblicas positivas — nossos corações pecaminosos tendem a nos levar a direções destrutivas e antibíblicas (que tendem a ser de acordo com os padrões mundanos). Trabalhar não significa necessariamente atuar em um local de trabalho (embora possa mesmo ser isso), mas significa estar engajado nas coisas que somos chamados a fazer como aqueles que vivem em um mundo de coisas boas criado por Deus. Saia: faça uma caminhada, um passeio de bicicleta ou pratique um esporte. Convide os vizinhos para um churrasco e um tempo de entretenimento. Toque alguma música. Faça algo, seja um artesão, um projeto de carpintaria ou uma pintura. Estabeleça uma meta nobre e trabalhe para alcançá-la. Fazer algo ativo ajuda a dissipar a preguiça espiritual que tantas vezes acompanha a preguiça física.

Trabalhar também nos protege de nos colocarmos em situações tentadoras. É uma obviedade que a tentação geralmente surge quando nos encontramos em uma situação comprometedora. Se, em vez disso, nos concentrarmos em um trabalho construtivo e positivo, haverá menos oportunidades de acabarmos em uma situação que torne mais difícil resistir à tentação.

Ficamos entediados com muita facilidade e ociosos demais. Isso ocorre em grande parte porque nos concentramos demais em nós mesmos. Nesta luta, como em todos os outros aspectos da vida, não devemos perder de vista o nosso Salvador. Jesus nunca foi ocioso ou preguiçoso. Quando o encontramos nos Evangelhos, Jesus é consumido pelo trabalho que Ele veio fazer (Lc 2:49; Jo 4:34; 5:17, 36). Ele não estava tão consumido consigo mesmo a ponto de negligenciar aqueles ao Seu redor ou a missão que veio cumprir. Com certeza, nenhum de nós é o Salvador. Mesmo assim, podemos aprender com Seu modelo de piedade e diligência. Mais do que isso, Sua obra realmente nos salva. Sua obra deve nos afastar de nós mesmos e de nossas próprias obras insuficientes. Nossas obras não são nossa esperança; se fossem, isso seria paralisante. Mas a obediência sincera de Cristo é perfeita e é o fundamento de nossa justificação.

Portanto, Cristo é um modelo, mas é mais que isso. Ele é o objeto de nossa fé. Quando nos concentramos demais em nós mesmos, talvez não haja receita melhor do que desviar o olhar de nós mesmos e de nosso Salvador: nosso grande Profeta, Sacerdote e Rei. Ele fez o trabalho que não poderíamos fazer e assim nos resgatar de nossa tolice. E à luz de Sua ressurreição, podemos ter mais consolo de que nossas obras, embora não sejam salvíficas, não são em vão (1 Co 15:58).

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.

Brandon C. Crowe
Brandon C. Crowe
O Dr. Brandon Crowe é professor associado de Novo Testamento no Seminário Teológico Westminster, na Filadélfia, e autor do livro “Was Jesus Really Born of a Virgin?” [Jesus realmente nasceu de uma virgem?].