O orgulho e a humildade nas Escrituras - Ministério Ligonier
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O orgulho e a humildade nas Escrituras

Nota do editor: Este é o terceiro de 18 capítulos da série da revista Tabletalk: O orgulho e a humildade.

Quando fui convidado pelos editores da Tabletalk para escrever um artigo sobre humildade, ri um pouco porque percebi como seria fácil dizer a mim mesmo: “Uau! Se estão me pedindo para escrever sobre humildade, deve ser porque eles sabem que sou um cara humilde.” Então eu poderia me dar alguns tapinhas nas costas algumas vezes, me orgulhando de quão humilde sou.

Todo pecado é enganoso, mas o orgulho é especialmente sorrateiro. Quantas vezes você leu alguma história na Bíblia e disse para si mesmo: “O que há com eles? Por que estão fazendo algo tão tolo?” É muito fácil começar a dizer: “Obrigado, Pai, porque não sou como aqueles israelitas que reclamam constantemente.” Ou “obrigado, Pai, por não ser como Sansão. Quão ingênua uma pessoa pode ser?”. Então, chegamos ao Novo Testamento e percebemos que nos estamos dizendo: “Obrigado, Pai, por não ser como aquele fariseu hipócrita que te agradeceu por não ser como aquele cobrador de impostos.”

Todas essas coisas foram escritas para nossa instrução. Quando vemos pecadores e tolos nas histórias da Bíblia, estamos nos olhando no espelho. Não podemos mortificar o pecado do orgulho até que reconheçamos isso e entendamos o quão desesperadamente pecaminosos somos. É por isso que Jesus disse: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5:3). Temos que entender que Deus se opõe aos orgulhosos, mas dá graça aos humildes (Tg 4:6).

Temos que ter uma verdadeira avaliação de nós mesmos, e não podemos ter isso a menos que tenhamos uma verdadeira avaliação da santidade de Deus. Só quando nos vemos à luz da infinita santidade de Deus é que vemos quão verdadeiramente pobres somos. Isso é o que distingue as histórias dos orgulhosos e dos humildes nas Escrituras. Os orgulhosos têm uma visão baixa de Deus e uma visão elevada de si mesmos. Exaltam a si mesmos em vez de a Deus. Esse tipo de orgulho é odiado por Deus (Pv 6:16-17; 8:13).

No livro de Provérbios, o Senhor nos revela que “a soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede, a queda” (16:18). Vemos numerosos exemplos disso nas Escrituras. Sobre o rei Uzias, lemos: “Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração para a sua própria ruína” (2 Cr 26:16). De modo similar, nos é dito sobre o rei Ezequias: “Mas não correspondeu Ezequias aos benefícios que lhe foram feitos; pois o seu coração se exaltou. Pelo que houve ira contra ele e contra Judá e Jerusalém” (32:25). Mais cedo ou mais tarde, o orgulho será seguido pela destruição.

Ezequiel 28 contém um oráculo de julgamento contra o rei de Tiro. Deus promete enviar destruição sobre ele por causa de seu orgulho satânico. O Senhor diz a ele: “Visto que se eleva o teu coração, e dizes: Eu sou Deus, sobre a cadeira de Deus me assento no coração dos mares, e não passas de homem e não és Deus, ainda que estimas o teu coração como se fora o coração de Deus” (v. 2). O rei de Tiro não apenas se exalta; ele se apresenta como um deus. Combinou orgulho e blasfêmia.

Um dos exemplos mais dramáticos de orgulho antes da destruição é testemunhado no caso de Nabucodonosor. Enquanto caminhava no telhado de seu palácio na Babilônia, Nabucodonosor disse a si mesmo: “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com o meu grandioso poder e para glória da minha majestade?” (Dn 4:30). Imediatamente, Deus proclamou julgamento sobre ele, e ele foi reduzido ao nível das feras do campo até que se arrependeu.

Vemos algo muito semelhante no caso de Herodes no Novo Testamento:

Em dia designado, Herodes, vestido de trajo real, assentado no trono, dirigiu-lhes a palavra; e o povo clamava: É voz de um deus, e não de homem! No mesmo instante, um anjo do Senhor o feriu, por ele não haver dado glória a Deus; e, comido de vermes, expirou (At 12:21-23).

Herodes se permitiu ser reconhecido como um deus, e isso lhe custou a vida.

A autoexaltação é vista não apenas entre reis e governantes civis. Também é visto entre os religiosos. Jesus afirma sobre os fariseus:

Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e alongam as suas franjas. Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações nas praças e o serem chamados mestres pelos homens. Vós, porém, não sereis chamados mestres, porque um só é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos. A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está nos céus. Nem sereis chamados guias, porque um só é vosso Guia, o Cristo. Mas o maior dentre vós será vosso servo. Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado (Mt 23:5-12).

Como é ser pobre de espírito e humilhar-se? Jesus nos conta na parábola do fariseu e do publicano (Lc 18:9-14). Enquanto o fariseu quase desloca o ombro e o cotovelo dando tapinhas nas próprias costas, o publicano “não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador!” (v. 13). A humildade envolve uma avaliação precisa da condição de alguém como um pecador diante de Deus.

Existem numerosos exemplos de verdadeira humildade nas Escrituras. É difícil esquecer a história de José. Quando jovem, às vezes ele podia ser muito cheio de si. Mas por meio de inúmeras provações e anos de sofrimento, José aprendeu a ser humilde. Essa humildade está em plena exibição quando Faraó disse a José: “Ouvi dizer, porém, a teu respeito que, quando ouves um sonho, podes interpretá-lo” (Gn 41:15). O jovem José poderia ter dito sim. O humilde José declara: “Não está isso em mim; mas Deus dará resposta favorável a Faraó” (v. 16).

Moisés foi o maior profeta do Antigo Testamento, e ainda assim era “mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra” (Nm 12:3). Ele se submeteu a Deus fielmente.

No entanto, Davi pode ser o exemplo mais evidente de humildade no Antigo Testamento. Certamente não era perfeito. Ele cometeu sua cota de erros. Em alguns casos, cometeu pecados hediondos, como adultério e até assassinato. Mas o que diferencia Davi é que, quando ele caiu, se arrependeu genuína e humildemente. Não tentou se justificar com orgulho. Recebeu a misericórdia de Deus, porque entendeu que Deus é Deus e que ele não é. Vemos isso desde o momento em que Deus fez Sua aliança com Davi. Davi respondeu: “Quem sou eu, Senhor Deus, e qual é a minha casa, para que me tenhas trazido até aqui?” (2 Sm 7:18). Não concluiu que era algo especial. Ele não se exaltou. Ele reconheceu a graça soberana de Deus em escolhê-lo.

Quando vamos ao Novo Testamento, somos imediatamente apresentados com um belo exemplo de humildade no caso de Maria, mãe de Jesus. Depois que o anjo lhe anunciou quem seria seu filho, Maria não se exaltou. Ela exaltou a Deus, ao afirmar: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada.” (Lc 1:46-48)

No apóstolo Paulo, vemos alguém que recebeu uma grande missão e um grande papel na igreja de Jesus Cristo, mas Paulo nunca se esqueceu de quem ele era e do que havia sido. Mais de uma vez falou de si mesmo como o menor dos apóstolos e o menor dos santos, porque havia perseguido a igreja. (1 Co 15:9; Ef 3:8) A certa altura, até se referiu a si mesmo como o principal dos pecadores. (1 Tm 1:15) Ele entendeu que, se não fosse pela graça de Deus, teria sofrido a ira divina. Mas não permitiu que isso o imobilizasse num mar de desespero. Ele se alegrou na graça de Deus e fez fielmente o que Jesus o chamou para fazer.

O maior exemplo de humildade nas Escrituras é o Senhor Jesus Cristo. Somos instruídos a seguir Seu exemplo. Como Jesus, não devemos fazer nada “por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo” (Fp 2:3). Devemos olhar não apenas para [nossos] próprios interesses, mas também para os interesses dos outros (v. 4) Imagine como seria a igreja se os cristãos começassem a fazer isso em números expressivos.

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.

Keith A. Mathison
Keith A. Mathison
O Dr. Keith A. Mathison é professor de Teologia Sistemática no Reformation Bible College em Sanford, Flórida. Ele é autor de vários livros, incluindo The Lord’s Supper [A Ceia do Senhor] e From Age to Age [De era em era].