A definição de orgulho e humildade - Ministério Ligonier
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A definição de orgulho e humildade

Nota do editor: Este é o segundo de 18 capítulos da série da revista Tabletalk: O orgulho e a humildade.

O orgulho e a humildade são dois atributos que podem ser difíceis de entender corretamente. Um ponto de vista típico entre os cristãos faz um claro contraste entre esses dois atributos. Esse ponto de vista sustenta que o orgulho é uma má qualidade e a humildade é uma boa. Essa perspectiva faz sentido quando consideramos a evidência bíblica. Nas palavras de Provérbios 3:34 (conforme citado em Tg 4:6 e 1 Pe 5): “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.” Este versículo parece estabelecer um contraste claro e direto entre esses dois atributos. Mas é tão simples assim? Podemos realmente dizer que o orgulho é sempre um vício? A humildade é sempre uma virtude?

Embora possamos desejar uma resposta rápida e fácil de que o orgulho é sempre ruim e a humildade é sempre boa, devemos perceber que o orgulho e a humildade podem ser uma virtude ou um vício, conforme as circunstâncias. Portanto, precisamos primeiramente examinar como tanto o orgulho quanto a humildade podem ser considerados vícios. Em segundo lugar, precisamos considerar como tanto o orgulho quanto a humildade podem ser vistos como virtudes.

O ORGULHO E A HUMILDADE COMO VÍCIOS
O que pode fazer com que o orgulho e a humildade caiam na categoria comum do vício? Para encontrar uma resposta para essa pergunta, precisamos nos olhar no espelho. Devemos olhar primeiro para nós mesmos. Quando o orgulho e a humildade consideram o eu como sua fonte, ambos são vícios egoístas.

Nas Escrituras, o orgulho é apresentado principalmente como um vício egoísta. Quando as Escrituras usam a palavra “orgulho” , na maioria das vezes ela vem no contexto de uma advertência ou repreensão. O vício do orgulho assume a forma de vanglória em nós mesmos. Podemos nos vangloriar de nossa prosperidade como faz o evangelho da saúde e riqueza, ou podemos nos creditar o sucesso da evangelização, ou podemos nos congratular, por assim dizer, como grandes estudiosos. O pecado do orgulho se enraíza quando paramos de olhar para Deus (Sua providência, sabedoria e graça) como a fonte de todos esses benefícios e começamos a assumir os méritos.

O orgulho de si mesmo é claramente nosso padrão e funciona em nós como um vício pecaminoso. Quando Cristo advertiu os fariseus sobre o orgulho hipócrita, Ele os descreveu como aqueles “que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros” (Lc 18:9). No entanto, quando refletimos a sério sobre o peso de nosso pecado e miséria, o orgulho egoísta com rapidez se esvazia. Considere Paulo, que, em vez de vangloriar-se de todas as suas próprias realizações e méritos, começou a escrever como “o principal” dos pecadores (1 Tm 1:15). Além disso, quando realmente entendemos as boas novas de Jesus Cristo, o orgulho egoísta e a jactância não são aceitos em nosso coração. Como declarou Horatius Bonar: “Amo, porque Ele me ama, vivo, porque Ele vive.” Como aqueles que devem as próprias vidas à graça e misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, devemos resistir à tentação de sermos orgulhosos de nós mesmos.

Da mesma forma, também devemos estar alertas contra a humildade que está enraizada em nós mesmos e não em Deus. A compreensão principal da humildade nas Escrituras nos diz que é uma virtude, como veremos em breve. Porém, quando a humildade é baseada em nós mesmos, cai na mesma armadilha do orgulho egoísta. Se a humildade se torna centrada no eu, então encontramos uma virtude rapidamente transformada em vício.

O vício da humildade egocêntrica aparece de várias maneiras. Aversão a si mesmo, covardia e falsa humildade podem ocorrer em nome da humildade. Considere um exemplo. Se um cristão forte for solicitado a servir como presbítero ou diácono em sua igreja, ele pode responder: “Com toda a humildade, não estou apto para servir.” No entanto, o homem pode não ter nenhuma razão bíblica para essa resposta humilde e pode estar simplesmente confundindo a aversão a si mesmo com humildade. Devemos estar alertas contra odiar a nós mesmos em nome da humildade.

Um vício de humildade também pode ser visto na covardia que leva ao silêncio, mesmo quando deveríamos falar. Podemos dizer a nós mesmos que, por nunca abrirmos a boca quando nos deparamos com o mal, estamos sendo pacificadores ou amando o próximo ou dependendo de Deus. Porém, esse silêncio pode rapidamente transformar a virtude da humildade em um vício de covardia. Então, quando um membro da família zomba do cristianismo ou quando um velho amigo do colégio diz que todas as religiões são iguais, muitas vezes ficamos calados em nome da humildade quando na verdade somos motivados pela covardia.

Também devemos estar alertas contra a humildade fingida, que é ainda pior do que o orgulho. O vício do orgulho é pelo menos honesto em seu erro. Contudo, a humildade fingida é o orgulho disfarçado. Por exemplo, um pastor conhecido pode afirmar: “Nunca pensei que poderia escrever cinco livros no período de um ano, mas sou grato por minha família ter me apoiado nessa difícil tarefa.” À primeira vista, essa afirmação pode parecer humilde, mas, na realidade, pode ser menos para mostrar gratidão e mais para promover a realização e buscar aclamação.

Como aqueles que estão vivos em Cristo, devemos nos livrar do vício da humildade que se disfarça de aversão a si mesmo, covardia ou arrogância. Devemos fugir desse vício e confiar no Senhor. Só então podemos voltar a refletir sobre o orgulho e a humildade como virtudes.

O ORGULHO E A HUMILDADE COMO VIRTUDES

Assim como olhar para o eu transforma tanto o orgulho quanto a humildade em vícios, desviar o olhar do eu para Cristo transforma esses atributos em virtudes. Quando olhamos para o Senhor, tanto o orgulho quanto a humildade podem se tornar verdadeiras virtudes.

Nas Escrituras, vemos exemplos apropriados de orgulho como uma virtude. Por exemplo, Paulo escreveu: “Tenho, pois, motivo de gloriar-me em Cristo Jesus nas coisas concernentes a Deus” (Rm 15:17). Observe que este exemplo de orgulho está fundamentado em Cristo e tem como motivo servir a Deus. Portanto, nós como cristãos somos chamados a estar orgulhosos de tudo o que o Senhor nos deu. Devemos nos regozijar em Sua soberania e salvação.

Em primeiro lugar, ao considerarmos a soberania de Deus, ela nunca deve nos levar a ficar orgulhosos de nós mesmos e de nossas realizações. Em vez disso, devemos nos orgulhar de nosso Senhor, o Provedor. Como cristãos, podemos legitimamente ter orgulho quando concluímos um curso ou em uma discussão com amigos em que defendemos a fé ou no momento em que nossa filha se casa com um cristão. No entanto, esse sentimento de orgulho não deve estar em nossa própria sabedoria, nossa própria inteligência ou nosso próprio conselho de casamento. Nosso orgulho deve ser encontrado sempre e apenas no Senhor. Paulo citou Jeremias quando proclamou: “Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (1 Co 1:31). A Palavra soberana de Deus nos dirige e guia, e Sua vontade soberana provê tudo o que ocorre em nossas vidas. Portanto, vamos nos orgulhar de nosso Senhor.

Em segundo lugar, podemos nos gloriar do dom da salvação que recebemos. Como nos é dito em Hebreus 3:6: “Cristo, porém, como Filho, em sua casa”. Pertencemos à Sua casa se, de fato, nos mantivermos firmes em nossa confiança e na esperança da qual nos orgulhamos. Nos sentirmos orgulhosos de nosso Salvador é bom. Devemos estar orgulhosos da nova identidade que temos como profetas, sacerdotes e reis; do fato que aqueles que pertencem ao Senhor Jesus Cristo nunca perderão definitivamente da salvação; de proclamar a verdade da salvação somente em Cristo. Nenhum desses exemplos de orgulho envolve olhar para nós mesmos. Como cristãos, somos chamados a nos gloriar em nosso Salvador, Jesus Cristo. E assim como o orgulho virtuoso olha para o Senhor, também uma humildade virtuosa deve olhar para o Senhor.

Sempre que reconhecemos a grandeza de nosso Deus, somos conduzidos à verdadeira humildade. A culpa de nosso pecado e a graça que nosso Senhor concedeu levam a uma humildade virtuosa. Quando reconhecemos o peso do nosso pecado, cresce o fruto da humildade. Viemos da linhagem caída de Adão e continuamos a lutar contra o pecado deste lado da glória. Que verdade humilhante. Não devemos tomar isso como um chamado para retornar à auto-aversão da falsa humildade. Em vez disso, devemos perceber que estamos unidos como uma comunhão de pecadores que são santos. Nenhum cristão verdadeiro é de maior ou menor valor do que outro. A humildade é o atributo comum que compartilhamos com Moisés, Paulo e o próprio Cristo (Nm 12:3; 2 Co 10:1). É por isso que Pedro nos exorta a “no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade” (1 Pe 5:5). Como pecadores salvos pela graça, todos recebemos esse chamado para nos revestirmos da humildade. Como declarou Isaac Watts: “Bem-aventuradas as almas humildes que veem seu vazio e pobreza; tesouros de graça a eles são dados e coroas de alegria colocadas no céu.” Somos chamados, como aqueles que estão vivos em Cristo, a andar em humildade.

CONCLUSÃO
Vamos ouvir o chamado para parar de ser orgulhosos e humildes de maneira egocêntrica e começar a nos gloriar humildemente de maneira piedosa. Devemos estar atentos ao vício à medida que crescemos na virtude. Uma das melhores maneiras de adiar esses vícios e nos revestir dessas virtudes é com a oração. Quando falamos com nosso soberano Senhor, recebemos uma verdadeira perspectiva de nós mesmos. Devemos vir como humildes penitentes. Nosso orgulho está fundamentado em nosso Pai soberano, que nos ouvirá por amor de Seu Filho. A oração nos humilha como pecadores, e a oração nos dá confiança ao nos aproximarmos do trono da graça. Portanto, continuemos a ir ao nosso Pai celestial, pelo poder do Espírito Santo, por amor de Cristo, com orgulho no Deus trino e com humildade, pois Ele nos chama de Seu povo. 
Quando refletimos a sério sobre o peso de nosso pecado e miséria, o orgulho egoísta com rapidez se esvazia.

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.

Robert M. Godfrey
Robert M. Godfrey
El Dr. Robert M. Godfrey es pastor de Zeltenreich Reformed Church en New Holland, PA.