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novembro 16, 2023Os cristãos também precisam do evangelho
Nota do Editor: Este é o décimo quarto de 16 capítulos da série da revista Tabletalk: Atributos de Deus mal compreendidos.
Cerca de vinte anos atrás, participei de uma conferência em Iowa junto com Jerry Bridges. Em uma das sessões, fiquei na parte de trás e o ouvi explicar por que os cristãos também precisam do evangelho. Esta foi uma descoberta recente, ele confessou. Nas edições subsequentes de seu livro A disciplina da graça, ele acrescentou essa compreensão. Devo confessar que tenho pensado nisso muitas vezes desde então.
Em um nível, a afirmação parece óbvia. É claro que os cristãos precisam do evangelho todos os dias. Como poderia ser diferente? Quando Paulo escreve para a igreja em Roma, começa declarando: “Por isso, quanto está em mim, estou pronto a anunciar o evangelho também a vós outros, em Roma” (Rm 1:15). A carta é dirigida a cristãos professos em Roma que, segundo Paulo, precisam ouvir o evangelho “outra vez”. Ele conclui a carta com estas palavras: “Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo” (16:25). O evangelho “fortalece” os cristãos. Da mesma forma, ele escreve à atribulada igreja de Corinto: “Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais” (1 Co 15:1). Os cristãos coríntios precisavam ser lembrados do evangelho. De maneira semelhante, Paulo afirma que os gálatas corriam o risco de se voltar “para outro evangelho” diferente (que não era o evangelho) e, ao fazer isso, estavam distorcendo o evangelho (Gl 1:6-7). Evidentemente, os gálatas precisavam de mais do que um simples lembrete do conteúdo do verdadeiro evangelho. Começaram dee forma ativa a transformar o evangelho em outra mensagem.
Existem várias razões pelas quais os cristãos precisam do evangelho. Descreveremos aqui quatro delas.
Em primeiro lugar, os cristãos precisam do evangelho para curar uma consciência condenatória. Às vezes, uma má consciência pode ser resultado de um espírito excessivamente sensível. A menor transgressão pode enviar alguns para um lugar de escuridão e desespero. O apóstolo João aborda a questão em sua primeira epístola: “E nisto conheceremos que somos da verdade, bem como, perante ele, tranquilizaremos o nosso coração; pois, se o nosso coração nos acusar, certamente, Deus é maior do que o nosso coração e conhece todas as coisas” (1 Jo 3:19-20). É muito possível que nossas consciências atrapalhem a segurança. Nossos corações nos condenam quando o evangelho nos perdoa. João fornece o remédio: uma aplicação do remédio do evangelho que é maior do que nossos corações. Uma consciência condenatória (antes ou depois de nosso nascimento espiritual) deve olhar para Cristo e receber seu perdão. Nas palavras de Joseph Hart, “não deixes que a consciência te faça demorar” (do hino “Come Ye Sinners, Poor and Needy”).
Em segundo lugar, os cristãos precisam do evangelho para evitar a sempre presente ameaça do legalismo. Em resumo, o legalismo surge de três maneiras: quando obedecemos, por uma questão de consciência, leis que não estão expressamente estabelecidas nas Escrituras, quando obedecemos a leis por uma questão de consciência que pertencem à antiga aliança, mas não à nova, e quando a obediência à lei de Deus é vista como um meio de nossa “justificação”. Por exemplo, quando os cristãos gentios da Galácia estavam sendo enganados pela alegação de que a circuncisão era “necessária”, Paulo não perde tempo em exclamar:
Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado? Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne? Terá sido em vão que tantas coisas sofrestes? Se, na verdade, foram em vão (Gl 3:1-4).
A obediência à lei de Deus como caminho para a santidade é necessária. Mas se essa obediência for motivada por outra inclinação senão gratidão por nossa salvação, é o espírito do legalismo. Tal espírito diz que somos salvos por Jesus Cristo “mais a evidência de nossa santidade”.
Em terceiro lugar, os cristãos precisam do evangelho para desinflar o flagelo do orgulho. Agostinho sugeriu que o orgulho é a própria essência do pecado. J.I. Packer escreveu:
A humildade é o produto do arrependimento contínuo quando alguém decide se opor, abandonar e evitar o orgulho em todas as suas formas, em vigilância e oração. E como a batalha contra o orgulho no coração dura toda a vida, a humildade deve se tornar uma atitude cada vez mais profunda de viver à disposição de Deus e dos outros, uma atitude que os cristãos veteranos devem exibir cada vez mais. O verdadeiro crescimento espiritual é sempre um crescimento descendente, por assim dizer, para uma humildade mais profunda, que em almas saudáveis se tornará cada vez mais aparente à medida que envelhecem.
O evangelho é um lembrete de por que precisamos ser salvo: nossos pecados passados, presentes e futuros. Lembrar aos cristãos que são, como afirmou Martinho Lutero, simul justus et peccator (ao mesmo tempo justificados e pecadores) tornará o evangelho ainda mais doce diariamente.
Em quarto lugar, os cristãos precisam do evangelho para possibilitar uma vida cheia de alegria. Paulo ordenou aos filipenses: “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos” (Fp 4:4). A alegria é um fruto do Espírito (Gl 5:22) e parece ser uma ideia central em Filipenses. Enquanto estava em uma cela de prisão, o apóstolo Paulo recusou-se a permitir que as circunstâncias ditassem a direção de sua alma. O anjo disse aos pastores o significado da encarnação de Jesus: “Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo” (Lc 2:10). A alegria que o evangelho proporciona todos os dias é incomparável.
Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.