O pedobatismo - Ministério Ligonier
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O pedobatismo

Como ministro presbiteriano, me perguntam frequentemente porque eu creio no batismo de infantes. O grande número de perguntas que recebo me diz que há muito mal-entendido a respeito dessa doutrina. Parte da razão para esse mal-entendido é que muitos membros de igrejas pedobatistas não têm sido capazes de dar uma boa justificativa bíblica para o que eles crêem. Isso pode ser porque igrejas pedobatistas não estão preparando adequadamente seus membros para isso, ou pode simplesmente ser porque batismo não é uma doutrina significativa para pedobatistas precisamente da mesma forma que é para muitos outros. Nossos irmãos e irmãs batistas, por exemplo, se distinguem da maioria das outras tradições cristãs pela sua posição sobre batismo, o que significa que seu membro comum da igreja muitas vezes recebe um ensino mais completo sobre essa doutrina do que os nossos membros.

Outra parte da razão porque as pessoas entendem mal o pedobatismo é que elas entendem mal a teologia de pacto que está por detrás dele. Recentemente dei uma aula de seminário sobre o batismo na qual pedi aos meus alunos que lessem um artigo escrito por um irmão batista sobre o porque dele crer que pedobatismo não é bíblico. O que mais me surpreendeu a respeito do artigo deste irmão foi quão frequentemente ele entendeu mal a teologia do pacto e suas implicações para o batismo. Antes de podermos seguir juntos adiante nessa doutrina, precisamos corrigir esses tipos de mal-entendidos com a maior clareza e graça possível. E é nesse espírito que eu ofereço o restante deste artigo.

Tendo reconhecido isso, a primeira coisa que eu diria é que a posição pedobatista aceita virtualmente tudo que a posição credobatista afirma sobre os destinatários do batismo. Afirmamos de todo coração que o batismo é corretamente administrado a adultos (nunca antes batizados) quando eles professam fé em Cristo. O termo “pedobatista” é portanto um nome não muito apropriado. Nós não apenas batizamos crianças pequenas; nós batizamos ambos crentes professantes e seus filhos, e, nesse sentido, somos tanto credobatistas como pedobatistas. O que nos distingue de nossos irmãos e irmãs credobatistas é a palavra “apenas”. Credobatistas batizam crentes professantes “apenas”, visto que batizamos crentes professantes e seus filhos.

Eu menciono isso para indicar que requer mais do que simplesmente apontar para os exemplos de crentes professantes serem batizados no Novo Testamento para provar a posição credobatista. Pedobatistas reconhecem o batismo de crentes professantes também. Nossos irmãos e irmãs credobatistas têm de demonstrar que a Bíblia ensina que crentes professantes, e ninguém mais, devem ser batizados.

A segunda coisa que eu diria é que Gênesis 17 explicitamente afirma que Deus ordenou o sinal exterior de Sua aliança (circuncisão) para ser aplicado aos seus filhos ainda bebês aos oito dias de idade. Dado esse fato, precisamos apenas mostrar que a aliança Abraâmica é substancialmente a mesma que a nova aliança e que a teologia da circuncisão espelha a teologia do batismo de forma que valida que filhos de crentes recebam o sinal da aliança dentro da nova aliança como eles obviamente recebiam dentro da aliança Abraâmica.

Romanos 2:28-29 e 4:11, juntos a Deuteronômio 30:6 e Jeremias 9:25-26 (dentre outros), indicam que a circuncisão nunca foi pretendida por Deus como um distintivo de identidade étnica, mas foi pretendido como um sinal exterior que aponte para uma realidade espiritual interior (a circuncisão do coração). Isso apontava para o que já havia acontecido interiormente — como no caso de Abraão, que creu e então foi circuncidado— ou para o que era esperado acontecer no futuro, como no caso da maioria dos Judeus que foram circuncidados aos oito anos de idade e então eram esperados que seguissem os passos da fé de Abraão quando fossem mais velhos (Rm. 4:12). Colossenses 2:11-12 faz a conexão teológica entre circuncisão e batismo explicitamente ao aplicar tanto a circuncisão espiritual (do coração) como o batismo espiritual (do Espírito Santo) ao cristão. Se a circuncisão interior e o batismo interior estão ligados, então certamente seus sinais exteriores — isso é, circuncisão física e batismo pela água — estão também.

Gálatas 3:16 e Romanos 4:11-12, ademais, nos ensinam que a aliança Abraâmica é essencialmente a mesma que a nova aliança. Gálatas 3:16 afirma que Cristo é a descendência de Abraão, o que significa que apenas aqueles que estão “em Cristo” são filhos de Abraão, quer seja no Antigo Testamento ou no Novo (ver Gl. 3:7, 14, 29). Romanos 4:11–12 confirma isso quando diz que Abraão é o pai de todo (incircunciso) gentio que crê e pai de todo Judeu circunciso que “andam nas pisadas da fé que teve Abraão, nosso pai, antes de ser circuncidado.” Essa fé, como João 8:56 nos diz, é a fé que olha para Cristo. É uma fé que olha para o céu e para as realidades e bênçãos espirituais ao invés de para uma terra prometida mundana e realidades e bênçãos temporais (Hb. 11:10, 16).

A aliança abraâmica, portanto, não era uma aliança física ou temporal promulgada com os descendentes biológicos de Abraão. Foi uma aliança espiritual promulgada com os descendentes espirituais de Abraão. Era uma aliança substancialmente igual à nova aliança. Cristo, a semente de Abraão, assegura que é esse o caso. Circuncisão, ademais, não era um sinal de identidade étnico, mas um sinal que chamava os descendentes biológicos de Abraão a se tornarem seus descendentes espirituais por seguirem ele na mesma fé que ele tinha.

Dadas essas realidades, não deveria ser surpresa que o Novo Testamento fala de batismos de “uma casa.” A continuidade entre essas alianças — e entre os sinais de aliança — indicam que isso é exatamente o que nós deveríamos esperar. Desde Gênesis 17, o povo de Deus praticava circuncisão de “uma casa”, aplicando o sinal exterior da aliança interior de Deus a crentes professantes adultos (que nunca haviam recebido antes) e a seus filhos. De fato, nós esperaríamos encontrar alguma menção no Novo Testamento se, após milhares de anos incluindo filhos na comunidade da aliança como destinatários do sinal da aliança, as coisas devessem ser tão radicalmente diferentes na era da nova aliança. Devemos realmente crer que os filhos agora são removidos da comunidade da aliança e que a antiga aliança é, por esta razão, maior e mais inclusiva que a nova? Qual é a base para dizer isso? Vai contra o princípio da expansão que vemos em ação em todos os outros lugares quando vamos do Antigo para o Novo Testamento. Não apenas o pedobatismo é consistente com a continuidade que vemos entre as alianças e entre os sinais de aliança, mas é também consistente com esse princípio de expansão, pois aplica o sinal da aliança tanto a homens quanto a mulheres e a seus filhos e filhas.

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.
Guy M. Richard
Guy M. Richard
El Dr. Richard es director ejecutivo y profesor asistente de teología sistemática en el Reformed Theological Seminary en Atlanta.