Sofrimento e a Glória de Deus - Ministério Ligonier
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Sofrimento e a Glória de Deus

Nota do editor: Este é o segundo de 8 capítulos da série União com Cristo da Revista Tabletalk.

Certa vez visitei uma mulher que estava morrendo de câncer uterino. Ela estava muito angustiada, mas não apenas por causa de sua doença física. Ela me explicou que havia feito um aborto quando moça e estava convencida de que sua doença era uma direta consequência daquilo. Resumindo, ela acreditou que o câncer era o juízo de Deus sobre ela.

A resposta pastoral comum a uma pergunta tão agonizante de alguém em seu leito de morte é dizer que a aflição não é um juízo de Deus pelo pecado. Mas tive que ser honesto, então disse a ela que eu não sabia. Talvez fosse um juízo de Deus, mas talvez não fosse. Não posso sondar o conselho secreto de Deus ou ler a mão invisível de Sua providência, então não sabia por que ela estava sofrendo. No entanto, eu sabia que qualquer que fosse a razão para aquilo, havia uma resposta para a culpa dela. Conversamos sobre a misericórdia de Cristo e da cruz e ela morreu na fé.

A pergunta que aquela mulher fez é realizada todos os dias por pessoas que estão sofrendo aflições. Ela é abordada em uma das passagens mais difíceis do Novo Testamento. Em João 9, lemos: “Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (vv. 1-3).

Por que os discípulos de Jesus supuseram que a causa raiz da cegueira daquele homem era seu pecado ou o pecado de seus pais? Certamente tinham alguma base para essa hipótese, pois as Escrituras, do relato da queda em diante, deixam claro que a razão pela qual o sofrimento, a doença e a morte existem neste mundo é o pecado. Os discípulos estavam corretos de que de alguma maneira o pecado estava envolvido na aflição daquele homem. Também, há exemplos na Bíblia de Deus causando aflição por causa de pecados específicos. No antigo Israel, Deus afligiu a irmã de Moisés, Miriã, com lepra porque ela questionou o papel de Moisés como porta-voz de Deus (Nm 12:1-10). Igualmente, Deus tomou a vida do filho nascido a Bate-Seba como resultado do pecado de Davi (2 Sm 12:14-18). A criança foi punida, não por causa de algo que ela fez, mas como resultado direto do juízo de Deus sobre Davi.

Contudo, os discípulos cometeram o erro de particularizar a relação geral entre o pecado e o sofrimento. Assumiram que havia uma correspondência direta entre o pecado do homem cego e sua aflição. Não leram o livro de Jó, que trata de um homem que era inocente, e ainda assim foi severamente afligido por Deus? Os discípulos erraram em reduzir as opções a duas quando havia outra alternativa. Eles fizeram sua pergunta a Jesus de uma maneira “ou isso, ou aquilo”, cometendo a falácia lógica do falso dilema, assumindo que o pecado do homem ou o pecado dos pais do homem eram a causa de sua cegueira.

Os discípulos também parecem ter assumido que qualquer pessoa que tenha uma aflição sofre em direta proporção ao pecado que foi cometido. Novamente, o livro de Jó contraria essa conclusão, pois o grau de sofrimento que Jó foi chamado a suportar era astronômico comparado com o sofrimento e aflições de outros muito mais culpados do que ele.

Nunca devemos chegar à conclusão de que uma incidência específica de sofrimento é uma resposta direta ou está em direta correspondência ao pecado específico de uma pessoa. A história do homem cego de nascença deixa isso claro.

Nosso Senhor respondeu à pergunta dos discípulos corrigindo sua falsa suposição de que a cegueira do homem era uma direta consequência do pecado dele mesmo ou de seus pais. Ele assegurou-lhes que o homem era cego de nascença não porque Deus estava punindo ao homem ou a seus pais. Havia outra razão. E por haver outra razão neste caso, pode sempre haver outra razão para as aflições que Deus nos chama a suportar.

Jesus respondeu a Seus discípulos dizendo: “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (v. 3). O que Ele quis dizer? Simplificando, Jesus disse que o homem nasceu cego para que Jesus pudesse curá-lo no tempo determinado, como testemunho do poder e da divindade de Jesus. Nosso Senhor demonstrou Sua identidade como o Salvador e o Filho de Deus nessa cura.

Quando sofremos, devemos confiar que Deus sabe o que está fazendo, e que Ele trabalha através da dor e aflições de Seu povo para Sua própria glória e a santificação de Seu povo. É difícil suportar um sofrimento prolongado, mas a dificuldade é grandemente aliviada quando ouvimos nosso Senhor explicando o mistério no caso do homem cego de nascença, a quem Deus chamou a muitos anos de dor para a glória de Jesus.

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Megazine.

R.C. Sproul
R.C. Sproul
Dr. R.C. Sproul foi o fundador do Ministério Ligonier, primeiro ministro de pregação e ensino na capela de Saint Andrew em Sanford, Flórida, e primeiro presidente do Reformation Bible College. Ele foi autor de mais de cem livros, incluindo A Santidade de Deus.