%%primary_category%%: A vida à luz da cruz | Ministério Ligonier
Redenção aplicada
abril 6, 2022
Seja paciente conosco enquanto aprendemos
abril 8, 2022
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A vida à luz da cruz

Assim como muitos reformados, louvo a Deus por Sua maravilhosa graça, não somente por minha salvação, mas por mais tarde ter me levado a conhecer as doutrinas da graça. Me lembro vividamente quando finalmente entendi como as Escrituras ensinam sobre a soberania de Deus em todas as coisas: o fato de ter nascido de novo anos atrás, não por minha própria decisão (Jo. 1:13), mas pela vontade de um Deus que me ama (Ef. 2:4); que me justifica pela graça somente, através da fé somente e em Cristo somente (Ef. 2:8); que opera em todas as coisas conforme o conselho da Sua vontade (Ef. 1:11); que minha vida e meu futuro estão seguros em Suas mãos (Jo. 10:28). Até aprendi a cantar com alegria: “Imenso amor! Como explicar meu Rei morrendo em meu lugar?”. Ainda assim, por muitos anos permiti que minha recém-descoberta fé reformada e até mesmo a cruz de Cristo, alimentassem um orgulho espiritual imprudente e pecaminoso. Ao invés de ser humilde e crescer em amor aos outros no corpo de Cristo, me gloriei na minha superioridade teológica. Levaria muitos anos da obra de santificação do Espírito Santo para que pudesse ver o que ainda restava em mim de corrupção e fragilidade, e para que o imenso amor do meu Salvador crucificado superabundasse na minha vida e alcançasse os quebrantados, fracos e feridos ao meu redor.

As Escrituras claramente confirmam o que sabemos ser verdade pela revelação geral: que a vida deste lado da glória é marcada por fragilidade. Os cardos, abrolhos e o suor da maldição (Gn. 3) afetam a todos. Até mesmo depois de termos sido justificados pela graça de Deus somente, através da fé somente (Rm. 3:24-25) e até mesmo depois de termos sido salvos pelo poder da palavra da cruz (1 Co 1:18), gememos interiormente neste corpo frágil, aguardando a redenção de nossos corpos (Rm. 8:23). Enquanto aguardamos, precisamos estar equipados para servir e proclamar o evangelho em um mundo caído, como parte de um corpo unificado em nosso Senhor Jesus Cristo (Ef. 4:12), que prometeu ser “luz para os gentios, para abrires os olhos aos cegos, para tirares da prisão o cativo e do cárcere, os que jazem em trevas” (Is. 42:6-7).

Infelizmente, são os nossos próprios olhos que muitas vezes precisam ser abertos para contemplar o que está ao nosso redor e para a obra que Deus nos chama a fazer. Em vez de nos gloriarmos em nosso conhecimento teológico superior, somos encorajados pelo Espírito de Deus a “[consolar] os desanimados, [amparar] os fracos e [ser] longânimos para com todos” (1 Ts. 5:14). De fato, não somos nós, que vivemos à luz da cruz, o meio pelo qual Ele alcança os fracos? As nossas ordens de marcha são claras: “Porque ele acode ao necessitado que clama e também ao aflito e ao desvalido. Ele tem piedade do fraco e do necessitado e salva a alma aos indigentes” (Sl. 72:12-13) e “Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos” (1 Co. 9:22).

O ponto de inflexão na minha vida veio depois que comecei a trabalhar no meio dos “fracos e necessitados” na prisão do nosso condado como capelão em meio período. Enquanto por muitos anos eu era muito parecido com os cristãos de Éfeso descritos em Apocalipse 2, que rapidamente identificavam heresias mas não tinham amor, servir na prisão do condado abriu os meus olhos para ver os meios práticos que a obra consumada de Cristo e Seu poderoso Espírito estão operando nos mais quebrantados, fracos, dispersos e feridos.

Há um dia específico que se destaca na minha memória, quando me encontrei com um jovem da América Central que tinha acabado de ser preso sob uma acusação gravíssima, uma acusação que poderia afastar pessoas “respeitáveis”, uma acusação séria o suficiente para o colocar sob vigilância para evitar que se suicidasse. Levei até ele uma Bíblia em espanhol, abri na parábola do fariseu e o publicano (Lc. 18:9-14), e o encorajei a ler em voz alta. Com a Bíblia apoiada nas barras da porta de sua cela, observei que as lágrimas escorriam de seu rosto e encharcavam as páginas do Evangelho de Lucas. Assim como o publicano, ele então clamou com o coração dilacerado: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador!”. Foi um momento sagrado, uma obra poderosa do Espírito de Deus, pois um jovem voltou justificado, aquela noite, para a sua beliche, e eu voltei para casa radicalmente comovido. Percebi novamente que diante da cruz eu e aquele jovem fazemos parte do mesmo corpo espiritual: pecadores fracos e feridos, sem esperança e necessitados da graça. Mas agora, em Cristo Jesus, nós dois “que antes [estávamos] longe, [fomos] aproximados pelo sangue de Cristo” (Ef. 2:13).

Na semana passada, um outro novo convertido, que também estava preso, avisou que precisava me “confessar algo”. Meu primeiro pensamento foi que ele ainda tinha alguns resquícios do catolicismo romano, mas quando finalmente nos encontramos, ele humildemente admitiu que não tinha sido totalmente honesto em um assunto específico, e que ele não conseguiria dormir enquanto não me pedisse perdão, e até se questionava se realmente era um cristão. Tamanha alegria preencheu o meu coração ao ver a obra de Cristo e o poder do Espírito Santo evidentes neste novo cristão. Eu abri a Bíblia para o assegurar a partir do livro de Romanos, que a sua luta era fruto da sua justificação. Ele agora estava vivendo uma nova vida e essa batalha em seu coração era uma parte normal da vida cristã (Rm. 6 — 7). Eu mostrei a ele que isso fazia parte da obra interna do Espírito Santo (Rm. 8), levando-o a confessar seus pecados. Eu o assegurei de que eu o havia perdoado, e que ele deveria ser encorajado na segurança de sua salvação pelo sangue derramado de Cristo (Rm. 3:24-25), a promessa do evangelho (Rm. 10:13) e na obra do Espírito Santo, que o estava convencendo poderosamente naquele exato momento.

À luz da cruz e do amor de Cristo por mim, muitas vezes eu experimento convicção na admoestação aos pastores de Israel:

“A fraca não fortalecestes, a doente não curastes, a quebrada não ligastes, a desgarrada não tornastes a trazer e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza” (Ez. 34:4).

A compaixão pelo fraco, pelo disperso e pelo necessitado é uma característica comum das nossas igrejas reformadas? Oro para que isso esteja presente na nossa igreja e regularmente oro assim por mim mesmo: “Senhor, abra os meus olhos e enternece o meu coração para cada alma que o Senhor colocar em meu caminho, não importa quem sejam, o que fizeram ou quão fracos possam ser.” Isso é parte do que significa viver à luz da cruz.

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.

Eric Hausler
Eric Hausler
O Rev. Eric Hausler é pastor da Christ the King Presbyterian Church em Naples, Flórida.