As razões dos conflitos na igreja - Ministério Ligonier
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As razões dos conflitos na igreja

Nota do editor: Este é o segundo de 15 capítulos da série da revista Tabletalk: Conflito na igreja.

Os cristãos valorizam a paz que Cristo dá. Relacionamentos sem Deus são cruéis e difíceis, porém o evangelho promete algo melhor. Se você conhece a paz com Deus e com os irmãos, a ideia de “conflito na igreja” é alarmante. A “experiência” do conflito pode ser tão devastadora que alguns abandonam a igreja e têm dúvidas sobre o poder do evangelho. Portanto, uma compreensão prática das causas e soluções do conflito na igreja é importante para um cristão. O Espírito Santo nos dá esse entendimento em Tiago 1:1-6.

Aparentemente, o conflito na igreja levou o apóstolo Tiago a fazer uma pergunta sobre a causa do conflito: “De onde procedem guerras e contendas que há entre vós?” (Tg 4:1). O que alimenta a guerra civil em uma sociedade planejada por nosso Senhor para demonstrar amor (Jo 13:35)? A pergunta do apóstolo (e sua resposta) fornece quatro lições simples que nos preparam para lidar com conflitos na igreja.

Em primeiro lugar, o fato de Tiago ter feito essa pergunta significa que você não deveria se surpreender com divergências em sua igreja. Desde o início, o conflito tem sido uma realidade na vida da igreja. Há exemplos mais tristes no Novo Testamento: Paulo e Barnabé se desentenderam, assim como Pedro e Paulo. Em Filipos, Evódia e Síntique não podiam “concordar no Senhor”. A igreja em Corinto parecia discutir sobre quase tudo. A guerra de Satanás tem como objetivo principal destruir a igreja de Cristo, e você não deve se surpreender com tal conflito ou sofrimento incluído (1 Pe 4:12-13).

Em segundo lugar, o contexto da pergunta — precedido por “é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz” (Tg 3:18) e seguido por uma repreensão ao conflito — nos lembra que o conflito é contrário ao propósito e testemunho da igreja. A unidade é uma marca da igreja de Cristo, de modo que o conflito vai contra os propósitos unificadores de Deus:

No qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência, desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra (Ef 1:7-10).

Jesus orou por essa unidade pouco antes da cruz:

Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim ( Jo 17:20-23).

Em terceiro lugar, o apóstolo identifica a fonte do conflito como “prazeres que militam na vossa carne” (Tg 4:1b). Isso se refere à realidade do pecado interior: o verdadeiro cristão ainda tem poderosos desejos egoístas de busca de prazer. Tiago descreve isso em termos gráficos: “Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres” (vv. 2–3).

Isso é profundamente humilhante: o conflito “traz à tona” os desejos pecaminosos existentes e as formas mundanas de pensar e agir.  Tiago adverte que isso corrompe suas orações (“pedis e não recebeis, porque pedis mal”) e muda seus objetivos da glória de Deus e do bem do próximo para o prazer e influência mundanos (“a amizade do mundo”). Essas paixões alimentam o fogo do conflito e colocam você em oposição ao próprio Deus, pois “a amizade do mundo é inimiga de Deus”. Esses são atos de traição à aliança. Tiago chama isso de adultério espiritual: “Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (v. 4).

O fato de que a origem do conflito está em nossos desejos pecaminosos e pensamentos mundanos nos aponta para uma solução. O caminho para a paz começa com perguntas difíceis para nós mesmos: “Por que minhas paixões são tão acaloradas? Estou acompanhando a direção do Espírito ou sou obstinado? Estou orando para que Deus me mostre a trave que está em meu próprio olho antes que eu veja o argueiro no olho de meu irmão (Mt 7:3)? Estou disposto a cobrir os pecados com amor?”. Devemos avaliar nosso próprio papel e resposta à desunião: considere “seu coração” (Mc 7:20-23). Ore para que Deus use o conflito para revelar o pecado e purificar Sua igreja.

Há uma última lição: o conflito na igreja é uma ocasião para renovar nossa dependência da graça de Deus. Esse conflito particular na igreja primitiva foi a ocasião para o Espírito Santo ampliar a compreensão da graça da igreja. Tiago conclui com esta simples declaração: “Ele dá maior graça” (Tg 4:6).

Talvez você tenha pensado na graça como uma investidura única, algo de que você precisava no início de sua vida cristã. Mas a graça é mais: é o poder duradouro de Deus que trouxe você à vida em Cristo, te mantém nessa vida e te leva para casa. Ele dá mais graça, porque nós cristãos precisamos de mais graça de maneira tão óbvia e desesperada, para ver nossos pecados, confessá-los e viver para Deus. Como diz Tiago: “Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros” (vv. 7–8).

Se respondermos biblicamente aos conflitos na igreja, não ficaremos amargurados ou orgulhosos, mesmo que não pareça bom para nós. Em vez disso, entenderemos que Ele está operando em nossos corações, com a generosa intenção de nos dar mais graça que nos capacite, com o objetivo de nos preparar para promover o bem de Sua igreja. Portanto, confie nEle, até nos dias mais difíceis. Ele pretende “dar maior graça”.



Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.

Peter VanDoodewaard
Peter VanDoodewaard
O Rev. Peter VanDoodewaard é pastor da Covenant Community Church em Greenville, Carolina do Sul (EUA).