
O coração é uma fábrica de ídolos
abril 14, 2025
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abril 18, 2025Como usar seus dons para ajudar a igreja a crescer no amor

Nota do editor: Este é o décimo sétimo de 18 capítulos da série da revista Tabletalk: Provas, tentações e o teste da nossa fé.
Em seu comentário sobre Efésios 4:15-16 , João Calvino expressou:
A verdade de Deus deve ter um domínio tão firme sobre nós, que todos os artifícios e ataques de Satanás não nos desviem do nosso curso; e, ainda assim, como até agora não alcançamos força plena e completa, precisamos progredir até a morte.
As palavras de Calvino são, em especial, encorajadoras à luz de sua exortação prática de que os crentes em Cristo devem se esforçar para “progredir até a morte”. A incitação de Calvino é apenas outra maneira de entender o que o apóstolo Paulo exorta os crentes a fazer: “Cresçamos em tudo naquele que é a cabeça [da igreja], Cristo” (Ef 4:15).
O que Calvino chama de “progredir”, Paulo descreve como “crescer”. Apesar das diferenças na nomenclatura, o que Calvino e Paulo declaram é realizado por meio da santificação. Santificação é o processo pelo qual o Espírito de Deus opera nos crentes e por meio deles para torná-los mais semelhantes a Cristo (Rm 8:29). Como resultado da obra progressiva do Espírito Santo em nossos corações, nossas vidas devem refletir de forma bem consistente o caráter de Cristo que geramos frutos que dão evidências tangíveis tanto para a igreja quanto para o mundo de que somos Seu povo redimido.
Todo verdadeiro crente em Cristo foi dotado de um dom único por Deus para a edificação de Sua igreja (Ef 4:11-13). Paulo chama esse dom de “auxílio” (v. 16). As Escrituras são claras ao afirmar que os crentes em Jesus Cristo, motivados pelo seu amor a Deus, devem aplicar seus dons espirituais em serviço alegre e altruísta uns aos outros (Cl 3:23-24; 1 Pe 4:10). Para esse fim, Paulo se refere à igreja metaforicamente como um “corpo”. Essa é uma metáfora perfeita, pois nos ajuda a entender melhor como cada um de nós, como uma “junta” individual, para usar o termo de Paulo, contribui de forma única para o crescimento, a saúde e a vitalidade da igreja à qual todos os crentes pertencem (1 Co 12:18).
Deus dotou cada crente com certos dons com o propósito de edificar Seu corpo, a igreja (Ef 4:16). Prestamos um grande desserviço ao nosso Salvador quando deixamos de usar os dons que Ele em Sua misericórdia nos concedeu para esse fim. A importância dessa responsabilidade tão pesada é enfatizada por John Owen, que descreveu tais presentes como:
Aquilo sem o qual a igreja não pode subsistir no mundo, nem os crentes podem ser úteis uns aos outros e ao resto da humanidade, para a glória de Cristo, como deveriam ser […] Os dons do Espírito dão à igreja sua vida orgânica interior e sua forma visível.
No entanto, empregar nossos dons para servir ao corpo de Cristo aborda apenas um lado da equação eclesiástica: nossas ações. Há também a questão da nossa atitude. Para o bem ou para o mal, cada ação que tomamos vem acompanhada de uma atitude. A realidade da relação entre atitude e ação é aparente na Palavra de Deus em textos como Filipenses 2:14, onde somos ordenados a fazer “tudo [ação] sem murmurações nem contendas [atitude]”, e 1 Pedro 4:9, onde somos instruídos a ser “mutuamente, hospitaleiros [ação] sem murmuração [atitude]”.
Devemos usar com amor nossos dons espirituais na edificação do corpo de Cristo, porém é impossível fazermos isso sem o poder do Espírito de Deus, que nos concede esses dons para começar (Jo 14:16-17). Você e eu não podemos fazer nada sem Cristo (15:5). Essa realidade deve nos manter em uma postura de dependência contrita de Deus, pois somente por meio de Seu Espírito Ele habita em nós, nos prepara e nos capacita a servir Sua igreja de uma maneira que lhe traga glória e honra.
Em termos de crentes usando seus dons para ajudar a igreja a crescer, a questão central é o amor. A menos que nosso serviço à igreja seja motivado pelo amor, um amor que reflita a atitude de sacrifício do coração de nosso Salvador, que, enquanto ainda éramos pecadores não redimidos, voluntariamente se esvaziou por nós (Rm 5:6, 8; Fp 2:5-8), nossos dons, sem importar quão vigorosamente exercidos ou bem intencionados, não trazem nenhum benefício à igreja ou, nesse caso, ao mundo para o qual fomos comissionados por Cristo para sermos luzes que brilham (Mt 5:14-16; 2 Co 5:20).
Charles H. Spurgeon afirmou com sabedoria e sem ambiguidade:
Não somos salvos pelo serviço, mas somos salvos para servir. Quando somos salvos, dali em diante vivemos a serviço do nosso Senhor. Se nos recusarmos a ser Seus servos, não seremos salvos, pois continuamos sendo, evidentemente, servos de nós mesmos e de Satanás.
Cristo chamou cada um de nós para usar os dons que Ele nos deu em serviço sacrificial à Sua igreja. Devemos fazer isso não apenas em nossas ações, mas também em nossas atitudes. Como o apóstolo Paulo declara em 1 Coríntios 13:3: “E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará.”
Este artigo foi publicado originalmente na TableTalk Magazine.