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Coração e mente

CORAÇÃO

Nota do Editor: Este é o décimo sexto de 19 capítulos da série da revista Tabletalk: Palavras e frases bíblicas mal compreendidas.

Quando você ouve pela primeira vez os termos “coração” e “mente”, talvez pense no grande mandamento de amar “o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” (Mt 22:37). Jesus está lembrando a Seus ouvintes que devem amar o Senhor com “todo o seu” ser. Embora às vezes pareça que esses termos são usados de forma intercambiável, podem ser distinguidos um do outro. A alma é frequentemente usada para descrever a totalidade do ser de uma pessoa que continua a existir eternamente (16:26). O restante deste artigo irá desvendar as nuances bíblicas da mente e do coração.

Em poucas palavras, a mente diz respeito aos nossos pensamentos. O coração reflete nossos afetos, o que realmente nos importa. Com relação ao grande mandamento de amar o Senhor de todo o coração e mente, fica claro que estamos muito aquém desse padrão. Na realidade, nem chegamos perto. As Escrituras ensinam que nossos corações e nossas mentes estão corrompidos pelo pecado. Jeremias ensina que “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jr 17:9). Com relação à mente, a Bíblia descreve o impacto “noético” da queda do primeiro casal. “Noético” vem da palavra grega para “mente” (nous). Ao falar sobre o pensamento decaído, Paulo escreve: “Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus” (Rm 8:7).

Entretanto, seria um erro pensar que coração e mente são mutuamente exclusivos ou que operam com independência. As Escrituras identificam o coração, a sede da afeição, como o sistema operacional para o resto. “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4:23). A orientação do coração afeta nosso pensamento e nossas ações. Observe como os dois estão ligados em Gn 6:5: “Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração”. O coração é a fonte de intenções e pensamentos perversos. Paulo liga os dois em Ef 4:18: “Obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração” (grifo nosso). A razão de seu “[obscurecido]… entendimento” e a ignorância é a dureza de seus corações.

Jesus faz a mesma conexão ao desafiar Seus inimigos a serem superficiais e legalistas: “O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração.” (Lc 6:45). A conexão é estendida do coração para nossas palavras e comportamento.

Esta é a razão pela qual você não pode “argumentar” que alguém entre no reino. Sim, o cristianismo é bastante lógico e racional, mas nenhum deles pode ser visto sem um coração transformado. O coração, o sistema operacional de uma pessoa, deve ser transformado. Isso é exatamente o que o Senhor promete em Ez 36:26: “Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne.” É apenas quando recebemos um novo coração que a transformação de nossos pensamentos pode realmente começar.

Tanto a mente quanto o coração estão envolvidos nesse processo de transformação. Quanto à mente, é necessário “conhecer” os fatos do evangelho (notitia). Não basta apenas conhecer os fatos, mas é preciso “afirmar” os fatos do evangelho (assensus). Também é necessário que esta verdade seja recebida e acolhida com carinho (fiducia). Esta adesão final da verdade envolve o coração em uma descrição completa da fé salvadora.

Tudo isso leva a uma nova orientação para toda a vida. A partir deste ponto, somos chamados a fortalecer e fortificar nossos corações para Deus por meio do engajamento de nossas mentes. O Novo Testamento contém uma linguagem notável sobre isso. Em sua carta aos Romanos, Paulo escreve: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12:2). A palavra traduzida como “transformai-vos” é a palavra da qual obtemos nossa palavra “metamorfose”. Quando ouvimos esse termo, muitas vezes pensamos na mudança gradual que ocorre no desenvolvimento de uma borboleta. A semelhança conosco é que há uma transformação gradual da maneira como pensamos. Não devemos mais ficar presos à terra em nossos pensamentos, mas devemos desenvolver uma nova perspectiva que se expanda da horizontal para incluir uma perspectiva vertical piedosa. Paulo expressa da seguinte forma em sua carta aos Colossenses:

Se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus (Cl 3:1-3).

É importante reconhecer que a linha de argumentação de Paulo não tem a intenção de comunicar uma abordagem que é “tão voltada para o céu que não é boa para a terra”. Muito pelo contrário: considerar suas palavras em Romanos nos mostra que a renovação de nossas mentes é projetada para nos ajudar a discernir “qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”, com a implicação de que isso se traduzirá em o modo de vida que revela nosso amor por nosso Criador e Redentor. Embora nosso amor nunca seja perfeito deste lado do céu, Ele deu Seu Espírito e Sua Palavra para alimentar a chama em nossos corações e mentes até que o encontremos.

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.

Timothy Z. Witmer
Timothy Z. Witmer
O Dr. Timothy Z. Witmer serviu como pastor da St. Stephen Reformed Church em New Holland, Pensilvânia, e é professor emérito de Teologia Prática no Westminster Theological Seminary. Ele é autor de Mindscape [Cenário Mental, em tradução livre].