Não é deste mundo
novembro 30, 2023Não em palavra, mas em poder
dezembro 4, 2023Justiça, paz e alegria no Espírito Santo
Nota do Editor: Este é o décimo de 17 capítulos da série da revista Tabletalk: O reino de Deus.
Em todos os escritos de Paulo, ele usa a palavra “reino” apenas quatorze vezes. A maioria dessas referências descreve o reino como uma realidade a ser vivenciada no futuro. Somente em Romanos 14:17 Paulo descreve o reino como uma realidade presente: “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.”
À primeira vista, pode parecer que Paulo está afirmando que o reino de Deus não tem nada a ver com comer e beber. Contudo, neste contexto, Paulo está na verdade dizendo que comer e beber são irrelevantes. Nestas questões triviais, tais como comer carne e beber vinho, o crente mais forte deveria submeter-se ao crente mais fraco, em vez de ostentar a sua liberdade de comer e beber o que quiser.
Ao mesmo tempo, Paulo certamente não está negando a estreita ligação que existe nas Escrituras entre o reino de Deus e o comer e o beber. Paulo entendeu que o reino de Deus em todas as suas fases está intrinsecamente envolvido com comer e beber.
Na verdade, as igrejas domésticas às quais Paulo se dirigia estavam centradas na refeição de comunhão. Esta refeição consistia em mais do que apenas comer e beber. Era um modelo de organização social construído sobre uma constelação de valores partilhados, tais como os mencionados por Paulo em Romanos 17. Comer e beber eram aspectos secundários do que realmente constituía uma refeição no sentido pleno da palavra. A justiça, a paz e a alegria eram consideradas os elementos principais, pois eram os ideais partilhados pelo corpo reunido, simbolizados na refeição de comunhão. A manifestação destes ideais pelo Espírito Santo constitui a presença do reino na igreja doméstica. Assim, a igreja doméstica era um paradigma do reino.
Observe as conotações eucarísticas (ação de graças na Ceia do Senhor) em Romanos 14. Diz-se que tanto aquele que come quanto aquele que se abstém de certos alimentos “para o Senhor faz […] e dá graças (euchariste) a Deus” (veja Rm 14:6). A mesa comum da família era vista como uma extensão da Ceia do Senhor. Portanto, deveríamos ouvir em Paulo um eco da voz de Cristo: “Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio, para que comais e bebais à minha mesa no meu reino” (Lc 22:29-30).
Por último, observe como o reino e o Espírito Santo estão tão intimamente relacionados que são quase intercambiáveis. Em certo sentido, poderíamos dizer que o reino de Deus é o reino do Espírito. A justiça, a paz e a alegria são por si mesmas incapazes de constituir o reino. Apenas o Espírito Santo pode constituir o reino. É o Espírito que torna o reino presente em justiça, paz e alegria.
A partir deste versículo, podemos ver que comer e beber nunca são questões puramente físicas. Mesmo nos nossos dias, uma refeição comum assume a aura de um ritual. É somente pelo Espírito que uma refeição se torna o que sempre deveria ser: uma amostra do reino em justiça, paz e alegria.
Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.