O Credo de Atanásio - Ministério Ligonier
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O Credo de Atanásio

Nota do editor: Este é o primeiro de 6 capítulos da série da revista Tabletalk: O século VII: conflito no Oriente.

Quicumque vult: esta frase é o título atribuído ao que é popularmente conhecido como o Credo de Atanásio. Muitas vezes foi chamado dessa forma porque, durante séculos, as pessoas atribuíram sua autoria a Atanásio, o grande campeão da ortodoxia trinitária durante a crise da heresia do arianismo que eclodiu no século IV. Essa crise teológica se concentrou na natureza de Cristo e culminou no Credo Niceno em 325 d.C. No Concílio de Nicéia daquele ano, o termo homoousios foi a palavra polêmica que por fim foi vinculada à confissão da Igreja sobre a pessoa de Cristo. Com esta palavra, a Igreja declarou que a segunda pessoa da Trindade tem a mesma substância ou essência da primeira, afirmou assim que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são iguais em ser e em eternidade. Embora Atanásio não tenha escrito o Credo Niceno, foi seu principal defensor contra os hereges que seguiram Ario, que argumentavam que Cristo era uma criatura exaltada, mas que Ele era menos que Deus.

Atanásio morreu em 373 d.C., e o epíteto que apareceu em sua lápide agora é famoso, pois capta a essência de sua vida e ministério. Diz simplesmente: “Atanásio contra mundum ”, isto é, “Atanásio contra o mundo”. Este grande líder cristão sofreu vários exílios durante a amarga controvérsia ariana por causa da inabalável profissão de fé que manteve na ortodoxia trinitária.

Embora o nome “Atanásio” tenha sido dado ao credo ao longo dos séculos, os estudiosos modernos estão convencidos de que o Credo de Atanásio foi escrito após a morte de Atanásio. Certamente, a influência teológica de Atanásio está embutida no credo, mas com toda a probabilidade ele não foi o autor. O título atual, Quicumque Vult , segue o costume da Igreja católica romana que é usado para encíclicas e credos. Essas afirmações eclesiásticas recebem seu nome da primeira palavra ou palavras do texto latino. O Credo de Atanásio começa com as palavras quicumque vult, que significa “quem quer” ou “aquele que quiser”, já que esta frase introduz a primeira afirmação do credo. A afirmação é esta: “Quem quer ser salvo deve, acima de tudo, manter a fé católica”. O Credo de Atanásio procura apresentar em versão resumida aquelas doutrinas essenciais para a salvação afirmadas pela Igreja, com referência específica à Trindade.

No que diz respeito à história das origens do Credo de Atanásio, hoje geralmente é pensado que o credo foi escrito pela primeira vez no século V, embora o século VII também seja possível, uma vez que o credo não aparece nos registros de história até 633 no quarto concílio de Toledo. Foi escrito em latim e não em grego. Se foi escrito no século V, vários autores possíveis foram mencionados por causa da influência de seu pensamento, entre eles Ambrósio de Milão e Agostinho de Hipona, mas provavelmente foi o santo francês Vicente de Lérins.

O conteúdo do Credo de Atanásio enfatiza a afirmação da Trindade na qual todos os membros da Divindade são considerados incriados, coeternos e da mesma substância. Na afirmação da Trindade, a dupla natureza de Cristo recebe uma importância central. Como o Credo Atanásio em certo sentido reafirma as doutrinas da Trindade estabelecidas no século IV em Nicéia, da mesma forma as fortes afirmações do concílio do século V em Calcedônia em 451 também são recapituladas nele. Enquanto a Igreja lutava contra a heresia ariana no século IV, o século V trouxe as heresias do monofisismo, que reduziam a pessoa de Cristo a uma natureza, mono physis, uma única natureza teantrópica (Deus-homem) que não era nem puramente divina ou puramente humana. Na heresia monofisista de Eutiques, a pessoa de Cristo era vista como uma pessoa com uma natureza, que não era nem verdadeiramente divina, nem verdadeiramente humana. Nesta visão, as duas naturezas de Cristo foram confundidas ou misturadas. Ao mesmo tempo em que a Igreja lutava contra a heresia monofisista, também lutava contra a visão oposta do nestorianismo, que buscava não tanto confundir e misturar as duas naturezas, mas separá-las, e chegava à conclusão de que Jesus tinha duas naturezas e era portanto, duas pessoas, uma humana e uma divina. Tanto a heresia monofisista quanto a heresia nestoriana foram claramente condenadas no Concílio de Calcedônia em 451, onde a Igreja, ao reafirmar sua ortodoxia trinitária, declarou sua crença de que Cristo, ou a segunda pessoa da Trindade, era vere homo e vere Deus: verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus. Declarava ainda que as duas naturezas em sua perfeita unidade coexistiam de tal maneira que não havia mistura, confusão, separação ou divisão, em que cada natureza retinha seus próprios atributos. Assim, com uma afirmação de credo, tanto a heresia do nestorianismo quanto a heresia do monofisismo foram condenadas.

O Credo de Atanásio reafirma as distinções encontradas em Calcedônia. Na declaração atanasiana Cristo é chamado de “Deus perfeito e homem perfeito”. Todos os três membros da Trindade são considerados não feitos e, portanto, coeternos. Também depois das afirmações anteriores, é declarado que o Espírito Santo procedeu tanto do Pai “e do Filho”, o que afirma a chamada cláusula filioque que era tão controversa com a ortodoxia oriental, que até hoje não abraçou a ideia do filioque .

Finalmente, os padrões atanasianos examinaram a encarnação de Jesus e afirmaram que no mistério da encarnação a natureza divina não se transformou em natureza humana, mas a natureza divina imutável tomou sobre si uma natureza humana. Ou seja, na encarnação a natureza divina assumiu uma natureza humana e não houve a mutação da natureza divina em natureza humana.

O Credo de Atanásio é considerado um dos quatro credos oficiais da Igreja católica romana e, novamente, declara em termos concisos no que é necessário crer para ser salvo. Embora tal credo não receba tanta publicidade nas igrejas protestantes, as doutrinas ortodoxas da Trindade e da encarnação são afirmadas pela maioria das igrejas protestantes históricas.

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.

R.C. Sproul
R.C. Sproul
O Dr. R.C. Sproul foi fundador do Ministério Ligonier, primeiro pastor de pregação e ensino da Saint Andrew's Chapel em Sanford, Flórida, e primeiro presidente da Reformation Bible College. Seu programa de rádio, Renewing Your Mind, ainda se transmite diariamente em centenas de estações de rádio ao redor do mundo e também pode ser ouvido online. Ele escreveu mais de cem livros, entre eles A Santidade de Deus, Eleitos de Deus, Somos todos teólogos e Surpreendido pelo sofrimento. Ele foi reconhecido em todo o mundo por sua defesa clara e convincente da inerrância das Escrituras e por declarar a necessidade que o povo de Deus tem em permanecer com convicção em Sua Palavra.