
Coração e mente
setembro 8, 2023
A vocação e o cristão
setembro 13, 2023O fim do nosso vício em difamar

Nota do Editor: Este é o décimo sétimo de 19 capítulos da série da revista Tabletalk: Palavras e frases bíblicas mal compreendidas.
Um amigo próximo na escola foi acusado de furto em uma loja. Nenhuma acusação oficial foi feita, mas rumores espalharam as acusações informais por toda a pequena cidade. Apesar de suas negações, a difamação dos moradores o considerou culpado. Vários meses depois, o verdadeiro perpetrador foi discretamente exposto. Nenhuma desculpa, particular ou pública, foi feita pelas falsas acusações. A maior parte da comunidade continuou a pensar que meu amigo era culpado, embora sua inocência tivesse sido provada.
Há advertências em toda a Bíblia sobre os pecados e os perigos da calúnia e da difamação. Estes não são pecados insignificantes. Paulo escreve poderosamente sobre a depravação da humanidade em Rm 1:28-31:
E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes, cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia.
No meio da fala sobre maldade, assassinato, crueldade e ódio a Deus, Paulo fala de calúnia e difamação. Esses dois atos maliciosos não são considerados infrações menores aos olhos de Deus. No entanto, a calúnia, e em particular a difamação, é livremente praticada todos os dias, como se tivéssemos licença para fazer tal mal.
Então, o que é calúnia e como é diferente da difamação? Calúnia é uma declaração falsa que prejudica a reputação de uma pessoa. Difamação é conversa inútil que pode ou não ser verdade. Às vezes, desculpamos nossa difamação alegando que estamos apenas repetindo o que sabemos ser verdade. Difamação é compartilhar informações que não devem ser compartilhadas. Pode ser uma informação que consideramos sensacional, mas não é benéfica para as pessoas envolvidas. A palavra grega traduzida por difamação significa “sussurro”. Sussurramos quando difamamos, porque as informações que compartilhamos sobre outra pessoa podem ser íntimas, profundamente pessoais ou ofensivas. Em geral, a difamação é uma notícia que não gostaríamos que fosse compartilhada se fosse sobre nós.
A difamação é um meio de derrubar os outros enquanto nos exaltamos. Fazemos uso de difamações “verdadeiras” para denegrir pessoas de quem não gostamos: “Veja, disse a você que tipo de pessoa ele é”. Fazemos uso da difamação para justificar nossas próprias posições: “Veja, isso valida o que eu disse a você.” Fazemos uso da difamação para sermos a fonte irrefutável de informações importantes. Queremos ser os primeiros a ter a distinção de anunciar as últimas novidades ao nosso grupo de amigos. Independentemente de nossa interpretação, Deus classifica isso como um pecado terrível, listado com o que consideramos o pior dos males. Sou grato que os editores do Tabletalk me pediram para escrever sobre este assunto, porque meu estudo me lembrou de minha própria culpa em ceder frequentemente a esta arte obscura na qual minha língua serve a propósitos satânicos.
Como, então, nos guardamos desse pecado insidioso? O que devemos fazer quando ouvimos difamações? O que devemos fazer para evitar que nos tornemos um canal de difamação?
Devemos primeiro procurar saber a veracidade do que ouvimos. Se não é verdade e nós o repetimos, então nosso pecado é multiplicado em calúnia. Se for verdade, podemos nos tornar um canal de graça para a pessoa que pecou ou um canal de conforto para a pessoa que foi prejudicada. Se a difamação não for verdadeira, devemos falar com a pessoa que nos comunicou a mentira. O propósito de buscar a verdade nunca deve ser para que você possa transmitir a difamação com a consciência tranquila.
Em segundo lugar, devemos nos perguntar: “Nossa fala é uma bênção para o mundo ao nosso redor? Nossas palavras promovem consolo, cura e paz?”. O escritor de Provérbios expressou: “Palavras agradáveis são como favo de mel: doces para a alma e medicina para o corpo” (16:24). O Espírito Santo deve encher nossos discursos diários com amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade e gentileza, não com difamação. Isso significa fazer a nós mesmos várias perguntas importantes antes de falarmos. Que bem será alcançado com as informações que estou prestes a compartilhar? Esta informação é melhor mantida em sigilo? Como o compartilhamento dessas informações reflete em minha própria integridade?
Depois de escrever estas palavras, sinto-me tentado a dizer: “Farei apenas um voto monástico de silêncio”. Mas tal voto me impediria de falar palavras de ajuda, conforto, cura e advertência, sim, palavras de advertência às vezes são uma resposta necessária e sagrada. Grande dano tem sido causado por cristãos bem-intencionados quando retêm informações necessárias em situações cruciais. Precisavam falar a verdade com amor para ajudar pessoas responsáveis a tomar decisões corretas. Mas não querendo compartilhar informações negativas, ficaram em silêncio. Às vezes somos chamados a fazer uma avaliação de um grupo ou indivíduo. Decisões importantes serão baseadas em nosso testemunho solicitado. Tais avaliações não são difamações. Deixar de falar a verdade nessas situações pode ter efeitos devastadores.
Caro leitor, controlar nossas conversas não é algo fácil. Devemos memorizar estas palavras de Tiago:
Pois toda espécie de feras, de aves, de répteis e de seres marinhos se doma e tem sido domada pelo gênero humano; a língua, porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado de veneno mortífero. Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela, amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus (3:7–9).
A difamação é uma tentação diária e só é conquistada por meio de uma intenção constante e focada, capacitada pelo Espírito Santo. Seremos muito ajudados se pegarmos nossa difamação e a dissermos a Jesus em oração. Quando contamos nossas difamações a Jesus, é provável que o ouçamos perguntar: “Vocês não praticam exatamente as mesmas coisas?” (veja Rm 2:1).
Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.