O homem na relação de aliança com Deus 
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O homem na relação de aliança com Deus 

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Nota do Editor: Este é o quarto de 13 capítulos da série da revista Tabletalk: A doutrina do homem.

Desde o dia em que Deus criou Adão e Eva, eles estavam em um relacionamento de aliança com Ele. Assim como um peixe vive na água para cumprir sua função dada por Deus, os seres humanos vivem em um relacionamento de aliança com Deus para que possam cumprir a função que Deus lhes deu. Embora a palavra “aliança” não ocorra em Gn 1 – 3, os elementos de uma aliança estão presentes. Assim como a palavra “aliança” não ocorre no estabelecimento da aliança davídica em 2 Sm 7, mas Sl 89 e 132 se referem a ela como um relacionamento de aliança, também Os 6:7 se refere ao relacionamento de Deus com Adão como uma aliança. A Confissão de Fé de Westminster 7.1 fala da distância entre Deus como Criador e Suas criaturas como algo tão grande que Deus condescendeu voluntariamente em entrar em um relacionamento de aliança. Essa linguagem não significa que um relacionamento natural entre o Criador e a criatura estava ausente de um relacionamento de aliança, mas uma aliança era necessária para que houvesse um relacionamento frutífero entre Deus e Suas criaturas. A condescendência voluntária de Deus refere-se à Sua benevolência em prover tudo o que Suas criaturas precisavam para florescer. Portanto, embora devêssemos obediência a Ele como nosso Criador, Deus providenciou uma aliança para a expressão mais completa de um relacionamento abençoado com Ele.

As bênçãos de Deus para Adão e Eva estão em plena exibição em Gn 1 – 2. Ele providenciou tudo o que eles precisavam para cumprir o mandato que lhes havia dado para serem frutíferos, multiplicarem-se, encherem a terra e subjugá-la (Gn 1:28). Ele lhes deu comida e água, um belo lugar para viver, trabalho expressivo, companheirismo no casamento e comunhão regular com Ele. Ele também entrou em um relacionamento de aliança com eles que poderia levar a uma bênção maior.

Vários elementos da aliança são refletidos em Gn 1 – 3. Deus tomou a iniciativa de suprir tudo o que Adão e Eva precisavam e estabeleceu os termos da aliança. Ele lhes deu uma ordem que os proibia de comer de uma das árvores do jardim, a árvore do conhecimento do bem e do mal. Veio com uma pena de morte se desobedecessem. Também foi colocada diante deles a árvore da vida: a recompensa pela obediência. Esses são elementos comuns de um relacionamento de aliança no qual bênçãos são prometidas pela obediência e maldições pela desobediência. Este foi um teste probatório que poderia ter levado a uma maior bênção de vida ou à pena de morte. Adão e Eva foram capazes de guardar este mandamento em obediência a Deus. Foram criados em um estado de santidade positiva e não estavam sujeitos à lei da morte, mas existia a possibilidade de pecar. Se tivessem passado no teste, teriam sido recompensados com a vida eterna, o que tornaria impossível o pecado.

Os relacionamentos de aliança são baseados no princípio representativo. Adão é o representante da aliança, então suas ações afetam aqueles a quem ele representa. O hebraico adam não significa apenas o nome pessoal Adão, mas também o nome genérico para a humanidade (usado em Gn 1:26-28). Adão foi criado primeiro (1 Tm 2:13-14), e quando Deus confrontou Adão e Eva no jardim por causa de seu pecado, Ele falou primeiro com Adão, embora Eva tivesse desobedecido a Deus antes de dar o fruto a seu marido. Adão foi considerado responsável por sua desobediência. Seu pecado afetou a si mesmo (Gn 3:7), seu relacionamento com Eva (v. 16), seu relacionamento com Deus (v. 8), a criação (vv. 17-19), seus filhos (4.1-11), e todos os que são naturalmente descendentes dele, como demonstrado no refrão “e morreu” na genealogia de Gn 5 e a propagação da maldade sobre a terra antes do dilúvio (Gn 6:5).

A Confissão e os Catecismos de Westminster chamam a aliança com Adão de “aliança de obras” e “aliança de vida”. Outros o chamam de “aliança da criação”. O termo “aliança da criação” expressa as questões mais amplas relacionadas ao mandato que Deus deu à humanidade em Gn 1:26-28. A entrada do pecado impediu a capacidade da humanidade de cumprir esse mandato, mas o mandato ainda está em vigor. A designação “aliança da vida” enfatiza a bênção da vida que seria o resultado da obediência de Adão. O nome “aliança de obras” enfatiza o que está no cerne do teste probatório que Deus deu a Adão. Embora alguns reajam negativamente ao termo “obras”, porque é jurídico e parece frio para eles, é uma palavra importante que expressa nossa esperança final de salvação.

Quando Adão desobedeceu a Deus, o pacto de obras chegou ao fim formal. Adão e Eva foram proibidos de comer da árvore da vida e foram expulsos do jardim (3:23-24). No entanto, a exigência da aliança de obras para guardar perfeitamente a lei de Deus continua. Se a punição de quebrantar a aliança de obras se estende a todos os descendentes de Adão, então o mesmo acontece com a obrigação de guardar a lei perfeitamente, o que os pecadores são incapazes de fazer. Não haveria esperança de salvação a menos que Deus agisse para restaurar Suas criaturas caídas para Si mesmo.

Deus mostrou a Adão a graça redentora, porque seu pecado trouxe ao mundo a maldição da morte. Deus fez para Adão e Eva roupas de pele para substituir seus próprios esforços para se vestir com folhas de figueira. Esta provisão é um prenúncio da necessidade do derramamento de sangue, um sacrifício substitutivo para pagar pelo pecado. Deus não apenas amaldiçoou a serpente, mas prometeu enviar alguém da descendência da mulher para derrotar a serpente. Até então, o que existe é a hostilidade de guerra entre as duas descendências. Detalhes sobre Aquele que viria da semente da mulher são desenvolvidos ao longo do Antigo Testamento, levando à vinda de Cristo, nosso Mediador. A aliança da graça é o começo da graça redentora de Deus, à qual Adão respondeu com fé chamando sua esposa de Eva, porque ela era a mãe de todos os seres humanos (3:20). Adão expressou fé nas promessas e provisões de Deus de que a vida continuaria e que Deus faria o que havia prometido.

Na nova aliança, Jesus Cristo cumpriu todas as promessas da aliança da graça que Deus havia revelado ao longo das alianças individuais do Antigo Testamento (com Noé, Abraão, Moisés e Davi), e também cumpriu a obrigação da aliança de obras para guardar a lei de Deus perfeitamente. Paulo mostra em Rm 5:12-21 como Cristo cumpriu o pacto de obras que Adão quebrantou. Adão e Cristo não agem apenas para si mesmos, mas suas ações têm implicações para aqueles a quem representam. A apresentação de Paulo de Adão e Cristo como cabeças federais (aliança) sustenta a visão de que o relacionamento de Deus com Adão em Gn 1 – 3 é um relacionamento de aliança. A desobediência de Adão transgrediu a aliança das obras e trouxe as consequências do pecado para a boa criação de Deus, incluída a morte. A transgressão de Adão levou à condenação de todos os que descendiam naturalmente dele (Rm 5:18) porque seu pecado foi imputado a eles. Como expressa Paulo, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores (v. 19). A desobediência de Adão como nosso representante afeta nossa posição legal. Seu pecado foi imputado contra nós no sentido de que foi cobrado em nossa conta legalmente (ou seja, imputado). Mas também somos condenados, porque somos incapazes de cumprir a obrigação contínua de obedecer à lei de Deus de forma perfeita. Nossas próprias obras não podem ser a base da salvação.

A fé em nossas próprias obras leva ao desespero, porque continuamos a quebrantar a lei de Deus. A beleza do evangelho é que Deus proveu Seu próprio Filho como o Mediador da aliança que obedeceu toda a justiça. Ele guardou a lei perfeitamente e, com base em Sua obediência, podemos ser declarados justos pela fé somente nEle. Paulo enfatiza que este é um dom gratuito dado pela graça de Jesus Cristo (Rm 5:15) que traz a justificação (Rm 5:16). Onde Adão falhou, Cristo teve sucesso. O pecado de Adão foi imputado aos seus descendentes naturais; a justiça de Cristo é imputada a todos aqueles que têm fé nEle. Quando contemplamos as obras de nosso Salvador em nosso favor e conhecemos os efeitos de Sua obediência para nossa justificação, como nosso coração pode não ser aquecido pela beleza e glória do que Cristo fez por nós? Somos salvos por obras, não nossas, mas pelas obras de Cristo. Contemplar as obras de Cristo deve nos dar grande conforto tanto na vida quanto na morte.

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.

Richard P. Belcher Jr.
Richard P. Belcher Jr.
O Dr. Richard P. Belcher Jr. é professor titular John D. e Frances M. Gwin de Antigo Testamento e reitor acadêmico no Reformed Theological Seminary em Charlotte, Carolina do Norte, e presbítero na Presbyterian Church in America. Ele é autor de vários livros, entre eles The Fulfillment of the Promises of God: An Explanation of Covenant Theology [O cumprimento das promessas de Deus: uma explicação da teologia do pacto].