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Nota do Editor: Este é o décimo terceiro de 16 capítulos da série da revista Tabletalk: Artigos selecionados Ligonier.
Ao longo do século XX, não era incomum que indivíduos associassem a doutrina da eleição à João Calvino de forma que se concluía erroneamente que o conceito de eleição se originou com ele. Longe de encontrarmos suas origens no reformador de Genebra, a doutrina da eleição há muito tempo ocupa um lugar na história da igreja, pois é ensinada em todo lugar na Escritura. O teólogo do período patrístico da igreja, Agostinho, em seu tratado sobre João 15:15-16, apelou para o ensino claro de Romanos 11:5-6 em relação à doutrina da eleição. Ele escreveu:
O que foi então que Deus escolheu naqueles que não eram bons? Pois eles não foram escolhidos por causa de sua bondade, a medida em que não podiam ser bons sem serem escolhidos. Caso contrário, a graça não é mais graça, se mantivermos a prioridade do mérito. Tal, certamente, é a eleição da graça, da qual o apóstolo diz: “Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça”. Ao que ele acrescenta: “E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça”.
Agostinho estava enfatizando a importância da natureza imerecida da eleição. Deus não escolheu aqueles que Ele salvaria através de Cristo por conta de algo neles pelo qual pudessem merecer tal salvação. Deus não previu algo naqueles que Ele salva que o tenha movido a escolhê-los. Deus nem mesmo os escolheu por conta de Cristo. Em vez disso, os escolheu embora não tivessem nada por merecer a Sua graça e tenham, na verdade, desmerecido Seu favor. A ideia de eleição imerecida está encapsulada no acrônimo calvinista TULIP sob a designação de eleição incondicional (o U na TULIP). Mas o que os teólogos reformados querem dizer quando falam da natureza incondicional da eleição? O Dr. R.C. Sproul define eleição incondicional da seguinte maneira: “A visão reformada da eleição, conhecida como eleição incondicional, significa que Deus não prevê uma ação ou condição da nossa parte que o induz a nos salvar. Antes, a eleição faz parte da decisão soberana de Deus em salvar quem seja que o aprouver salvar”.
O termo incondional pode ser um tanto dúbio. Ele não significa que não há causa para a graça eletiva de Deus, Em vez disso, simplesmente significa que não há causa ou condição em nós. As Escrituras deixam claro que a condição (se pudermos falar disso desta forma) da eleição de Deus do Seu povo é o mero “beneplácito de sua vontade” (Ef 1:5). Como o teólogo reformado Francis Turretin explica: “A eleição foi criada do beneplácito da vontade de Deus… beneplácito da vontade exclui toda causa fora de Deus pela qual a eleição possa depender”. Neste sentido, podemos falar de uma condição ou causa da eleição em Deus somente. Entretanto, isso também significa que não há nenhuma outra causa ou condição para a graça eletiva de Deus fora de Si mesmo.
Reconhecer a natureza incondional da eleição é vital se quisermos chegar a um entendimento da grandeza da graça de Deus. Deus não confere Sua graça sobre nós por causa de alguma bondade em nós, seja passada ou futura. Na verdade, a Escritura descreve a depravação do homem da maneira mais direta possível quando diz:
Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer (Rm 3:10-12)
A primeira doutrina representada no acrônimo TULIP dita o curso lógico para esta doutrina subsequente da eleição incondicional. A doutrina da depravação total (talvez melhor denominada como depravação generalizada) é necessária para a eleição incondicional. Uma vez que merecemos justamente a ira de Deus e não temos esperança sem a graça salvífica de Jesus Cristo (Ef 2:1-3), nossa salvação deve depender inteiramente da graça eletiva de Deus.
Muitas tentativas foram feitas para descreditar a doutrina da eleição incondicional. Teólogos semi-pelagianos (arminianos) insistem que Deus escolheu um povo para salvar antes da fundação do mundo após olhar pelo corredor do tempo e observar a decisão que eles fariam ao confiar em Cristo. Nesta proposta, Deus não sabe tudo que Ele fará. Ele aprende algo que não sabia de antemão. A doutrina bíblica da eleição está forjada na presciência de Deus, não no aprendizado prévio de Deus (ver Rm 8:29; 11:2).
A doutrina da eleição incondicional é uma das mais preciosas sobre a salvação de Deus. É o fundamento do nosso entendimento da graça, a garantia da aplicação da redenção e razão para louvarmos a Deus pela glória da Sua graça. Adicionar qualquer condição fora de Deus muda a própria natureza dessas dádivas e tira a glória de Deus e dá à criatura.
Este artigo foi publicado originalmente na Ligonier Ministries Blog.