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Onisciência

Nota do Editor: Este é o oitavo de 16 capítulos da série da revista Tabletalk: Atributos de Deus mal compreendidos.

Quantas vezes, ao refletir sobre seu passado, você disse: “Eu gostaria de saber o que sei agora”? Uma condição do ser humano é que, em determinado momento, não sabemos tudo o que há para saber e, se todas as nossas capacidades estiverem funcionando corretamente, saberemos “mais” ao longo de nossas vidas. O fato de muitas vezes querermos saber mais e dedicarmos tanta energia à educação indica que o conhecimento é “um bem”. Ou seja, é muito valioso e benéfico para a vida, é um ingrediente de sabedoria pelo qual vivemos. Ganhar mais provavelmente melhora as condições de nossa humanidade.

Mas o fato de que muitas vezes queremos saber mais e podemos saber mais ao longo de nossas vidas, e o fato de que podemos, infelizmente, perder conhecimento, significa que o conhecimento humano é dinâmico, mas limitado. Mesmo as pessoas mais inteligentes que conhecemos, que com pouco esforço aparente conhecem fatos interessantes e entendem teorias complexas, ainda tiveram que “aprender” tais informações. O conhecimento humano, inclusive o conhecimento humano mais brilhante, não é pleno, não é onisciente e requer esforço.

O mesmo não acontece com Deus. Começar com algumas reflexões sobre o conhecimento humano destaca isso, porque muitas vezes nosso conhecimento dos atributos de Deus, especialmente os incomunicáveis, chega até nós por meio da negação de algo sobre eles em comparação a nós. Ou seja, Deus é tão grande, tão poderoso e Sua natureza é tão diferente da nossa que, para falar de como Ele é, devemos começar com o que Ele não “é”. O próprio Deus fala assim nas Escrituras: “Porque eu, o Senhor, não mudo” (Ml 3:6).

A. W. Tozer definiu a onisciência de Deus de forma breve: “Dizer que Deus é onisciente é dizer que Ele possui conhecimento perfeito e, portanto, não precisa aprender. Porém é mais: é afirmar que Deus nunca aprendeu e não pode aprender.”

O que mantemos imperfeitamente, Deus retém perfeitamente. Sugerir que Deus não poderia saber algo é rejeitado pelas Escrituras como um absurdo: “O que fez o ouvido, acaso, não ouvirá? E o que formou os olhos será que não enxerga?” (Sl 94:9). O conhecimento de Deus é perfeito ou completo. Se você me perguntar algo sobre Toledo, Ohio, posso dizer muito; é onde cresci. Se você me perguntar sobre o país de Luxemburgo, posso dizer muito pouco; pois nunca estive lá. O conhecimento humano conhece alguns elementos melhor do que outros. Deus conhece tudo igualmente bem. Não há eureka! com Deus: Ele nunca descobre, nunca é surpreendido, nunca aprende. Isso se aplica a tudo: “Não se pode esquadrinhar o seu entendimento” (Is 40:28). Mas a Escritura enfatiza especialmente Seu conhecimento dos seres humanos: “E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas” (Hb 4:13)

O conhecimento de Deus não é uma questão de volume absoluto, como se Seu conhecimento fosse maior e perfeito porque Ele conhece mais do que nós. Deus conhece como Deus, quem está fora do tempo, não precisa de nada e não depende de ninguém. Agostinho declarou: “Deus não conhece todas as criaturas… porque elas existem; elas existem, porque Ele as conhece.” Em outras palavras, o fato de Deus saber algo não depende do que fazemos. Espero conhecer meus netos algum dia, mas isso não acontecerá até que meus filhos pequenos os tenham. Meu conhecimento humano é limitado com o decorrer do tempo. Nos últimos trinta anos, um ensinamento conhecido como “teísmo aberto” afirmou algo semelhante, mas atribuiu isso a Deus.

Os teístas abertos tentam esculpir um lugar importante para a liberdade da vontade humana e, para isso, dizem que Deus não conhece nossas ações futuras, mas como Ele vive conosco, as descobre como nós as fazemos. Isso é um erro sério. É tornar o conhecimento de Deus dependente da criatura e do curso da história. Em vez disso, como Aquele que está fora do tempo, Deus conhece tudo ao mesmo tempo: “Ele conhece tudo de forma instantânea e simultânea, desde a eternidade, tudo está eternamente presente em Sua mente”, escreve Herman Bavinck. Este conhecimento inclui todas as possibilidades, porque em Sua divina providência Deus ordenou como tudo aconteceria (Sl 139:16), até a queda de um pardal no chão (Mt 10:29). Entender corretamente a onisciência de Deus ajuda a discernir erros teológicos como o teísmo aberto.

De forma mais positiva, a onisciência de Deus traz conforto ao Seu povo e potencializa sua adoração. Podemos ser tentados a pensar que o conhecimento incompreensível de Deus cria distância entre Ele e Seu povo. Muito pelo contrário. No Salmo 139:1-18, o salmista considera o conhecimento mais profundo e íntimo que Deus tem dele como “precioso” (v. 17). Por quê? Porque ele sabe que nosso Deus da aliança é misericordioso, compassivo e justo (Sl 116:5-7). William Ames expressou isso profundamente: “A fé se apóia naquele que sabe o que é necessário para nós e também está disposto a supri-lo.”Além do conhecimento que Deus “tem de nós”, Deus tem um conhecimento perfeito “de Si mesmo”. Nosso próprio conhecimento dEle depende disso, pois se Deus não conhecesse a Si mesmo, Ele não teria nada para nos revelar. Graças a Deus, Ele conhece a Si mesmo — Pai, Filho e Espírito Santo — perfeitamente: “Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11:27) Assim como o Pai e o Filho se conhecem plenamente, assim também o Espírito perscruta “as profundezas de Deus” (1 Co 2:10). Porque se conhecem de forma perfeita na natureza divina, há uma plenitude e riqueza infinitas no amor e na alegria compartilhada entre as pessoas da Trindade. É o mesmo amor e alegria que Deus graciosamente nos abre no evangelho, que quando recebido por nós nos leva a cantar em amor: “Imortal, invisível, o único Deus sábio, em luz inacessível oculto aos nossos olhos”.

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.

D. Blair Smith
D. Blair Smith
O Dr. D. Blair Smith é professor assistente de Teologia Sistemática no Reformed Theological Seminary em Charlotte, na Carolina do Norte.