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outubro 30, 2023
Onisciência
novembro 3, 2023Onipotência

Nota do Editor: Este é o sétimo de 16 capítulos da série da revista Tabletalk: Atributos de Deus mal compreendidos.
A Escritura proclama que Deus é “o Poderoso, o Deus, o Senhor” (Js 22:22), Aquele que possui um poder tão ilimitado que é conhecido entre os atributos de Deus como sua “onipotência”, do latim omni (todo) e potentia (poder). Este atributo é idêntico ao ser glorioso de Deus conforme é revelado em certas circunstâncias. Ele pulsa através de Seus nomes, como “Senhor” (Sl 2:7) e o “único Soberano” (1 Tm 6:15). Isso ressoa nas descrições antropomórficas da Escritura de Sua “destra” (Êx 15:6) e braço “armado de poder” (Sl 89:13). E é revelado em Suas obras de criação (Jr 51:15), providência (At 17:25), redenção (2 Pe 1:3), julgamento (Rm 9:17) e consumação de todas as coisas (Fp 3:21). Em resumo, porque Deus é Deus, Ele é imutável e eternamente onipotente.
Apesar da simplicidade dessa verdade bíblica, equívocos podem surgir. Vamos considerar duas perguntas que ocasionalmente recebem respostas equivocadas. Em primeiro lugar, a onipotência de Deus significa que Deus pode fazer “qualquer coisa”, ou dito de outra forma, existe algo que Deus não pode fazer? Em segundo lugar, como as Escrituras reconciliam a onipotência de Deus com a realidade do mal?
O ALCANCE DA ONIPOTÊNCIA DE DEUS
Em resposta à primeira pergunta, a Escritura afirma que Deus pode fazer muito mais do que Ele determinou fazer no mundo. Como Jesus declarou: “Acaso, pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos?” (Mt 26:53) Deus é capaz de levantar filhos de Abraão das pedras (3:9). Na verdade, Ele “é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos” (Ef 3:20). Então, quando Deus pergunta a Jeremias: “Haveria coisa demasiadamente maravilhosa para mim?” (Jr 32:27), a resposta certa é não, pois nada é impossível para Deus (veja Lc 1:37). Portanto, devemos louvar a Deus pelo que Ele decidiu fazer, não porque Ele não possa executar outra ação, mas porque o que Ele quis fazer é o melhor, precisamente porque Ele quis.
Mas o poder absoluto de Deus significa que Deus pode fazer literalmente o que quiser? Se assim for, alguns argumentam, o atributo de onipotência de Deus apresenta um enigma. Se Deus pode realizar qualquer ação, então o argumento continua, isso significaria que Ele pode criar uma rocha tão pesada que nem mesmo Ele pode levantá-la, ou então Ele não pode criar algo tão grande que esteja além de Sua força, ambas as opções sabotam Sua onipotência. O problema com tais especulações é que a onipotência de Deus implica que Ele só pode fazer o que é logicamente possível. Mas agora surge outra questão: as leis da lógica estão acima de Deus, restringindo-o com uma gama limitada de opções entre as quais Ele deve escolher para exercer Seu agora menos do que ilimitado poder? De modo algum, visto que o que é lógico não é definido por nós, mas pela vontade e o próprio caráter santo de Deus. Portanto, é impossível que Deus minta (Hb 6:18) ou mude (Tg 1:17) ou negue a Si mesmo (2 Tm 2:13) ou tente alguém com o mal (Tg 1:13). Em suma, ao exercer Sua onipotência, o próprio Deus define o que é possível, e Ele quer tudo o que Ele faz de acordo com Sua natureza santa, livre e perfeitamente, e tudo para Sua glória.
Quando vista com esse entendimento, a onipotência de Deus brilha como o tipo mais glorioso de poder ilimitado. Como ensinou Anselmo de Cantuária, a capacidade de trapacear, iludir ou se contradizer não é poder algum, mas uma espécie de fraqueza. Porque Deus não tem fraquezas, o fato de Deus não poder gerar contradições ou mudar quem Ele é não degrada Sua onipotência, mas a manifesta. Nas palavras de Charles Hodge: “Certamente não é uma limitação à perfeição dizer que ela não pode ser imperfeita.” Portanto, a onipotência de Deus é a expressão gloriosa de Sua total perfeição e absoluta soberania. O Catecismo para Crianças capta a maravilha dessa realidade quando pergunta: “Deus pode fazer tudo?” A resposta: “Sim, Deus pode fazer toda a Sua santa vontade”.
A ONIPOTÊNCIA DE DEUS SOBRE O MAL
Isso nos leva à segunda pergunta: o poder de Deus é reconciliável com a realidade do mal? Se Deus, por Sua onipotência, pode manifestar apenas Seu caráter santo e bom, como pode haver mal no mundo? Às vezes, os gritos muito pessoais e de partir o coração de crentes e descrentes (“Como Deus pôde permitir que isso acontecesse?”, “onde estava Deus quando isso aconteceu?”) levam a dúvidas ou até negações da onipotência de Deus. Isso apresenta uma versão do chamado problema do mal: se Deus é totalmente bom e o mal existe, então Deus não pode ser Todo-Poderoso.
Porém, mais uma vez uma suposição oculta impulsiona esse desafio à onipotência divina. O argumento assume que um Deus bom e onipotente sempre agiria de imediato para impedir todo o mal. Mas a Escritura ensina tanto que Deus ordenou o que é mau (embora o homem, não Deus, permaneça responsável por isso; Ec 7:29) e que Ele o fez, em parte, para revelar Seu poder sobre o mal, até mesmo para cumprir Seus bons propósitos por meio dele (p. ex. Gn 50:20). Isso não é apenas uma afirmação piedosa superficial. É a confiança solene e o grande consolo de todo humilde cristão diante das adversidades, decepções e tragédias desta vida. Deus é onipotente e totalmente bom. Confiar que ambos são verdadeiros é motivo de esperança e encorajamento para todo coração crente.
A ONIPOTÊNCIA E O EVANGELHO
A revelação central e mais impressionante do caráter totalmente santo de Deus por meio de Sua onipotência sobre o mal é encontrada no evangelho de Jesus Cristo. Quando Jesus curou o coxo, parou o vento, abriu os olhos dos cegos e ressuscitou vitorioso sobre a morte, Ele se mostrou o “poder de Deus e sabedoria de Deus” (1 Co 1:24). Ele continua Sua obra onipotente ao ressuscitar os corações daqueles a quem o Pai irresistivelmente atrai para Si, e Ele completará essa obra salvadora neles no dia em que ressuscitar Seu povo à glória imperecível (Jo 6:44). E quando Ele julgar o mundo, recriar o cosmos e trazer o céu à terra, o coro reunido de santos cantará sobre Seu poder: “Aleluia! Pois reina o Senhor, nosso Deus, o Todo-Poderoso” (Ap 19:6).
Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.