Portas

portas

Nota do Editor: Este é o décimo segundo de 19 capítulos da série da revista Tabletalk: Palavras e frases bíblicas mal compreendidas.

Imagine por um momento que você, como Simão Pedro, é um judeu comum e fiel, que espera a “consolação de Israel” e vive durante o tempo do ministério público de Jesus. Você já viu muito nessa vida: milagres, maravilhas e ensinamentos magistrais. Quem é esse Jesus? Ele deve ser mais do que um profeta. Ele é ainda maior do que Moisés. Pedro chega à conclusão inevitável: Ele deve ser o Messias, o Rei prometido, o Ungido que restauraria o reino de Deus na terra. Sim, Jesus diz, e “tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16:18).

A pequena palavra “portas” evoca uma imagem, ou melhor, uma rede de imagens, experiências e associações, muitas das quais podem ser perdidas para o leitor moderno. Enquanto Pedro medita nesta palavra profética, sua imaginação projetará uma guerra cósmica entre dois reinos, aquele sitiado, construído de morte e escuridão e protegido por uma grande porta trancada. O outro triunfante, construído com pedras vivas e cercado por portões escancarados, que convida a multidão a desfrutar de sua paz e luz.

Talvez sua imaginação fosse mais escassa em suas reflexões, um breve passeio pelas “portas” na Bíblia nos ajudará a visualizar melhor a vitoriosa Cidade de Deus.

O leitor moderno está em desvantagem quando se trata da descrição metafórica das “portas” do inferno. As metáforas geralmente se baseiam na experiência vivida, e a maioria das cidades modernas não tem mais portões em nenhum sentido literal. A palavra “portas” não desencadeia mais imediatamente para nós o mesmo conjunto de associações que teria para um leitor antigo. As cidades antigas precisavam de proteção contra seus arredores, e por isso a maioria das cidades terminava com algum tipo de muro circundante (Dt 3:5). Os portões dessas paredes atuam como um local centralizado de entrada e saída, e isso, por sua vez, os torna um local adequado para encontros e conversas (2 Sm 15:2; Sl 69:12), um mercado central (2 Rs 7:1), um local para anúncios públicos e proclamações legais (Rt 4), e o local privilegiado para reuniões e celebrações comunitárias (Jz 5:11). Em suma, o “centro da cidade” ou “praça pública” no Mundo Antigo geralmente não ficava no centro da cidade, mas na periferia da cidade, em seus portões. O portão simboliza a própria cidade, representa o povo, a cultura, o status, a proeminência e a vida da cidade. Assim, quando Deus promete a Seu povo segurança, paz e prosperidade, está prometendo a eles uma cidade com muros altos e portões fortes (Ap 21:9-27).

Então é interessante que a descrição que Deus nos oferece da cidade celestial tenha seus portões escancarados. “Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória” (Sl 24:7). O salmista está falando aqui do santuário de Deus, descrevendo-o como uma espécie de cidade. Quando o Rei entra na cidade, os portões são abertos para recebê-lo. O tom é comemorativo e vitorioso. “O Senhor dos Exércitos” entrou na cidade (Sl 24:10), Ele protegerá seus muros e garantirá sua segurança. O Apocalipse é ainda mais enfático. Os altos muros da nova Jerusalém são pontuados por uma dúzia de portas (isso é muito) que “nunca jamais se fecharão de dia, porque, nela, não haverá noite” (Ap 21:25; veja Js 2:5). De fato, os portões estão sempre abertos, o que proporciona acesso livre e desimpedido para que todos possam trazer para Ele “a glória e a honra das nações” (Ap 21:26). Tantos portões! E eles estão sempre abertos? Essa é uma demonstração impressionante e descarada de confiança, segurança, paz e companheirismo.

Em contraste, os portões do inferno estão fechados. O diabo quer que pensemos que isso é um sinal de força, mas na realidade é o medo que bloqueia esses portões. “As portas do inferno não prevalecerão” contra Cristo e Sua igreja. Nesta imagem, a cidade de Satanás está sitiada, seus portões desmoronando diante das hostes do céu e do povo de Deus (veja Ap 12). Entendido corretamente, o inferno não é uma poderosa fortaleza ou uma cidade próspera, é uma “prisão” (20:7), e quando esta cidade-prisão for finalmente destruída, seus cidadãos demoníacos serão lançados “no lago de fogo”, e não poderão mais prejudicar ou impedir o abençoado povo de Deus (v. 10). Louvado seja Deus! Vem, Senhor, depressa! “Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória” (Sl 24:7).

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.

Thomas Keene
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O Dr. Thomas Keene é professor associado de Novo Testamento e deão acadêmico no Reformed Theological Seminary em Washington, D.C.
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